O rosto de Carolina demonstrava sua tristeza e Gabi tentava ignorar que ela em nada colaborou para que a empresária não ostentasse aquela feição. O jogo das plaquinhas fez a dona do brechó perceber que jamais seria uma prioridade para a cantora. Sempre estaria no meio – ou do grupo conhecido por Gaiola ou da ex que Gabriela nunca deixaria de comentar. Era exaustivo, ainda mais pra ela que sempre gostou de ser a número 1.
Suspirou mas logo sorriu porque ela não gostava de ficar triste e para Carolina colocar um sorriso no rosto era mais fácil do que fazer agachamento.
- Mozão, – a voz de Alan ilumina um pouco a cozinha que só acomodava agora os dois e Tereza. – não vai dormir comigo hoje?
Carol ri da voz melosa do surfista. Criou um carinho por ele. O considerava um parceiro ali dentro. Sempre foi mais chegada em ter amigo homem e Alan preenchia aquela vaga na casa.
- Agora não, mozão. – falou com tom doce também e o loiro riu dando um abraço nela e indo em direção ao quarto para descansar.
A morena se sentou na mesa para comer a banana caramelizada que havia feito. Lembrou-se do jogo que os participantes haviam feito um pouco antes de Isabella ser eliminada e de como Gabi se afastara dela depois daquilo. Como tudo havia se complicado entre as duas.
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Estavam todos reunidos para jogarem "Eu Nunca". Sem ter nenhuma bebida alcoólica na casa, cada um deles pegou um copo com suco de goiabada para tomar um shot um tanto quanto diferenciado. As verdades poderiam não sair tão facilmente quanto sairiam se tivessem a sua disposição pelo menos duas garrafas de vodka, mas a brincadeira os divertia.
Foi a vez de Rizia falar alguma coisa para que o restante do grupo bebesse: - Eu nunca beijei alguém do mesmo sexo.
Gabriela riu e brincou que a amiga a queria ver bebada. Carol apenas tomou um gole do suco sem dizer nada. E, surpreendendo até o público que assistia ao PPV daquela noite, Isabella e Elana também beberam. Sem contar, Rodrigo e a dupla Pauriany.
- Mas beijo beijo! – Rizia disse e todos que beberam só dividiram uma risada.
- Minha vez! – Elana cortou aquele momento que já havia, de certa forma, passado. – Eu nunca voltei com o ex.
- Oxê. – Carolina falou, sendo a primeira a tomar um gole da bebida doce. E riu, se lembrando do relacionamento passado. Amou de verdade e como era bom ter superado aquele sentimento.
Gabi também bebeu. Assim como mais três daquele grupo. A cantora era quem tinha que falar alguma coisa e, chateada pelo que aconteceu na festa anterior, apenas disse: - Eu nunca fiquei com vontade de beijar mais de duas pessoas no BBB.
Carolina franziu o cenho. As duas haviam se distanciado depois da festa da Globoplay, mas aquele comentário e o olhar que acabara de receber não faziam o menor sentido para ela; a morena não lembrava nem as combinações de bebida que havia feito ontem, imagina tudo o que dissera. Por outro lado, Gabi não estava muito distante dessa realidade, mas foi bem informada pela fofoca que veio pela boca de Isabella que nem imaginou que a designer gráfico viraria a ciumenta da relação.
Ninguém havia bebido até o momento e Paula já estava pronta para falar outra coisa quando Gabriela a interrompeu: - Não vai beber, Peixinho?
O sobrenome da morena nunca foi dito daquela forma pela mais alta, o que irritou Carolina: - Oxê! Não to entendendo, Gabriela.
A negra também não estava acostumada a ser chamada de "Gabriela" pela empresária mas essa apenas ignorou o que Carolina falou e acenou com a cabeça à Paula como se falasse para ela continuar com a brincadeira.
O jogo durou mais trinta minutos e, ao contrário do que aconteceu no dia da trolagem feita com eles que resultou em declarações, Carolina também fez uma declaração mas a sós e com um tom bem mais rude.
- Eu não entendi o que você quis dizer com aquela afirmação. – a morena falou com o corpo quase grudado no de Gabriela. Não queria que ninguém escutasse àquela conversa.
