Hunter

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A lua se fazia bela, no auge do céu negro, mostrando sua grandiosidade e majestosidade. Sua luz iluminava a devastada cidade, revelando os pecados cometidos pelos praticantes de Igra. Como era cruel ver tantos corpos espalhados, manchando o chão com o sangue ainda fresco, empilhados como carniça, lixo... Esse seria o primeiro sentimento dominante em uma pessoa comum, porém, isso não se remetia a Naho, que olhava os corpos com extremo desgosto enquanto andava sem rumo pelas ruas sombrias.

- Cada dia há mais lixo jogado nesta cidade. - a jovem tinha que, às vezes, tirar aqueles corpos de seu caminho e assim esta os chutava na ausência de qualquer respeito aos mortos ali. Quem ligaria? Na opinião da bela garota de idade desconhecida, eles não mereciam algo melhor... Principalmente sua consideração. - É tão entediante... - a jovem fez questão de parar e bater repetidas vezes o pé no solo, demonstrando eterno desagrado. - Era muito mais divertido quando os ratos vinham aos montes em noites como essa para me entreterem. Ficar olhando minhas presas morrendo noite após noite está ficando irritante... Não posso mais esperar. Em uma noite tão bela como esta, meus instintos ficam cada vez mais irracionais. Caçarei qualquer um em meu caminho e está mais que satisfatório.

Respirando fundo, a jovem ficou segundos imóvel, mas repentinamente partiu em disparada com um impulso incrível. Naquele ponto, qualquer ser que cruzasse seu caminho sofreria da ansiedade tão contida pela garota. Ela era uma verdadeira assassina e o fato de seu corpo banhar-se em sangue era tanto inevitável como almejado pela jovem. Queria sentir o sentimento prazeroso que tinha ao lentamente matar uma pobre alma que cruzasse seu rumo. Tinha sede... Uma sede incontrolável que necessitava ser saciada.

Usando sua agilidade e habilidade, saltava entre os prédios para facilitar a localização de algum alvo e corria rapidamente pelas ruas desertas e arruinadas. O desejo aumentava a cada passo que esta dava e podia-se ver o vazio no olhar da jovem jogadora de Igra, jogo de puro massacre e desumano. Era o que combinava com ela e esse era o motivo real por estar ali. Era o único local em que ela podia ser ela mesma não ter que se conter nunca mais.

Observando um vulto não tão distante ali, esta mudou seu rumo em uma velocidade descomunal. Antes de a pessoa desconhecida por Naho percebesse, a vítima já se encontrava imobilizada sobre o chão imundo e gélido do asfalto enquanto que o corpo da assassina se encontrava acima do outro, iniciando um estrangulamento assim que as mãos da garota tocaram sua garganta. Os olhos roxos se arregalaram por um instante ao notar o que havia feito. Desesperada, esta se afastou de sua presa assustada, totalmente insatisfeita. O desejo de matar se fora do mesmo modo que reconheceu o infeliz que havia derrubado.

- É só você, Akira? - a jovem reclamou com todo o seu desgosto e ódio. De todos que poderiam aparecer, o rapaz era o único a quem esta não se permitia matar. Dera um longo suspiro e, coçando a nuca desamparada, esta ficou a observar os movimentos do outro, vendo assim este se levantar visivelmente raivoso e um pouco surpreso pelo modo que fora abordado pela jovem.

- Naho? O que estava fazendo? - ele massageou seus ombros tensos pelo último acontecimento, não encarando a garota para não mostrar ainda mais aquele sentimento de ódio.

- Caçando. Estou entediada e queria encontrar um alvo apropriado.

- E eu me tornei este "alvo"? - finalmente olhando-a nos olhos, o rapaz pode ver um maldoso sorriso por parte dela surgir pelo bonito rosto que tinha.

- Não seria uma má ideia... - e antes que o jovem protestasse, a garota continuou. - Mas já lhe disse uma vez. Você conquistou minha lealdade e jurei não machucá-lo, ou melhor, matá-lo. - lentamente, a jovem se aproximou para encará-lo apropriadamente porém, desta vez, com uma expressão puramente maliciosa. - Seria um grande desperdício... contudo vontade é que também não falta.

Em um ato brusco, Naho tomou os lábios de Akira, surpreendendo-o com o contato, ainda mais pela atitude inesperada. Ela conduzia uma batalha violenta entre suas línguas e quando se cansou, parou do mesmo modo que começara. A expressão atônito do jovem era a única coisa que ela podia observar.

- Bem... - enigmática, a jovem se afastou e tomou seu rumo. - Vou me contentar com este beijo, por enquanto.

- Como assim "por enquanto"? - para a infelicidade do rapaz, em uma noite agraciada com a luz pálida da lua cheia como naquela, seu rosto levemente corado era totalmente visível.

- Pense bem, pequeno virgem, e logo encontrará a resposta... - tomando seu caminho, Naho fez questão de respondê-lo em alto e bom som, para que não houvesse enganos ou desentendimentos no que queria dizer. - Eu tomaria cuidado para não ser atacado e ser prazerosamente explorado.

Akira não pensou muito. Com o rosto ardendo como brasas, partiu rapidamente tentando, inutilmente, esquecer as palavras ditas pela assassina.

A CaçadaOnde histórias criam vida. Descubra agora