Capítulo Quarenta e Quatro

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Virando e me debatendo a noite toda, parecia que eu nunca mais ficaria acordada ou dormindo. Os demônios invadiram meu subconsciente. Garras cortantes. Sangue. Carnificina. Meu único alívio das visões horríveis era ser perseguida por caçadores tentando me sequestrar para salvar o mundo.

Outra noite estelar.

Durante a minha rotina matinal, o espelho confirmou que as olheiras ainda pendiam de meus olhos. A maquiagem ajudou e meu cabelo lavado parecia macio, cachos grandes brilhavam com mechas vermelhas. Mas, no geral, eu parecia uma figurante em um filme de zumbi.

— O que você está fazendo aqui? — Luna entrou enquanto eu estava na balança do banheiro dos meus pais.

— Sabia que eu perdi três quilos?

— Vamos esperar que não seja em seus peitos.

— Obrigada.

— Só estou dizendo que seu novo namorado gostosão pode te largar.

— Ele não é...

Luna acenou com a mão. — Tanto faz. O cara que você estava no colo babando ontem. — Eu adorava minha família. Realmente. Eu adorava. — Falando nisso, ele está aqui. — Ela passeou fora da sala. — E trouxe-lhe outro... — Ela fez um canto meio lírico a última palavra. — Preee-seeenteee.

Na cozinha, mamãe e papai sorriam patetas, o que me levou a perguntar — O que está acontecendo?

— Você não pode ficar com ele. — Disse a mãe.

— Mas você pode...

Clyde, deixe que ele conte a ela.

— Contar o quê?

Eles me empurraram para a porta da garagem e meu pai abriu com um floreio. Eu tinha ouvido o motor gutural e percebi que era o carro de Ayden.

Eu estava errada.

Tropeçando ao descer as escadas, percebi que o carro de Ayden era um modelo pin-up feito por um mecânico, mas este novo era absolutamente indecente. Linhas suaves e elegantes, rebaixado, superfície azul marinho brilhante. Ele ronronaria em um pega na autobahn e uma viagem através dos Alpes. Lucian e Luna já estavam circulando sua presa veicular. Risadinhas da mamãe foram abafadas quando a porta se fechou atrás de mim.

Ayden deu a volta e calmamente me jogou as chaves. Eu as peguei com facilidade.

Nah, eu as deixei cair. Ok, tecnicamente eu não as deixei cair. Eu só vacilei quando bateram no meu ombro, então eu as olhei cair. Eu mencionei que eu não dormi bem? Ayden pegou as chaves, tomou meu pulso, colocou na minha mão e eu fechei os dedos.

— O que você está fazendo? — Eu disse.

Ele deu de ombros e virou para ficar ombro a ombro comigo, com um sorriso irônico dançando nos lábios. — Pensei que você gostaria de dirigir.

Eu fiz algum barulho estranho rindo, algo entre um ronco e gargarejo molhado. — Ah, certo. Muito engraçado, hah, mas não. — Estendi as chaves.

Ele ignorou o gesto. — Você pode ficar com elas.

Minha testa franziu. — Eu não vou ficar com elas.

— Por que não? É o seu carro.

Larguei as chaves. Seus olhos castanhos brilhantes ficaram em mim enquanto ele as recuperava, mais uma vez, se divertindo com meus sons estrangulados. Seu sorriso virou uma risada, Ayden devolveu o tilintar de metal para minha mão.

— Ah! Para com isso. — Eu consegui conjugar sílabas. — Sem brincadeira.

Ele balançou a cabeça. — Não é brincadeira. Meus pais compraram para você como um agradecimento por salvar Jocelyn.

Olhei para o carro. Olhei para ele. — Ah! Para com isso. — Eu acho que eu já disse isso.

Ele levantou dois dedos. — Palavra de escoteiro.

Eu sorri. Olhei para as chaves. Olhei para o carro. — Uau. — Eu suspirei. — Você não está brincando?

— Eu não estou brincando.

— Uau. — Meu uso da repetição era impressionante. — Mas eu não posso aceitar. — Suspirei com pesar genuíno e forcei as chaves na mão dele.

— Eu sei. — Seus ombros levantaram e caíram. — Quando os meus pais falaram aos seus pais sobre isso ontem, eles disseram a mesma coisa.

— Bem, eles estão certos. — Nós dois olhamos para o carro. — É demais. — Eu esperava que eu não estivesse babando. Mais uma vez.

Ele concordou. — Meus pais tendem a exagerar.

— Eu diria que sim.

— Mas você salvou a filha deles.

Eu concordei com a cabeça. — Então eles me compraram um carro?

— Um Maserati.

— Um carro muito bom.

Ayden estendeu as mãos. — A única filha.

— É verdade. — Eu suspirei. Mais uma vez. — Não seria certo.

— Você não pode aceitá-lo.

— Eu não posso.

Um sorriso malicioso. — Mas você pode dirigi-lo. É totalmente seguro e... — Ayden acrescentou em um sussurro — seus pais disseram que estava tudo bem.

Eu dei um olhar de lado. — Bem, neste caso...

Ayden jogou as chaves.

Eu as peguei no ar. Não brinca!

#1 - Demons At Deadnight (Divinicus Nex Chronicles) Onde histórias criam vida. Descubra agora