Capítulo 48

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  - Qual é o seu problema comigo?

  - Nenhum, Thiago. - nego.

  - É algum fetiche querer me deixar curioso?

Reviro os olhos, embora ele não possa ver minha reação.

  - Não e eu já contei por cima a minha situação. A diferença é que quando estiver presente eu conto detalhadamente.

  - Dizer que é adotada e que ficou alguns dias sem falar com o seu irmão não ajudou em nada. Eu quero saber mais...

  - Eu já disse que pessoalmente te conto.

  - ... Como descobriu... Quem te contou... O porquê de ter se afastado do gostoso vulgo Mathias... Tudo! Exatamente tudo. Detalhe por detalhe.

  - Está bem, eu conto...

  - Jura?

  - ... Quando você voltar da viagem.

  - Ah, Liz.

  - Ah, Thiago. - zombo, imitando o seu tom de voz manhoso.

  - Tudo bem, tudo bem. Eu sobrevivo até lá. Além do mais, com toda certeza vou esquecer disso com tantas distrações que estou tendo por aqui.

Pude sentir a ambiguidade em suas palavras.

  - Flertando com os vizinhos?

  - Vizinhos? Tenho caLizde quem flerta com homens de sessenta anos, casados e com uma ninhada de filhos?

Rio internamente, ao mesmo tempo que agradeço pela mudança de assunto.

  - É prole.

  - O que?

  - O coletivo de filho é "prole", "ninhada" é de filhote.

  - Vem cá, tu virou professora de português, foi? Não estamos na escola.

  - Você não, mas as aulas ainda continuam.

  Ouço-o resmungar do outro lado algo que não entendo.

  - Não generalize, não deve ser todos que tem tudo isso de filhos. - volto ao assunto.

  - A exceção é o sr. Tom que tem setenta e quatro anos, é solteiro e tem um mini capirotinho morando com ele.

  - Por que chama o filho dele de "capirotinho"?

  - É neto. E não há outra forma de chamar uma criança que deixa a vizinhança de cabelo em pé. Eu até acho que algum dia o que tem dentro dele vai se manifestar e ele vai sair decapitando pombos por aí, senão os próprios vizinhos do avô.

Eu não aguento e gargalho alto com seu exagero.

  - E por azar meu, a janela do quarto em que durmo é oposta a do dele. A peste às vezes aparece e fica jogando água com aquela arminha de brinquedo dele. que um dia vou fazer questão de enfiar no buraco que ele ainda não faz noção que possa entrar algo.

Thiago não tem filtro entre o cérebro e a boca, principalmente quando está irritado, e isso acaba sendo, na maioria das vezes, hilário.

  - É apenas uma criança curtindo a infância, Thiago. Deixa de ser um velho rabugento.

  - Na minha época de infância as crianças eram gente, e não um cap... - ele para no meio da fala ao mesmo tempo em que bem ao fundo eu escuto de dois toques na porta, possivelmente de seu quarto.

Um Amor Fraterno (Entrará em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora