Um pedido de misericórdia

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Os minutos que se passaram foram uns dos piores na vida de Kiba, com toda certeza do mundo. Nem nos mais tenebrosos pesadelos se imaginou completamente envolvido por insetos como daquele jeito, enquanto era transportado para algum lugar.

Mal se deu conta de quanto tempo passou até que os minúsculos bichinhos o libertassem, permitindo que fosse ao chão, mas estranhamente tão fraco que não conseguiu ficar de pé, prostrando-se de joelhos, atordoado e um tanto nauseado. Aqueles kikaichuu sugavam o chacra de suas vítimas.

Mais sentiu do que viu ou ouviu o Alpha se movendo naquele local. Identificou como uma rústica cozinha, com uma pequena mesa, um fogão feito de barro e armários de aspecto igualmente campestre.

Respirou pesado e fundo, tentando recuperar ao menos um pouco da energia, para se defender do que quer que Aburame Shino planejasse.

Os segundos se arrastaram com uma lentidão que enervou Kiba. Nenhum deles falava nada, ele, por motivos óbvios de falta de força. O Alpha, talvez por ser realmente característica da personalidade observadora.

E então, sem qualquer aviso, Shino abaixou-se em frente ao Ômega raptado e lhe estendeu uma caneca de argila.

— Beba— falou em um tom de voz neutro.

Kiba agiu por puro reflexo, acertando um tapa fraco com as costas da mão no objeto, o suficiente para jogá-lo longe e partir a cerâmica, espalhando o líquido pelo chão, assim como um cheiro doce pelo ar.

Tal gesto não foi bem recepcionado pelo Alpha. Kiba sentiu o ambiente se tornar denso de contrariedade, enquanto o outro levantava-se e se afastava. Imediatamente em guarda, na medida do possível, Kiba esperou.

Mas não por muito tempo.

Logo sentiu uma mão segurar na gola do casaco que vestia e erguê-lo com impaciência do chão. A força do Alpha era tão grande, que Kiba sentiu como se pesasse menos do que uma pena, tamanha agilidade se viu obrigado a ficar de pé e foi empurrado para sentar-se em uma das cadeiras.

Gemeu baixinho pela violência, vendo uma nova caneca sendo colocada sobre a mesa a sua frente.

— Beba — dessa vez não foi um pedido. A palavra veio na voz de comando, aquela premissa Alpha que configurava uma das maiores vantagens sobre as demais castas. Quando dava uma ordem usando tal tom nenhum Ômega conseguia ir contra. Até para Betas era árduo rebelar-se.

Foi impossível para Kiba não sentir seu lado animal se recolher de medo e obedecer no mesmo instante: pegou a caneca pela alça e levou aos lábios, dando um grande gole na bebida que tinha gosto similar ao cheio: doce demais. Uma mistura de frutas da qual não conseguiu identificar nenhuma em especial.

— Não saia daqui — Shino recorreu à voz de comando pela segunda vez, garantindo que Kiba ficasse quietinho na cadeira, conforme ordenado.

Ausentou-se da cozinha em seguida.

Kiba respirou fundo entre uma golada e outra da bebida.

Estava enrascado. Pra caralho.

Olhou em volta com mais calma. Era mesmo uma cozinha, uma simples, basicamente feita de madeira e barro, como as que estava acostumado a ver na zona mais rural dos países. Havia uma janela aberta, mostrando a noite que já caíra por completo. Dois lampiões acesos garantiam a claridade do ambiente. Apesar da humildade marcante, tudo era bem asseado, com exceção da caneca que Kiba quebrou, única sujeira evidente naquela cozinha.

Sobre a mesa, uma travessa de argila exibia frutas vistosas. Um jarro do mesmo material permanecia quase cheio com aquilo que Kiba bebia.

— Porra — deixou a frustração sair com aquela palavra.

O Labirinto (ShinoKiba)Onde histórias criam vida. Descubra agora