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set/2017

jaemin nunca sentira as tais borboletas no estômago. nunca olhara nos olhos de alguém e sentiu um instinto de compará-los à algo puro e belo. nunca se arrepiara por um simples toque de outra pele na sua, muito menos se perguntara se o dono daquela pele era mesmo real ou apenas fruto de sua imaginação.

a vida de na jaemin passava a quilômetros de distância dos clichês. nenhum momento vivenciado pelo garoto poderia se comparar a alguma página de algum dos milhões de romances publicados no mundo todo.

jaemin sempre se envolveu com arte. sua família era fruto de vários artistas, sendo eles atuantes de diversas áreas. pintura era algo que o fascinava de uma maneira que nenhuma outra coisa jamais conseguiria. às vezes, o menino juntava suas tintas, pincéis e papéis para tentar fazer uma pintura. entretanto, não sentia verdade nelas. não aquela verdade que percebia em pinturas de outros artistas, onde o sentimento do autor da obra durante a criação da mesma era óbvio e, só de analisar por poucos minutos, se infiltrava em quem a estava observando, trazendo emoções diversas.

mesmo sentindo que não tinha algo em sua vida que o inspirasse para pintar, continuava apaixonado com aquelas imagens. por isso, quando soube que haveria uma exposição artística a poucos quilômetros de sua cidade, se animou. aquilo era algo raro e ele tinha que aproveitar sua oportunidade! comprou sua entrada rapidamente.

a tal exposição tinha como tema objetos messier. não familiarizado com o assunto, fez uma breve pesquisa e descobriu que eram objetos no universo observável catalogados por um astrônomo de nome charles messier. sabendo do básico, não conseguia esconder tamanha excitação que sentia dentro do peito por - finalmente! - conseguir ver obras físicas, não por celular ou outros meios tecnológicos.

o dia chegou e jaemin pegou seu trem para a cidade vizinha, não contendo seu sorriso no rosto. entrou no lugar, este sendo calmo e com decorações de cores neutras. as pinturas estavam penduradas nas paredes brancas, algumas tendo ao lado uma informação sobre ela ou o processo criativo do artista.

olhando para sua esquerda, algo lhe chamou a atenção. o na foi em direção àquele show de cores e descobriu que era uma pintura inspirada numa nebulosa, "nebulosa do anel". nela, havia duas pessoas em um lugar escuro, com cores apenas ao fundo, onde ficava a tal nebulosa com misturas de tons de azul, laranja e amarelo. por um segundo, desejou estar ali dentro, com aquela segunda pessoa, de mãos dadas com a mesma e compartilhando os sentimentos e energias.

estava tão concentrado na imagem a sua frente que nem percebeu uma figura ao seu lado. respirou fundo e sentiu um cheiro fraco de lavanda, provavelmente vindo daquela pessoa.

"é tão bonito..." ouviu uma voz baixa e suave. quando virou seu rosto levemente, percebeu que o menino o olhava e tinha levado um susto com o contato de olhares repentino, como se estivesse sendo pego.

"a pintura, digo... é m-muito bonita." o menino colocou suas mãos pequenas na bochecha, sentindo-as se esquentaram rapidamente.

"realmente..." jaemin respondeu, tentando não deixar óbvio seu divertimento para com a situação. "sinto como se quisesse estar la dentro, ser uma daquelas pessoas."

"mas elas parecem tão solitárias!" murmurou, vendo a expressão do loiro ficar confusa. "desculpe, não entendo muito disso. estou aqui porque sou apaixonado por astronomia... queria tentar algo novo, sabe?"

"não sei, nunca tento coisas novas." riu, porém com um sentimento triste no peito. "qual o seu nome?"

"renjun. digo... huang renjun. o seu é...?"

"na jaemin!" respondeu prontamente. não sabia de onde aquela coragem para conversar com um estranho estava saindo. "você não é daqui, né?"

renjun negou com a cabeça, suas bochechas ainda rosadas, fazendo jaemin sentir dentro de si algumas coisas estranhas, como se seu estômago se estivesse se dividindo em pedaços, mas de um jeito bom.

os dois meninos não trocaram números de telefone, muito menos redes sociais. naquele dia, o chinês e o coreano apenas trocavam sorrisos, sentindo dentro de si que nunca se veriam novamente. "talvez eu acredite em amor à primeira vista, afinal." pensou jaemin horas depois, quando já estava no trem novamente.

l'amour se retrouve ➵ norenminOnde histórias criam vida. Descubra agora