A Explosão

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O domingo amanhece perfeito. O aroma das flores não deixa dúvida: a primavera finalmente deu o ar da graça! Eu e minha esposa estamos envolvidos nas lidas domésticas, atividade predileta de casais relativamente jovens, cuja atribulada rotina de trabalho não permite que se desenvolva tal prática durante a semana. Nosso rebento, como de costume, assiste à televisão na sala.

Buumm! De repente, uma explosão sacode a manhã. Minha esposa me olha assustada e grita: é na sala! Corremos instintivamente para lá. Em meio a muita fumaça, cacos de vidro e a um pó esbranquiçado que toma conta de todo o recinto vemos o nosso filho em pé, em cima do sofá, com uma jarra de água na mão. O que você fez, pergunto de forma ríspida. E ele, pálido como uma folha de papel, responde: nada, pai! Como nada, Rafael? Você explodiu a televisão!

Minha esposa, apesar do chorar compulsivamente, adentra aquele ambiente caótico e esfumaçado pós-explosão, resgata o menino de cima do sofá e entre os cacos de vidro e o aconchega em seus braços, como só as mães são capazes de fazer nessas situações. A interferência dela foi providencial, pois a estas alturas eu já pensava em bater o brim da criatura.

Seguro nos braços da mãe, o guri soluça baixinho e, aos poucos, vai se acalmando, se acalmando... Depois de certo tempo, todos estão bem e tudo volta à normalidade, exceto a televisão, cujo tubo de raios catódicos jaz espalhado pelo piso, paredes e teto da sala de estar. A situação requer uma estratégia de guerra para recuperar o ambiente de estar da família, operação que só um verdadeiro homo domesticus, como um pai, pode concretizar.

Realizado o rescaldo, pergunto novamente ao menino: Rafinha, o quê que você fez? Botei água dentro da TV, papai. Mas filho, porque você fez isto? Porque a TV tava quente! Quando o carro tá quente tu também bota água dentro dele. A TV tava quente demais, daí botei água nela, papai!

A ExplosãoWhere stories live. Discover now