CAPÍTULO 6

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Seguimos em frente, deixamos as mulheres sentadas no banco de trás e eu estou ao lado de meu pai, ele não falou nada desde o ocorrido, mas só de olhar o seu semblante, tenho certeza que está muito bravo comigo. Um dos sinais que aprendi foi: meus pais quando estão com raiva de mim, me chamam pelos meus dois nomes. O segundo deles, o que menos gosto; mas nunca disse nada para ninguém, pois ganhei esse nome em homenagem ao meu avô materno, já falecido.

Voltamos para a via Anchieta, que nos conduz para o litoral de São Paulo, de lá seguiremos por cerca de três horas até chegarmos à rodovia Régis Bittencourt, que nos conduzirá para o sul do país. Se não houver nenhum imprevisto, chegaremos lá dentro de seis horas.

Vejo um congestionamento formado na estrada.

– O que está acontecendo? – pergunto.

– Acho que as pessoas estão indo para o sul, como foi pedido nos noticiários. – Responde meu pai.

Meu pai pega um contorno que na placa diz: Rodovia Caminho do Mar.

– Para onde estamos indo? – pergunto.

– Vamos por essa rodovia, para pegarmos uma estrada mais vazia e também porque preciso de um descanso, já estou no volante há mais de 12 horas. Por essa estrada conheço um lugar bom para descansarmos.

Passamos pelo contorno, e meu pai acelera o carro, que começa a ganhar velocidade. A pista está completamente vazia, árvores e rios ladeiam a pista.

– Charles, você vai pegar a Estrada velha de santos?

– Sim querida, ela mesma.

– Mas ela não está proibida para carros?

– Sim. Agora ela é só usada para grupos de passeios. Só podem descer pedestres, ciclistas e carros autorizados. Mas desde um desabamento que houve no verão do ano passado, a estrada foi interditada. Está em reformas e, infelizmente, está abandonada.

– Nossa. Essa estrada é um marco para a história do Brasil. – Relembra minha mãe.

– E por que fecharam essa estrada? – pergunto.

 – Alguns dizem que a estrada foi fechada por causa das centenas de acidentes que aconteciam nela, Mas na verdade, a estrada foi abandonada quando a construção da Rodovia Imigrantes foi concluída. – Explica minha mãe. No horizonte, o sol começa a se esconder atrás das árvores.

– Eu adorava essa estrada. Tem muitas cachoeiras, nascentes – olho para o meu pai, vejo um brilho em seus olhos enquanto ele relembra suas histórias. – Passei muitas horas trilhando, até chegar a cachoeiras. Sempre uma melhor que a outra. De três a quatro horas trilhando, para no final ser recompensado com aguas límpidas e refrescantes.

Ouvindo as histórias dele, sinto uma imensa vontade de conhecer esses lugares, mas acho que nunca terei oportunidade.

Alguns minutos depois, vejo uma cerca finalizando a rua com uma placa no meio dizendo: proibida a passagem. Um pouco depois da cerca vejo um mirante.

– Pai...

– Nem precisa dizer nada, filho. – Ele encosta o carro perto da cerca e sai. – Esperem um pouco aqui, já volto.

Ele vai até a carroceria da caminhonete, pega um alicate de pressão e segue até o portão e corta a corrente.

– Será que não teremos problemas? – A Garota parece preocupada.

– Tomara que não. – Minha mãe responde.

 Olho para trás e vejo que Julia ainda parece estar desconectada desse mundo.

Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora