Entro na cozinha e o café já está na mesa, uma refeição completa para um batalhão inteiro. Nem preciso tentar adivinhar quem fez tudo isso.
– Mãe? Onde a senhora está ? – pergunto me sentando no balcão e pegando um pedaço de bolo.
– Meu amor, que saudades – minha mãe entra na cozinha enrolada em um roupão e se joga nos meus braços.
– Senti saudades também, fez uma boa viagem? – pergunto e ela se afasta acariciando meu rosto.
– Continua magrinha, não tem se alimentado? – reviro os olhos para seu comentário, é sempre o mesmo.
– Mãe, sua viagem? – a vejo respirar fundo e se sentar ao meu lado.
– Foi tudo ótimo, não consegui convencer seu pai a vim comigo. Aquele velho está cada dia mais ranzinza. – fala se servindo de uma xícara de café.
– Ah e a senhora Dona Vera, não tem nada de ranzinza né? – pergunto sorrindo e ela se engasga com o café.
– Lógico que não. Mas me conte de você, como estão as coisas? Algum namorado?
Há um ano minha mãe insiste que eu preciso de um namorado, segundo ela é disso que eu preciso para se alegrar e sair mais. Mesmo sorrindo para sua insistência, não tenho a intenção de arrumar ninguém. A ferida que outro homem deixou ainda está aberta.
Converso com minha mãe amenidades, ela consegue me arrancar alguns sorrisos, sou filha única da Dona Vera e seu Luís. Eles são meu mundo hoje, sei que não sou a melhor filha do mundo, e que trago a eles tantas preocupações, mas eles são as únicas pessoas que ainda conseguem me fazer feliz.
Deixo minha mãe em casa e sigo para o trabalho. Prometi a ela que íamos almoçar juntas, e isso a deixou radiante.
Minha rotina no trabalho é sempre a mesma, porém diferente dos outros anos eu não sou a mesma pessoa sorridente. Mal tiro férias e quando faço é apenas alguns dias, ficar em casa sem ocupar a mente me enlouquece.
– Gabi? Como vai? – Niely entra na minha frente e como acontece nos últimos anos fico desconfortável em sua presença.
– Bem e você? – pergunto por educação.
– Ótima, estava pensando da gente almoçar hoje, o que acha? – pergunta feliz e fico agradecida por ter uma boa desculpa.
– Hoje não vai dá, marquei de almoçar com minha mãe – vejo seu olhar triste mas ela assente.
Niely era uma das minhas amigas mais próximas e minha obstetra, mesmo dizendo a ela e a todos que não a culpo por ela ter tirado meu útero, não consigo ser indiferente a isso. Sei que ela fez o melhor para salvar minha vida, mas o preço cobrado foi alto demais.
– Vamos marcar outro dia então? – pergunta sem expectativa.
– Claro, vamos sim. Agora preciso ir, tenho muitos pacientes me esperando – ela assente e me afasto respirando aliviada por sair dessa situação embaraçosa.
Minha manhã foi tranquila, consegui sair para encontrar minha mãe sem atraso, seguimos para um restaurante perto da minha casa, assim fica mais perto para minha mãe e consigo deixá-la antes de voltar para o trabalho.
Sentamos em uma mesa mais distante e fazemos nosso pedido. Minha mãe insiste que o garçom ficou me olhando com segundas intenções mas nem dou atenção para seu comentário, porque é capaz dela pegar o telefone do homem.
– Mas esse preços são absurdos, e só vem isso de comida? Está explicado porque você está desnutrida desse jeito filha – minha mãe fala e uma moça da mesa ao lado gargalha alto.
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Recomeços
RomansCAPA PROVISÓRIA Gabriela Silva era uma mulher de bem com a vida tinha um trabalho perfeito, uma amiga que era como uma irmã e esperava um filho do homem que amava. Ela tinha tudo o que desejava, nada poderia dar errado, estava tudo correndo perfeita...