Yoruichi deixava o banheiro de seu quarto, enrolada em uma toalha, quando percebeu ali sobre a cama uma mesinha de café da manhã e um bilhete. Aproximou-se e pegou o pequeno papel, no qual leu a expressão "bon appetit" escrita nos ideogramas do Hiragana em uma caligrafia belíssima - a invejável caligrafia de Byakuya.
Sorriu comovida e observou os itens ali dispostos: um copo cheio de chá, que exalava vapor, uma fatia de bolo e um sanduíche envolto em plástico. Tudo arranjado com tamanho requinte e capricho que lhe deu a impressão de que aquela entrega teria vindo direto do serviço de quartos de um hotel cinco estrelas.
Exausta, ela se livrou da toalha, recobriu o corpo com um camisão de malha e não demorou a se atirar à comida, estava zonza de fome. Depois que terminou de comer, ela largou a mesinha em algum canto para poder se estirar na cama. Ainda era difícil não pensar no perigo que enfrentaram, mas agora que estavam a salvo, não podia mais ignorar o que acontecia entre ela e Byakuya.
– Dar uns beijos, sexo talvez, mas casamento já é demais... Por que ele tem que ser sempre tão extremado?
Ao se ouvir dizer aquilo, a situação lhe pareceu até engraçada, mas bastou que refletisse por um instante e então ela se repreendeu:
– Mas no que estou pensando? Todo aquele desespero deve ter me tirado do eixo...
A sensação tão boa que ela estava sentindo com o gesto caridoso que o mais novo lhe fizera desapareceu como névoa dissipada pelo vento.
Acontecia que, desde o momento em que havia sido beijada pela primeira vez por Byakuya, dois dias atrás, Yourichi vinha se recusando a pensar no assunto, pois a simples ideia de se envolver afetivamente com ele lhe perturbava o espírito ao extremo. E para piorar sua angústia, a terrível tempestade lhe deixara tão fora de si, tão desesperada que um de seus mais bem guardados segredos acabou vindo à tona e ela não se conformava com aquilo.
Era difícil para Yoruichi admitir, até para si mesma, que Byakuya havia sido seu primeiro amor. Ela descobrira que estava apaixonada por ele aos quatorze anos, quando ele não tinha completado nem nove anos ainda. A descoberta lhe deixou transtornada e ela tratou de sepultar aquele sentimento no mais fundo de sua alma, pois era extremamente contra a união de pessoas cujas idades fossem discrepantes. Essa era a razão pela qual ela insistia em tratar Byakuya como uma eterna criança, chamando-o de garoto, pirralho, guri, pivete... Não era apenas para irritá-lo, servia como uma advertência para ela também.
Talvez a diferença de idades entre eles não fosse assim tão expressiva, mas Yoruichi era muito radical nesse quesito. Cansara de ver velhos caquéticos tomando menininhas por esposas e matronas devassas disputando jovenzinhos e ela sempre temeu que o mesmo pudesse acontecer consigo. E ela acabou vivendo esse drama de fato, quando, depois da morte de seus pais, sua tia-avó tentou obrigá-la a se casar com um homem vinte anos mais velho e ela não teve alternativa senão abandonar o círculo de seu clã aos dezoito anos.
Por tudo isso Yoruichi não conseguia lidar com o fato de já ter sido apaixonada por Byakuya. Ela não queria pensar a respeito, não se permitia se imaginar com ele. Repetia obstinadamente que não podia amá-lo, que não devia amá-lo, que aquilo era errado. E estava tão doutrinada nessa sua convicção que simplesmente não conseguia levar em conta o fato de que tinha sido Byakuya a tomar a iniciativa e não o contrário.
Suspirou forte e obrigou-se a encontrar uma saída para aquele impasse. Ficou um bom tempo quieta e pensativa e então falou:
– Mas tem sim uma solução! Como pude esquecer, se eu mesma armei tudo? Byakuya não tem nada que querer ficar comigo, a mulher certa pra ele é a Soifon. Claro... E depois de tudo que eu falei pra ela, seria totalmente ridículo se eu ficasse com ele.
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Vítimas do Dever
FanficQuando a investigadora Yoruichi Shihouin descobre que seu amigo, o cientista Kisuke Urahara, está sendo acusado de ter realizado um terrível experimento em oito pessoas, ela decide ajudá-lo, porém, Byakuya Kuchiki não aprova essa decisão e fará de t...