Capítulo Dezessete

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Grogue de virar na cama a noite inteira tentando dar sentido as coisas, e verificando novamente se a janela estava trancada, eu já estava atrasada em minha rotina matinal quando a comoção começou.

A ligação cedo do escritório do xerife precipitou uma corrida maluca até a minivan onde mamãe, com grande nervosismo, pisou fundo no pedal e o empurrou pelo menos uns 5 km acima do limite de velocidade. Atualmente, ela se encontrava de pé em frente a sua floricultura conversando com um dos comissários do xerife sobre os atos de vandalismo. O pai do Matthias ainda estava fora da cidade.

A janela de exibição da loja da mamãe havia sido estraçalhada de dentro para fora e estava em pedaços na calçada, o vidro brilhando feito joias preciosas. Dentro havia cacos de cerâmica quebrados, pedaços de terra, plantas mutiladas e mesas viradas. O fedor de enxofre flutuava no ar, mas parecia que eu fui a única a notar.

E a única que ouviu a voz do demônio.

Eu estava de pé fora da multidão, Selena no meu quadril. O diabinho do ataque de urso de ontem não perdeu tempo para receber o crédito pela destruição, fazendo ameaças e latindo exigências pouco depois de eu ter chegado.

— E agora a Nex seguirá minhas ordens. — Sua risada foi levada pelo ar e se enrolou ao redor de minha pele como uma serpente mortal.

Segurei Selena mais apertado e varri a multidão, mas ninguém estava possuído. Para mim, quando os demônios ganham resistência, as características humanas deslizam como uma máscara de cera muito próxima a uma chama.

Mas eu podia ouvi-lo. Sua voz áspera arrepiou os nervos da minha espinha.

— Deixe a fedelha e venha a mim. Sozinha. Vá pela Main Street. Pegue a segunda saída. Entendeu?

Procurei no céu. Nada.

— Comece a se mexer! — Seu rosnado de fúria bateu contra a minha pele.

O volume da multidão diminuiu, reagindo a presença sem ao menos saber.

— Vá agora ou começarei a matar. Lentamente. A bebê primeiro. Seus gritos-

— Lucian! Pegue a Selena. Deixei minha lição de história em casa.

— Eu vou com você — disse Luna.

Eu indiquei suas botas desajeitadas. — Serei mais rápida sozinha.

Ela encolheu os ombros e deu a volta. Retrocedi alguns metros para ter certeza de que ela não seguiria e me choquei contra algo.

— Ow! Maldito–

Girei e encarei um Matthias irritado. Como se ele tivesse outro humor. Ele estava sentado em uma BMW preta, sua perna pendurada para fora da porta aberta quando me choquei contra ela, fazendo com que a porta batesse em sua canela.

— Desculpa.

Ele fechou o celular e parou na minha frente em instantes. O estranho, é que ele estava sorrindo. Tentei me deslocar para longe.

— Aurora, espera. Para onde você está indo? — Seu tom era simpático. Me assustava um pouco.

— Deixei minha lição em casa. — Empurrei um dedão por cima do meu ombro. — Engraçado, sendo lição de casa você acharia que casa é onde ela deveria estar, mas não, preciso dela na escola, mas você não pode chama-la de lição de escola porque essas coisas a gente faz na escola, mas na verdade é uma lição de escola que você faz em casa e então a traz de volta, então você poderia chama-la de lição de escola/casa/escola, mas de qualquer modo ela não está aqui e eu preciso pegar ela em casa e trazer pra escola então é em casa que eu preciso estar agora. — Tomei fôlego. — Tchau.

Matthias afastou qualquer tentativa de dar sentido a minha tagarelice. — Você deveria esperar por sua mãe. — Ele fez um gesto para a floricultura, lançando olhares de um lado para o outro. — Não vaguear por aí sozinha.

Preocupação? Ainda mais assustador. — Ficarei bem.

Quando virei para ir embora seus dedos férreos se prenderam ao redor do meu pulso em um aperto que eu não podia quebrar sem perder minha mão.

Então voei para o seu peito – ele sequer cambaleou – e envolvi meu braço livre em torno de sua cintura. Meus soluços eram lamentáveis, altos e patéticos.

Matthias ficou rígido. — Uh.

— Isso foi tão assustador — choraminguei entre respirações entrecortadas, apertando-o com mais força. — E agora — mais soluços — agora, você está aqui e pode me ajudar, me abrace. — A tagarelice incoerente se amplificou. Pressionei nossos corpos mais perto, quase cravando minhas unhas nele.

Ele soltou meus braços e endireitou ambos os dele ao seu lado. — Mas o que–

O empurrei e corri rua abaixo, sorrindo, esperando ter deixado muito muco na camiseta dele.

— Filha da– — Seu celular tocou. O violento — O que?! — que ele grunhiu quando atendeu ampliou meu sorriso. O garoto malvado podia intimidar, mas mostre um donzela pegajosa e chorosa, e ele cederia.

Arrogante por ter enganado aquele imbecil, fiz todo o caminho ao redor da esquina antes de uma mão me arrancar de lá.

Gritei.

#1 - Demons At Deadnight (Divinicus Nex Chronicles) Onde histórias criam vida. Descubra agora