Lembro-me de pouquíssima coisa do meu passado. Mas o que lembro é com muita clareza.
Sei que vivia perto do bosque, afastado das vilas maiores.
Minha mãe passava o dia todo comigo, meu pai saia cedo e voltava tarde, mas quando estava em casa ele sempre estava disposto a agradar a mim e a minha mãe. Ele era muito gentil com ela. E ela com ele.
Tínhamos uma vida tranqüila, não me lembro de passar fome, mesmo com a situação nos arredores não serem das melhores por conta das pragas que atacavam as plantações e guerras, muitas guerras.
Isso é o que lembro, momentos bons entre família. Não tenho muito mais dados sobre meus pais.
Nossa casa foi atacada por pessoas que não tinham o que comer, que estavam nas florestas, vivendo sem um teto. Talvez pessoas más. Não sei julgar, não quero julgar. Nesse ataque meus pais foram mortos. Olhei no fundo dos olhos do assassino dos meus pais, não vi maldade, apenas desespero. Ao contrário da mulher que estava do lado dele.
Ela me olhava com um ar de inveja que se estendia ao ódio.
Eles fugiram levando nossa comida. Eu não fiz nada, não que pudesse fazer. Tinha oito anos.
Passei a noite junto ao cadáveres dos meus pais, parece tenebroso mas não. Sabia o que tinha acontecido. Sentia muita tristeza. Medo. Angustia. Desespero. Mas não podia sair na noite e correr o risco de me perder. Mantive a cabeça clara. Acho que alguém me iluminava naquele dia.
No outro dia sai em busca de ajuda. Não para meus pais, eu sabia o que tinha acontecido, e sabia que quem precisava de ajuda era eu. Eu tinha oito anos mas estava consciente da minha situação. Algo me iluminava.
Caminhei por onde me lembrava que ficavam as vilas e cidades mais povoadas, olhava o rosto de cada pessoa procurando alguém que me parecesse confiável. Quem não fosse me seqüestrar, me transformar em um escravo, me acusar de roubo, ou qualquer outra coisa.
Não encontrei ninguém que pudesse confiar. Mão encontrei por dois dias inteiro de caminhada, caminhada essa que eu tentava ser o mais discreto possível.
Alguém me encontrou.
Elizabeth estava passando e me viu. Falou-me que tinha uma filha da minha idade e que sabia reconhecer quando ela estava desesperada por algo.
Simplesmente por ouvir aquelas palavras comecei a chorar copiosamente. Chorei e quando parei, desmaiei.
Rouen fica no noroeste da França, é uma cidade bem evoluída até, ela fica na região da Normandia, temos dias curtos e temperaturas amenas, com muita chuva e um clima mais úmido por influências marítimas.
Foi no interior dessa cidade que acordei, me falaram que não muito longe de onde me encontram, em uma cama quente, numa casa simples, com um homem me olhando.
Evan estava cuidando de mim, disse que dormi por dois dias e que tinha deixado a todos muito preocupados. Ele era o marido de Elizabeth, a moça que havia me salvado.
Sabe o mais incrível? Em nenhum momento depois que encontrei Elizabeth me passou pela cabeça que eles iriam me abandonar, nem uma leve suspeita. Foi como aquelas certezas de que não se precisa de confirmação.
Sabia que eles haviam me acolhido para sempre. Alguém me iluminou.
Nunca esquecerei disso.
Sou Christopher, significa "o que traz Cristo consigo", e sei que é ele quem me iluminou em todos os momentos mais difíceis da minha vida.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Catherine
RomanceUm conto de bruxas de uma maneira nunca antes contada. Linda capa @SOSCapas