Capítulo 1 - Mesmo Se Eu Parecer Forte

3K 213 28
                                    

Mesmo se eu parecer forte,se eu estiver sorrindo, passo muito tempo sozinho. Perambulo por toda a imensidão do parque japonês repleto de sakuras apenas pensando que rumo tomar. Sei que esperam que, eu, — um dia — possa corresponder a todas as expectativas da minha família e assumir a empresa na Coréia. Saber disso e ter sido criado unicamente com esse propósito é o que me torna tão sozinho.

Continuo andando e me dou conta que seria necessário ir logo. Podia estar de viagem ao Japão, mas minhas agendas e deveres continuavam. Esperei para que o meu ônibus passasse e assim que o mesmo apareceu, fiz sinal e entrei. Só existia um assento vazio. Ao lado dele tinha um menino completamente adormecido.

Existe uma lei não dita diante de todos, porque é algo muito instintivo. Se você entra em um ônibus e o encontra com lugares disponíveis, a regra é procurar sentar sempre em um banco que já não tenha a poltrona do lado ocupada por alguém. Por que isso? Apenas para dar privacidade e ter seu conforto. Infelizmente eu não poderia seguir aquela regra no momento.

Caminhei até o lugar ao lado do garoto adormecido e me sentei. Notei que o mesmo deveria ser novo e menor que eu, devido ao seu pequeno tamanho, mesmo que estivesse dormindo encolhido. Não consegui evitar de fitar suas vestes. O menino não vestia nada mais que uma blusa cinza de manga curta e uma calça de moletom preta. Suas roupas me pareciam surradas.

Desviei o olhar e passei a prestar atenção na estrada. Eu soltaria no terminal, então não tinha problema ficar distraído com tudo. As pessoas começavam a descer em seus pontos e o transporte público começava a esvaziar. Sorri de lado ao pensar como meus empregados reagiriam se soubessem que eu estava andando em um veículo compartilhado. Na verdade, queria muito ver a reação dos meus "queridos" pais. Já conseguia até ouvir suas vozes dizendo que eu deveria tomar um banho de álcool e repensar minhas atitudes, porque eu era um Kim, tinha 23 anos e não poderia ficar agindo como um adolescente sem causa.

Enquanto eu ficava perdido em meio aos meus pensamentos, dei—me conta de que só se encontrava o menino adormecido, o motorista e eu naquele ônibus. Acabei voltando a encarar o estranho do meu lado e notei — com certa curiosidade — que ele dormia e parecia segurar algo. Digo algo, porque não tinha nada ali. Meus pensamentos questionadores foram interrompidos quando o veículo parou, o motorista avisou que era o ponto final e me deixou sozinho ali dentro com o menino.

Entrei em um debate interno. O motorista poderia acordá—lo depois, mas não seria de forma agradável. Eu poderia ir embora e deixá—lo ali, a mercê de estranhos — sendo que eu também sou um — e completamente vulnerável ao mundo ou ser um bom cidadão com amor ao próximo e alertá—lo de que o ponto final já tinha chegado. Acabei optando por ser um bom cidadão.

— Menino? — chamei e nem sinal de vida. — Garoto? — aumentei um pouco a voz e mesmo assim nada. — Criança? Menino, acorda! — dessa vez tomei a liberdade de cutucá—lo e como em um passe de mágica o mesmo acordou com um pulo no banco.

— O quê?! — ele questionou confuso e assustado. O fitei curioso.

— É coreano? — perguntei no idioma citado. Ele tinha falado coreano, não tinha?

— Sou... — ele respondeu ainda desnorteado e então seus olhos se arregalaram. — Moço, onde estamos? Onde estão as pessoas? Por que o ônibus está parado?! — ele perguntou no idioma do país que estávamos e pareceu preocupado.

— Esse é o ponto final...

— ONDE ESTÃO MINHAS COISAS?! — ele gritou de repente e eu me assustei.

— Que coisas? Desde que entrei, você estava dormindo e não tinha nada. — o respondi e de alguma forma vi seus olhos marejarem.

— Nada? Nadinha? — ele indagou e parecia suplicar para que eu dissesse que tudo era uma brincadeira.

My AnswerOnde histórias criam vida. Descubra agora