Capítulo Vinte e Cinco

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Atrás de mim, um cruzamento entre um tigre e um lobo do tamanho de um elefante resmungou no final da rua. Suas pernas grossas como sequoias inchadas com força mortal. Três dedos grandes terminavam com garras feitas para converter carne em confetes. O enorme peito estava coberto com uma casca manchada em tons de azul e marrom, seus ombros tremiam de poder. Espinhos como os de rosas brotavam pelo seu nariz e sobre a parte de trás de seu pescoço.

Nos ombros se projetavam duas asas com garras nos extremos, subindo, com fome de sangue. Duas espécies de barbatanas feitas de osso em seu quadril que acabavam em picos brilhantes que corriam convergentes em uma espiral com sua cauda espessa, que balançava de um lado para o outro.

A cabeça larga abrigava uma quantidade obscena de dentes afiados, sua uniformidade mortal interrompida por quatro longas presas que se curvavam para a mandíbula. Saliva escorria em jatos para o chão, gotas gelatinosas faziam buracos no pavimento. Quatro narinas tremeram em seu nariz grande, expelindo vapor no ar frio. Dois pares de olhos brilhavam como redemoinhos de mel inspecionando os arredores, era assustador porque nenhum deles seguiam o mesmo caminho.

Até que me encontraram.

Toda a sua força queimou com uma sede de sangue feroz e raiva. Algo entrou na minha cabeça, sombrio e intangível. Trechos de seus pensamentos, sua emoção crua, ardente em minha mente. A besta me odiava, queria me quebrar, desejava o gosto de cobre do meu sangue, o ranger dos meus ossos, meus sucos tenros de carne pingando sendo perfurada entre os seus dentes, a sensação do meu corpo esmagado deslizando em sua garganta. Senti seus desejos maníacos.

Em. Minha. Mente.

A ligação foi interrompida quando a mulher estendeu o braço e atirou uma explosão de luz laranja no monstro, que acabou atingindo a couraça de seu ombro, fumegando. O cheiro de carne queimada encheu a noite.

A criatura se levantou sobre as patas traseiras e bateu no ar de modo predatório, ombros contorcidos em nós de músculos. A terra tremeu. O demônio chutou o chão e soltou um rugido estridente, espirrando uma quantidade impressionante de muco. Cães uivavam pela rua. Eu queria me juntar a eles.

— Melhor ficar atrás de mim, querida. — Penelope Perky apareceu ao meu lado com uma voz alegre.

Eu recuei vários metros, galhos e sujeira arranhando minhas solas do pé. O olhar brilhante do monstro seguiu todo meu movimento. Considerei ir mais longe, mas a floresta escura atrás de mim, e a névoa que deslizava pela noite, só alimentaram meu suor frio.

— Enviaram um Kalifera atrás de você! — Ela me olhou por cima do ombro e riu.

O monstro soltou um grunhido molhado. Engoli a bile borbulhando na minha garganta.

— Fácil, pequeno Kali, hoje nós não queremos problemas. — Ela disse sem levantar a voz, mas a atenção do animal virou-se para ela.

Eu me senti mais leve. Terror e um demônio dentro de sua cabeça são grandes filhos da mãe.

A criatura chutou algumas vezes, balançou a cabeça, e deu um grito agudo com todo o pulmão. Uma lufada suave e asas brotaram das costas da mulher, branca e preta com toques de laranja, como se uma parte fosse cinzas e a outra brasas.

Eu fui para trás. Ela deu um passo para a frente. Com botas de cano alto apegando-se ao chão, ela esperou que a criatura se aproximasse a galope, estendeu o braço no último segundo e bateu com o punho no alto de sua cabeça. Seu corpo colossal tremeu enorme antes de parar, o queixo enterrado na terra, sua traseira apontando para o céu como uma caricatura dos desenhos animados.

Ela pegou as asas salientes e pontiagudas dos ombros da criatura e atirou de volta. Eu me abaixei. O animal correu e deslizou para baixo da rua, espalhando detritos e formando uma vala profunda. Ele se levantou com um grito, mostrando suas presas brilhantes. Ela fez uma pirueta no ar, aterrissando de pé entre o demônio e eu. Ela tirou uma caneta de ponta laranja de suas asas e fez uma postura de esgrima como eu tinha visto minha mãe fazer quando teve aulas no centro comunitário. Em sua aula, minha mãe tinha usado uma espada longa fina com uma ponta afiada, não uma caneta. Ainda assim, o demônio olhou com cautela. Eu podia jurar que ele até tinha diminuído.

#1 - Demons At Deadnight (Divinicus Nex Chronicles) Onde histórias criam vida. Descubra agora