- Foi você que disse que beijaria o Alan. – a cantora tentou se afastar mas a baiana foi mais rápida ao posicionar a mão sobre a cintura de Gabriela. Um pedido para que ficasse. Carol gostava de ter tudo esclarecido.
- Eu não disse isso.
- Então tá bom, Carolina.
Gabriela se dirigiu ao quarto colorido deixando Peixinho com uma feição indecifrável. Nem Isabella conseguiria dizer se era tristeza, raiva ou dúvida. Tudo era muito novo pra ela. Estar presa numa casa com tantas pessoas diferentes, ter sua intimidade exposta para um público enorme e, especialmente, estar gostando de uma mulher. Este último era o mais complicado pra ela.
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- E aí? Tudo bem? – o timbre rouco foi rapidamente identificado por Peixinho. A mulher na casa dos 30 anos se sentiu num filme da Netflix. Como uma adolescente pensando no crush quando este lhe manda uma mensagem.
- Tudo. E você?
- Também. – sorriu e demorou uma pouco para falar o que queria: – Eu quero que você fique. Você sabe, né?
Aquela frase importava muito pra Carol. E ela sabia que o que Gabi falou era verdade. Qualquer um ali dentro também. Não era surpresa pra ninguém o quanto elas se gostavam; mesmo depois de terem se afastado.
- Eu sei. Obrigada.
Gabriela riu, mas não de felicidade. - Você ficou tão feliz com a minha volta, Peixinho, e eu – sentia o coração batendo tão forte que pousou a mão sobre o peito. – estava tão chateada que nem... – ela deixou a frase assim, talvez por não saber como responder, talvez por não querer colocar em voz alta o que sentia.
- Não precisa disso não, Gabi. Eu gosto de você.
Carol ia se prolongar e dizer que todos ali gostavam de Gabi e que era óbvio que ela ficaria feliz pela volta da cantora mas mais nova a interrompeu.
- Eu sei disso, Carolina, eu também gosto de você mas aí você me beija e em outra festa diz que quer ficar com o Alan. Eu não sei o que sentir.
Não esperava por aquela frase. Ainda mais porque aquele assunto havia sido encerrado por Gabriela quando a mesma parou de conversar com a empresária. Mas ali estavam, conversando sobre algo que não queriam porque doía menos do que não conversarem sobre nada.
- Eu tava bebada quando eu falei de Alan mas eu não tava bebada quando eu te beijei, Gabi.
Gabriela sabia que as pessoas não conseguiam e nem deveriam corresponder às expectativas de ninguém mas, naquele momento, ela só queria escutar outra coisa de Carolina.
- Você não pode culpar só a bebida.
E Peixinho sabia daquilo. Sabia que não podia depositar tudo o que havia falado na conta da vodka. Mas era difícil achar um motivo pelo qual havia dito aquilo. Pra se enganar? Enganar o público de que na verdade o que ela sentia por Alan nem chegava perto do que ela sentia por Gabriela? Carol simplesmente não compreendia.
- Eu sei. – fez um bico e se levantou da mesa pra abraçar a mais alta. – Desculpa.
Carolina acariciou as costas de Gabi enquanto essa apertava a roupa da outra como se tentasse grudar na mais velha. O abraço era tão encaixado que demoraram para se soltar.
- Eu acho que eu deveria falar que posso beijar a Hariany, então. – Gabriela brincou, tentando descontrair mas acabou recebendo um olhar feio de Peixinho. – Só você pode? Isso é injustiça.
A mais velha riu, balançando a cabeça: - Cala a boca, Gabriela.
A designer gráfico assentiu, dando risada também. Soltou o ar pela boca, emitindo um som de decepção pelo que teria que falar: - A gente funciona melhor como amiga, né?
Carol demorou a perceber que Gabi estava falando sério. Só notou naquele momento que talvez o erro que havia cometido não fosse consertável.
- Você acha?
- Sim.
Gabriela disse para finalizar a conversa visto que a última fala ficou apenas na cabeça de Peixinho: "Eu não acho".
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Luz dos olhos.
RomanceEra pra ser só mais uma festa, mas Carolina convida Gabriela para dançar um xote.