10.
"Luiza!" escutei vindo de fora.
"Luiza acorda!" segui a voz meio sonambula.
"Aqui embaixo." disse ele num sussurro alto. "Vem, desce. Aqui, aqui! Tenho uma coisa para te mostrar."
Desci as escadas em meio aos bocejos, a porta da sala estava trancada, peguei a chave no corredor e vi pela janela Willy lá fora. Acenei sorrindo para ele, fazia duas semanas que ele tinha sumido, acho que ele não me viu, pois não retribuiu.
"Ei!" disse alegre quando sai. "Você sumiu, que aconteceu? Seu avô tinha razão, a água foi tiro e queda."
A escuridão da noite fez com que Willy me parecesse mudado, seu cabelo parecia mais escuro e poderia dizer também que havia perdido alguns quilinhos e sua cicatriz tamanho. Foi estranho o ver sem a bola.
"Venha, pule." disse ele inquieto. "Quero te mostrar uma coisa impressionante."
"Bom... é que..." lembrei-me da conversa com Luiz.
"É rapidinho eu juro. Vai ser divertido, confie em mim."
Procurei com os olhos o lugar que meus pais estavam dormindo esperando algum sinal, mas logo comecei a escalar a grade. Subi ouvindo Willy gargalhar e não olhei para baixo. Quando repousei meus pés na grama ele tinha sumido. Puf!
"Aqui! Aqui! Vem." o vi na porta de entrada da residência dos Silva.
"Willy... não sei se isso é uma boa ideia." disse quando o alcancei.
"Relaxa. Confie em mim."
Passamos pela sala da casa e eu agarrei meu nariz com os dedos, porque, o cheiro de lugar fechado por muito tempo era forte ali. As luzes estavam apagadas. Pegamos um corredor e o segui na escada ouvindo-o sussurrar para me apressar. Demos em outro corredor rodeado por portas, Willy foi até o meio dele e, saltando agarrou e puxou uma corda revelando uma escada para o sótão. O cheiro que senti quando desmaiei na quinta-feira, voltara para terminar o serviço em minhas narinas.
Num frenesi ele saltou os degraus. Sumiu.
Minha cabeça era como um balão de gás. Senti tontura e escorei-me na parede. Ouvi uma voz me chamando para dentro à medida que um frio fora do normal tomava conta de mim.
"Venha... vamos... borbulhar..."
A parede me empurrou para frente. Meus pés deram alguns passos.
"Vamos... borbulhar..."
Não era a voz de Willy.
Eu me movia. Uma espécie de transe. Senti uma mão vinda de trás agarrar a minha. Demorou até conseguir organizar meus pensamentos e fazer meu corpo virar, foi como tentar dirigir um carro de vendas e mãos atadas.
"Willy?" sim, era ele, mas era ele lá em cima também.
"Você tem que sair daqui agora!"
"Mas ele..." apontei para o alçapão sem me virar. "mas você... o que é que tá acontecendo aqui?" minha perna esquerda fraquejou, mas ele me segurou.
"Vamos, eu não posso te carregar. Você tem que ir por conta própria." ele estava assustado.
Escorei novamente na parede e arrisquei um passo em direção à escada. E outro, e outro. Enquanto descia, parecia que uma centena de cães famintos estavam trancafiados no teto da casa querendo fugir. Tapei meus ouvidos e gritei o mais alto que pude. A porta na qual entramos estava aberta e Willy estava lá balançando os braços como se isso fosse me fazer ir mais rápido.
"Você não tem tempo. Anda! Eles vão te ajudar, mas você tem que sair. Depressa!"
Tentei dizer algo, mas não saiu. O mundo começou a tremer, paredes, quadros, janelas pratos, tudo. Taças e porta-retratos se espatifavam no chão. De olhos fechados, com um impulso vindo de minhas entranhas...
Como se minha vida dependesse disso...
O mais rápido que pude...
Sem olhar para trás...
Engolindo os batimentos...
Fugi daquilo...
Corri.
"Vai ficar tudo bem querida." ouvi enquanto as lagrimas me afogavam. "Papai não vai te deixar querida."
"Viu... você viu aquilo? Eu não tô doida. Tô? Não é possível, foi tudo tão real. Não... não pode ser."
Abri meus olhos, estava na varanda de casa, de minha casa. Agarrei-me a ele como se fosse parte de mim.
"Eu vi querida... eu vi. Amor, vá chamar a polícia."
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O Mistério da Estranha Residência Silva
Misterio / SuspensoLuiza é uma garota que acaba de se mudar para um novo lar com sua família. Com o passar dos dias ela acaba conhecendo pessoas incríveis, mas a estranha sensação que sentia sempre que estava perto "daquilo", a faz se fechar para o mundo. O que é "aq...