Maldição

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Rei dormia pesadamente na cama da enfermaria da guilda. A febre alta não demonstrava qualquer sinal que cessaria tão cedo e, devido a isso e em alguns momentos, a jovem inconsciente acabava por se contorcer em dor e desconforto sobre os lençóis. Com o pouco e constante tratamento de Porlyusica, para o alívio de Natsu e os outros, a jovem conseguia descansar bem mais tranquila do que sem os cuidados da herbalista. A batalha anterior havia sido muito dura para com todos, porém, o "veneno" desconhecido que corria nas veias da Take Over Elemental era preocupante e crítico. Infelizmente, Wendy, a pequena Dragon Slayer do ar e dona de incríveis poderes de cura, não se encontrava, nem durante a missão ou presente na guilda, já que esta partira para outra missão. Porlyusica havia assegurado que a maga não corria risco de vida, mas precisava de cuidados diários e de muito descanso, levando em consideração que esta demoraria para acordar de seu estado. Ela também mencionara algo sobre efeitos colaterais pelo suporto "veneno", porém não revelou nada mais sobre o assunto. Natsu fora o que mais permaneceu no cômodo, ao lado da jovem inconsciente. Todos sabiam o motivo e mesmo dizendo que o rapaz não tinha culpa do que ocorrera, ele não cedia.

Os dois dias seguintes se passaram como uma tortura para o garoto. Ele encarava a amiga com ódio em seu olhar e, a cada instante, o jovem resistia a enorme vontade de se mutilar. Sentia culpa. Culpa por não ter tido o tempo e a agilidade suficiente para tirar a jovem a tempo da magia desconhecida do oponente daquela missão. Apesar de que era impossível prever aquele acontecimento, o jovem era incapaz de se perdoar. Ele estava preocupado com a garota... de tal forma que já não fazia questão de esconder seus sentimentos mais profundos.

Lucy, Happy e Erza já haviam percebido a paixão pura e doce que Natsu sofria por Rei. Não era fácil de se perceber tal sentimento oculto, porém, mostrava-se óbvio quando conhecedor da verdade. Por isso, não protestaram um momento sequer em deixá-lo cuidando da maga, pois apesar de sua personalidade infantil e desastrada, ele parecia e agia bem diferente do habitual, sendo mais responsável do que muitos acreditavam que o mago não fosse capaz de ser um dia.

Era fim de tarde, aproximadamente quatro dias após a missão concluída. O sol estava perto de se pôr quando Rei abriu seus olhos lentamente com grande pesar. Natsu, ao vê-la desperta após tanto tempo, alegrou-se de tal maneira ao ponto de quase subiu no móvel em que a jovem estava deitada e abraçá-la de modo a aliviar todo o tempo em que passou em agonia e desespero. A felicidade em vê-la consciente era maior do que o próprio jovem imaginou que sentiria naquele momento.

– Rei! Você está bem? – o rapaz estava exasperado, sendo claramente visível a ansiedade em sua pergunta. Seu corpo pendia sobre a jovem, usando a cama como apoio para seu braço esquerdo e sua perna direita.

A garota nada respondeu no momento. Olhava ao redor como quem buscasse algo. Ela parecia confusa e o garoto não entendera o por quê disso.

– Natsu? – a delicada voz de Rei atingiu os ouvidos do rapaz, causando um arrepio extremamente agradável. O mesmo não soube responder se a reação a fala fora ocasionada pelo tempo de abstinência que sofrera durante aqueles dias ou se fora resultado da fragilidade e rouquidão que a voz sofrera devido ao tempo que permaneceu confinada. A jovem, por sua vez, mesmo com o corpo debilitado pelas dores e cansaço, conseguia ter uma expressão de nervosismo em seu rosto. – Onde você está?

Natsu arregalou os olhos imediatamente após a pergunta tão séria. Rangendo seus dentes com uma força absurda, este tentou não perder o controle de suas ações ou mesmo entregar-se aos seus próprios sentimentos. Como assim onde ele estava? Ele não conseguia acreditar... e nem queria fazê-lo.

– Não brinque com isso. – ordenou desesperado.

– Não estou brincando. – a jovem procurou, com seu olhar, o rapaz mais uma vez, contudo, nada encontrara. Em seus olhos prateados, lágrimas ameaçavam a transparecerem. – Eu não consigo te ver.

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