Momentos de nós dois

Perdão

A dor que lhe atingiu o peito quando ela apareceu na sala quase trouxe uma nova enxurrada de lágrimas. Ele já não sabia dizer quanto tempo tinha chorado, seu corpo todo carregado de culpa e arrependimento por tê-la deixado plantada no meio daquele quarto, sem resposta alguma quando provavelmente ela estava tão nervosa quanto ele. E precisava dele mais do que nunca. Perdoar a si mesmo seria uma tarefa muito difícil.

"Desculpa, não queria te assustar." A voz saiu rouca e embargada, o nó que estava em sua garganta o impedindo de falar normalmente. Ela deu mais alguns passos em sua direção, os olhos assustados e os braços em volta de si mesma, como se estivesse se protegendo. Se protegendo do que estava por vir.

Seu coração foi esmagado pela milésima vez naquele dia ao perceber a mulher da sua vida, mostrar receio de sua presença. Era apaixonado por ela desde seus vinte anos e, desde então, sempre tinha feito tudo que esteve ao seu alcance para zelar por ela, sendo como amigo ou como seu amor, como pai de sua filha. A felicidade dela sempre foi tudo que importou. Saber que foi ele mesmo quem causou a tristeza que via nos olhos dela era arrasador.

"Agatha..."

"O que você ta fazendo aqui?" Ela procurou ser firme em sua pergunta, lhe interrompendo, sem conseguir sustentar o olhar no dele. Ele a conhecia mais do que a si mesmo e podia afirmar com certeza que ela tinha chorado a pouco. "Achei que você tinha ido pra São Paulo."

"Eu não fui." Ele respondeu enquanto se levantava, indo devagar ao encontro dela para não assustá-la. Levou as mãos àquele rosto delicado, os polegares lhe acariciando as bochechas. Ela hesitou, não se inclinou ao toque dele como sempre fazia, mas ele se sentiu grato por ela não fugir. Sentiu as lágrimas quentes descerem sem esforço de seus próprios olhos quando finalmente olhou nos dela. "São Paulo não importa. A única coisa que me importa é você."

"Rodrigo, eu acho..."

"Por favor, me escuta..." Agatha sentiu as mãos dele mais firmes em seu rosto, apavorado de medo que ela saísse de seu alcance. Ele recostou a testa na dela e não conseguia mais controlar o choro. Ela fechou os olhos ao sentir o coração apertar e tentou se afastar um pouco dele antes que sufocasse.

Rodrigo segurou as mãos dela, não deixando que ela saísse de perto. Antes que ela pudesse formar qualquer raciocinio ele estava de joelhos em sua frente, a testa encostada em sua barriga e ela podia praticamente sentir cada soluço dele. Agatha se assustou com o desespero dele, nunca o tinha visto naquele estado. Seu corpo todo congelou e não conseguiu mover um músculo sequer ao pensar que foi exatamente assim que ele ficou quando teve que encarar a possibilidade de uma vida sem ela.

"Pelo amor de Deus me perdoa, me perdoa." Ele se agarrava nela com toda força que tinha e suas súplicas saiam abafadas no tecido de sua blusa. Os olhos dela marejaram diante daquela cena e a única coisa que ela queria fazer naquele momento era abraçá-lo e dizer que tudo ia ficar bem. Sabia, no entanto, que ele precisava colocar tudo aquilo pra fora, e que ela precisava escutar.

"Eu te amo tanto. E eu fui um idiota, um egoísta. Eu não mereço você."

"Isso não é verdade." Ela não aguentou vê-lo tão quebrado e, em um impulso, se ajoelhou de frente pra ele, tomando seu rosto molhado nas mãos. Deixou que uma lágrima de dor caisse ao não suportar ouvir ele dizer aquilo. Ao não suportar ver aquilo. Ele merecia ela, e ela merecia ele. Se completavam. "Você se perdeu no meio de seus medos, mas nunca mais diga que você não me merece."

"A gente se merece, sempre se mereceu. E merecemos toda felicidade que a gente tem, a vida que a gente construiu, a nossa Olívia..."

"Eu não sei viver sem você." Ele choramingou ao ouvir as palavras dela, conseguindo finalmente se concentrar nos olhos verdes que brilhavam no escuro. Soltou a respiração que nem percebeu que estava prendendo ao ver ali, mesmo em meio a dor, todo o amor que ela sentia por ele. Envolveu os braços na cintura dela e a trouxe o mais perto que pode. Tentou controlar suas emoções ao falar.