Prólogo

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— Diana?

Ela piscou demoradamente ao ouvir seu nome, como se estivesse acordando de um longo sonho.

A luz dourada do horizonte brilhou contra os olhos castanhos enquanto ela tomava um gole do seu café já gelado, buscando uma dose de energia extra para manter as pálpebras abertas. Respirou fundo antes de se virar para o banco do motorista, visualizando a parceira.

— Sim?

Alana arqueou sugestivamente as sobrancelhas e abriu um sorriso morno.

— Não está percebendo nada novo?

Diana respirou fundo antes de dançar o olhar pela amiga, apenas para desviar, desinteressada, segundos depois.

— Cortou o cabelo?

— Não.

— Engordou?

— Não.

— Emagreceu?

— Meu Deus. — A outra riu e balançou a cabeça, incrédula.

O som de sua risada dançou pela cabeça de Diana, vibrando em um timbre que pareceu nostálgico. Era como se houvesse muito tempo que não escutasse aquele riso, como se sentisse falta dele. Não entendeu o sentimento, mas também não o questionou.

— O quê? Dez horas de vigília e agora você quer que eu repare em algo em você?

— Exatamente! — Alana argumentou, divertida. — Você esteve ao meu lado neste carro a madrugada inteira e está me dizendo que não notou nenhuma novidade? — tentou mais uma vez, encarando-a em expectativa.

Diana estralou o pescoço e massageou os próprios ombros, tensos por ter passado tantas horas na mesma posição. O café frio, a caixa de rosquinhas mordidas e o maço de cigarros pela metade evidenciavam uma noite longa de tocaia. Tudo que queria era ir para casa, tomar um banho quente e se enfiar debaixo das cobertas.

Estava claro que o palpite sobre aquela vigília estava errado; nada tinha acontecido durante a noite inteira e, agora, com o sol nascendo ao horizonte, duvidava de que isso fosse mudar. Seguir uma pista poderia tanto levá-la diretamente a uma promoção no trabalho por concluir o caso, como também se tornar uma completa perda de tempo se fosse falsa, um beco sem saída. Mas aquele era um dos menores riscos de sua profissão, uma vez que ela nunca sabia se aquele seria seu último dia de vida.

E se fosse?

Ela teria feito algo diferente?

— Diana? — Alana chamou, insistente. Piscou com exagero para a parceira, esperando que ela continuasse a tentativa de descobrir.

Diana a conhecia por metade de sua vida, então sabia que ela não desistiria do pequeno jogo. Por isso, com certo esforço, virou-se para a loira e a observou atentamente por baixo dos longos cílios.

— Adotou outro gato?

Alana rolou os olhos, impaciente.

— Sinceramente, para uma detetive, você é uma péssima observadora.

— Eu sou uma excelente observadora — discordou, buscando mais um cigarro no pacote amassado. — Para coisas que importam, pelo menos. Como o nosso trabalho.

— Você consegue ser mais desligada que o Jonas, às vezes.

Diana tragou o cigarro, observando a fumaça escapar dos lábios partidos e formar desenhos abstratos no ar através da janela aberta. O dia estava começando calmo e quente, do jeito que ela não gostava. Quando seu cérebro sonolento processou a frase de Alana, ela se virou para a amiga novamente.

Diana - O caso da sala 102Onde histórias criam vida. Descubra agora