Capítulo único

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Notas iniciais

Dedicado a Sabrina, que teve muita paciência esperando por isso.

Capítulo único

A fé inabalável de Itachi foi algo que Sasuke nunca conseguiu bem entender, mas sempre admirou profundamente. Para seu irmão tudo havia um propósito, uma razão de acontecer. Isso fizera com que ele se mantivesse firme não importando o desastre que tomasse sua vida.

—Amanhã é outro dia, Sasuke.

Era sempre a mesma coisa.

E Sasuke viu o outro dia dele chegar, seu irmão rodopiando Izumi pelo salão, o nascimento de Akami e Kagami.

—Quando encontrar Shisui não quero que ele diga que desperdicei minha vida, Sasuke.

Seu irmão plantou sua árvore, escreveu seu livro e teve seu filho, e mesmo com aquela tristeza sempre presente como uma sombra em seus olhos ele nunca deixou isso o parar de seguir em frente.

Ele sempre teve certeza do seu propósito.

Sasuke invejava seu irmão por isso.

Ele invejava sua fé e seu otimismo e a forma como ele se conectava com as pessoas sem medo e não deixava sua dor o afogar. Ele não se deixava se entregar ao que poderia ter sido, porque ele tinha certeza que algo bom o esperava mais à frente.

Isso era admirável e Sasuke daria tudo para ser assim. Não era como se ele não tivesse tentado. Nos próximos anos ele havia construído sua vida com Gaara. Gaara que desde criança dizia que nunca encontraria sua pessoa, e Sasuke que já havia perdido sua chance. E com a sombra que sempre parecia presente em sua vida – de olhos azuis, dos anos que viriam, da incerteza do que tudo aquilo significava – Gaara era o único além da sua família que havia ficado. O único que havia visto claramente por trás dos seus pretextos rudes de querer se afastar de todos. Afinal, se ele iria ficar para trás, porque não se poupar da dor de ver mais pessoas que amava o deixando?

Gaara havia ficado. Os dois trabalhavam bem juntos, em uma relação que ninguém ao certo conseguia entender e quando os dois chegaram aos 30 anos eles se mudaram para uma rua de casas todas iguais, Sasuke permaneceu como paramédico e Gaara assumiu o negócio da família no hospital. Eles tinham um jardim na frente da casa e jantavam com a família de Itachi nos fins de semana.

Sasuke havia tentado ser feliz. Tentado ignorar o vazio que sentia e todas as possibilidades do que poderia ter sido. Havia tentado ignorar a amargura e o medo sempre que olhava ao redor e via seus sobrinhos sorrirem, Itachi e seu silêncio acolhedor e a expressão de Gaara quando chegava em casa e se jogava no sofá reclamando de todo mundo. Porque eles não estariam sempre lá. A data no seu braço, quase duzentos anos agora ainda pela frente, sempre o assombrava e o impedia de ser feliz.

E então ele perdeu seus pais e aquela dor parecia ainda mais pulsante.

Era como se ele não pertencesse ali. Como se tudo ao redor fosse estrangeiro e estivesse sempre com as malas prontas à espera de partir, e ainda assim ele havia tentado.

E então Gaara sentiu sua marca pulsar em uma tarde de domingo quando caminhavam na costa. Os olhos dele se cruzaram com uma jovem mulher que passeava na enseada, os cabelos vermelhos dela ao vento e os óculos embaçados com a maresia. E Sasuke sempre lembraria daquele momento, de como a marca que sempre fora uma cicatriz desde em que Gaara nascera – a certeza de que a sua pessoa estava morta já há algum tempo, que sua oportunidade já havia passado – havia se avermelhado, inflamada.

Gaara havia tentado também. Ele odiava a ideia de não ter escolha em algo, mas como lutar contra gostar de alguém que era tudo o que se precisava? Como Sasuke podia o obrigar a se privar de algo que ele sabia o quanto ter perdido era doloroso? Como ele podia o deixar jogar fora a chance que daria tudo para ter de volta?

O homem que tinha tempo demaisWhere stories live. Discover now