Anabela Wright é uma jovem e bela mulher que vive em White Oaktree, um povoado no interior da Inglaterra do século XVIII. Solitária e misteriosa, ela cuida do marido adoentado, e ainda administra os negócios e a casa da família, contrariando o que s...
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From roots to moons
Death is my name
From roots to moons
We are the same
Cellar Darling — The Spell
•☾•
OS CORVOS GRASNAVAM todas as manhãs melancólicas em White Oaktree, todos empoleirados nos ramos desfolhados do velho carvalho branco no jardim da mansão de Anabela Wright. Ela os observava da janela do seu quarto: de penas negras e lustrosas e olhos que contavam menos do que sabiam, as aves galgavam os galhos nus, agitavam as asas e crocitavam umas com as outras, coscuvilhando como um bando de enxeridas.
Uma delas ousou pular para o parapeito da janela, cutucando o vidro com seu bico. Anabela estreitou os olhos sem se dar ao trabalho de levantar da cama para espantá-la. Perfurou-a de tal maneira, com o seu olhar mais duro que, por um ilusório instante, a ave pareceu fitá-la de volta. Então, crocitou outra vez e voou de volta para as outras.
No mesmo horário costumeiro, Mary, sua única criada, bateu à porta do quarto para despertá-la e trazer seu café da manhã:
— Entre — Anabela consentiu.
Uma pequena mulher entrou no aposento, carregando consigo uma bandeja com seu desjejum. Tinha ralos cabelos grisalhos. Mas os olhos escuros eram sábios e gentis.
— Bom dia, senhora. Dormiu bem?
Anabela se limitou a assentir enquanto a criada depositava a bandeja no seu colo. Mary se aproximou da janela, abriu um pouco o vidro e franziu o rosto, desgostosa, pelas aves ruidosas que se amontoavam nos galhos do carvalho.
— Precisamos fazer algo sobre esses corvos, senhora — comentou ao se virar para a patroa. — Caso contrário, voltarão a atacar os meus tomates.
Anabela sorveu um gole do leite quente adoçado com canela, pousando a xícara no pires e acenando com uma mão delicada.
— Mais tarde cuidarei disso. — Acrescentou secamente em seguida: — Hoje ainda terei de lidar com Edward. O homem estará aqui para o almoço para insistir que eu delegue a administração dos negócios de Thomas para ele.
Mary entrelaçou os dedos e ergueu o queixo.
— Se me permite a sinceridade, senhora, Edward Hall é um porco.
— Um porco que, infelizmente, detém uma parte da fábrica do meu marido, Mary, e que me julga uma incompetente para administrá-la desde que Thomas se tornou incapaz — concordou com um suspiro.
Anabela colocou a bandeja de lado, afastou as cobertas e se levantou, sentando no banco do toucador para se arrumar.
— Não fugirei dessa briga. Se demonstrar fraqueza, Edward se aproveitará disso. Mas sinto que precisarei agir se quiser continuar à frente da administração da fábrica.