Seguimos em frente, deixamos as mulheres sentadas no banco de trás e eu estou ao lado de meu pai, ele não falou nada desde o ocorrido, mas só de olhar o seu semblante, tenho certeza que está muito bravo comigo. Um dos sinais que aprendi foi: meus pais quando estão com raiva de mim, me chamam pelos meus dois nomes. O segundo deles, o que menos gosto; mas nunca disse nada para ninguém, pois ganhei esse nome em homenagem ao meu avô materno, já falecido.
Voltamos para a via Anchieta, que nos conduz para o litoral de São Paulo, de lá seguiremos por cerca de três horas até chegarmos à rodovia Régis Bittencourt, que nos conduzirá para o sul do país. Se não houver nenhum imprevisto, chegaremos lá dentro de seis horas.
Vejo um congestionamento formado na estrada.
– O que está acontecendo? – pergunto.
– Acho que as pessoas estão indo para o sul, como foi pedido nos noticiários. – Responde meu pai.
Meu pai pega um contorno que na placa diz: Rodovia Caminho do Mar.
– Para onde estamos indo? – pergunto.
– Vamos por essa rodovia, para pegarmos uma estrada mais vazia e também porque preciso de um descanso, já estou no volante há mais de 12 horas. Por essa estrada conheço um lugar bom para descansarmos.
Passamos pelo contorno, e meu pai acelera o carro, que começa a ganhar velocidade. A pista está completamente vazia, árvores e rios ladeiam a pista.
– Charles, você vai pegar a Estrada velha de santos?
– Sim querida, ela mesma.
– Mas ela não está proibida para carros?
– Sim. Agora ela é só usada para grupos de passeios. Só podem descer pedestres, ciclistas e carros autorizados. Mas desde um desabamento que houve no verão do ano passado, a estrada foi interditada. Está em reformas e, infelizmente, está abandonada.
– Nossa. Essa estrada é um marco para a história do Brasil. – Relembra minha mãe.
– E por que fecharam essa estrada? – pergunto.
– Alguns dizem que a estrada foi fechada por causa das centenas de acidentes que aconteciam nela, Mas na verdade, a estrada foi abandonada quando a construção da Rodovia Imigrantes foi concluída. – Explica minha mãe. No horizonte, o sol começa a se esconder atrás das árvores.
– Eu adorava essa estrada. Tem muitas cachoeiras, nascentes – olho para o meu pai, vejo um brilho em seus olhos enquanto ele relembra suas histórias. – Passei muitas horas trilhando, até chegar a cachoeiras. Sempre uma melhor que a outra. De três a quatro horas trilhando, para no final ser recompensado com aguas límpidas e refrescantes.
Ouvindo as histórias dele, sinto uma imensa vontade de conhecer esses lugares, mas acho que nunca terei oportunidade.
Alguns minutos depois, vejo uma cerca finalizando a rua com uma placa no meio dizendo: proibida a passagem. Um pouco depois da cerca vejo um mirante.
– Pai...
– Nem precisa dizer nada, filho. – Ele encosta o carro perto da cerca e sai. – Esperem um pouco aqui, já volto.
Ele vai até a carroceria da caminhonete, pega um alicate de pressão e segue até o portão e corta a corrente.
– Será que não teremos problemas? – A Garota parece preocupada.
– Tomara que não. – Minha mãe responde.
Olho para trás e vejo que Julia ainda parece estar desconectada desse mundo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na Terra
HorrorThomas é um garoto de quatorze anos, que adora filmes de terror. Após mais uma noite cheia de pesadelos, ele acorda e vê um noticiário na televisão: repórteres entrevistam um cientista em frente a um centro de pesquisas no Rio de Janeiro que explod...