— Por acaso mamãe acabou de nos deixar no castelo de verão do Drácula? — Luna perguntou.
Os gêmeos e eu olhamos espantados para o edifício sem fim de pedra e vidro onde as crianças davam voltas parecendo fora do lugar.
— Essa tem que ser a escola mais legal que eu já vi — Lucian disse assombrado.
Ele tinha um ponto.
Espirais como de várias histórias, com múltiplas torres, abobadas e colunas criadas a partir de uma gama vertiginosa de pedras cinzas e marrons. Janelas altas e brilhantes se destacavam, como se alguma besta houvesse corrido suas garras através da pedra. Um enorme espelho circular estava na entrada, como um olho que vê todos que passam, sentenciando os que entram. Não estaria surpresa se tivessem piscado.
O edifício se estendia em todas as direções, marcado por grandes árvores bem cuidadas, e ampliava-se em um vasto bosque que as rodeava. A paisagem se baseava em flores coloridas, árvores recentemente podadas, caminhos serpenteantes, e pontes que conectavam lagos com uma alta margem, e patos ou cisnes flutuavam na superfície.
Árvores meticulosamente podadas apareciam sobre bancos forjados de ferro; e no meio do pátio dianteiro, uma fonte circular de pedra tinha pelo menos seis metros de altura. Fios de orvalho restantes da nebulosa da manhã teciam tudo, tentando encobrir a saída do sol. Fora do silêncio, Luna riu e todos lutamos para nos conter.
Vestida como uma princesa gótica, minha pequena irmã se encaixava perfeitamente aqui. Eu mantinha minhas roupas básicas, exceto algumas adições incomuns. Depois do encontro de ontem, busquei na minha caixa de acessórios anti demônios e encontrei uma das primeiras coisas que comprei quando essa coisa de demônio começou e eu, bem, enlouqueci.
Por isso eu usava sapatos e jeans e mais uns extras. Várias correntes de ferro com pequenos pingentes adornavam as calças, uma pulseira de talismãs do mundo em meu pulso, uma grande cruz celta talhada – presente da minha vó – presa em uma solida corrente ao redor do meu pescoço, e gárgulas assustam demônios, portanto várias enfeitavam minha camisa.
Preso em um rabo de cavalo, meu cabelo vermelho escuro caia em grossos cachos pelas minhas costas. Algumas mechas rebeldes em espiral caiam sobre a minha testa já que eu nunca conseguia dominar totalmente a massa inteira. Os reflexos vermelhos ardentes brilhavam um pouco chamativos demais para o meu gosto, mas a herança genética de papai os havia me dado sem me consultar.
Eu também havia herdado uma pele com sardas e os olhos da mamãe, o escuro perigoso de um mar agitado da Irlanda, segundo minha avó. Ela fazia de si mesma uma poetisa. Meu cabelo e altura – muito acima das garotas normais e pernas longas – faziam que me misturar fosse algo difícil, mas eu tentava.
Até agora havíamos chamado pouca atenção. Mamãe nos deixou nas gigantescas portas de ferro forjado depois de repartir o dinheiro do almoço, que enfiei rapidamente no meu sutiã – devido a minha corrida, as coisas podem facilmente cair dos bolsos, mas nunca do sutiã. Depois de abraços e beijos ela desapareceu pela estrada central para a escola de Selena, separada, mas dentro do recinto fechado, e andamos entre a multidão a caminho do interior, folhas soando embaixo dos meus pés.
Levantei o olhar, minhas mãos criando uma sombra para meus olhos. Em uma das torres mais altas um monte de gárgulas bondosas faziam guarda. Toquei a imagem similar na minha camisa, e então algo me bateu. Olhei ao meu redor verificando a minha volta antes que minha mandíbula oficialmente caísse.
Os demônios são mais comuns do que as pessoas pensam – para as pessoas que inclusive acreditam que demônios existam. Observei muitas criaturas aparentemente inofensivas correndo ao redor da vida cotidiana das pessoas. Mas estudantes do colegial são especialmente atraentes para os demônios, que amam manipular essa combinação letal de angústia, incerteza, e a necessidade de encantar. Mas aqui – e eu chequei quatro vezes - não havia demônios. Nem um. Nada. Zero. Nada de nada.

VOCÊ ESTÁ LENDO
#1 - Demons At Deadnight (Divinicus Nex Chronicles)
FantastiqueDurante dezessete anos para Aurora Lahey a sobrevivência tem sido um estilo de vida. DESTINO DEMONÍACO Aurora tem o superpoder mais inútil do planeta, e isso só liberou um esquadrão do inferno. Os demônios estão à caça, sobrevivendo apenas para cort...