Quando tudo o que existia para mim era a verdade você veio como um sopro abafado e eletrizante, como uma ilusão que não tive a intenção de criar.
Tá doendo não saber se haverá um depois, tá doendo a dúvida sobre sua existência.
Foi apenas um endereço errado que entreguei ao motorista do táxi que me levou a uma rua errada, a sua rua. Uma chuva furiosa me levou ao seu encontro, febril, tonto e nauseado.
Torço pra que todos esses sintomas sejam uma possível pneumonia porque não estou pronto para uma possível paixão, e se você não for real serei eu um louco, ou apenas uma vitima da minha inconsciência presa as sequelas da febre?
Eu estava indo para casa... Fui até a parada de ônibus e o céu que brilhava cheio de estrelas prateadas escureceu de imediato e uma tempestade repentina mudou tudo.
Tive de chamar o primeiro táxi vazio que surgiu na avenida e no calor, frio, do momento, ensopado pronunciei errado o nome da rua.
Eu poderia ter observado que o carro não estava no lugar certo antes de descer, mas o vidro embaçado prejudicou ainda mais a minha visão que não é lá essas coisas.
Chateado com minha má sorte apenas corri avenida abaixo.
Minha casa não era tão distante daquele ponto onde desembarquei, talvez meus pulmões muito bem treinados suportassem trabalhar algumas quadras embaixo de uma tempestade.
Não nego que julguei todos os deuses em que acredito, que possam ou não existir por me tratarem de forma tão cômica.
Logo eu, um ser tão criativo, carinhoso, adorável, bonito, inteligente, gentil, educado e o mais importante e de maior valor: o fato de me importar profundamente com todo e qualquer ser humano, vivo ou morto, racional ou não.
Vida. Vidas são importantes pra mim.
Então... porque vocês aí de cima brincam dessa forma comigo? Eu os chateei tirando aqueles gatinhos da lata de lixo? Ou foi por que eu fiz questão de levar aquele garoto até o hospital quando ele quebrou o braço caindo da bicicleta bem na minha frente?
Pode ter sido também quando fui um dos organizadores da manifestação a favor da mãe que perdeu um filho para um preconceito ultrapassado.
Sim, os deuses tem motivos para me castigar.
No momento a dor surgiu ao assimilar que diante de todos os recentes incidentes da minha vida, você que poderia agora ser comparado a algo místico e planejado pelo universo, pode também ser uma miragem, ilusão da minha febre.
Eu encontrei uma porta aberta entre os diversos estabelecimentos fechados e você estava lá, dançando no escuro.
Cintilante e inexistente, profundo e afogado.
Primeiro eu captei algumas notas de piano, e uma voz suave muito bem trabalhada, assim como seus movimentos bem efetuados e veteranos em seu corpo.
Um estalar de dedos soou da melodia que desconheci e a cada nota eu fui arrastado ainda mais para sua presença magnifica, ali, bem ali.
Eu não me movi, estagnei naquela vidraçaria fria e não ousei emitir som algum, você não me notou entrar e eu não pensei em mais nada quando te vi.
Não é exagero, eu realmente estagnei na melodia, na energia que circulava aquele momento.
Eu conseguia ouvir os pingos correndo no telhado e os trovões explodindo as nuvens, assim como eu sentia o calor exercido pelo aquecedor no piso.
Estranho... por um momento eu pensei que era você que exalava aquela temperatura.
Os estalares de dedos na melodia não pararam, a voz feminina e aperfeiçoada deu lugar a uma grave masculina, que desenhava muito bem os melismas da canção e intensificou aquela melodia com elegância.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dancing to a stranger | jikook
FanfictionTá doendo não saber se haverá um depois, tá doendo a dúvida sobre sua existência. ONESHOT | JIKOOK | TRAUMATIZED INTRO |