Logo cedo, o sol da manhã atingiu o rosto de Allan em cheio, e a sensação de calor não tardou em acordá-lo.
Estava sem roupas. Vestia somente a cueca cinza-claro que havia encontrado no armário, e estava muito cansado. Quando se sentou na cama e esfregou os olhos, viu o restante de suas roupas espalhadas pelo chão.
Ginne ainda estava dormindo. Agora, olhando para seu rosto aparentemente inocente, sentiu-se enojado de si mesmo. Vestiu sua calça jeans rapidamente, mas sem fazer barulho; não pretendia acordar a garota de seu sono profundo.
De pé, conseguiu ver a si mesmo no espelho que havia na parede branca. Estava horrível, com seus cabelos extremamente bagunçados e alguns arranhões pelo pescoço. Teria problemas para esconder aquilo. Suspirou e vestiu a camiseta, por fim.
Pensou em escrever um bilhete, talvez dois, mas fraquejou no último momento. Não saberia o que dizer, então era melhor não arriscar.
Foi embora sem olhar para trás.
...
Mesmo duas horas mais tarde, o sol ainda ardia em sua nuca, e isso já estava começando a incomodar.
Tirou uma cartela de cigarros do bolso e acendeu um deles, afinal precisava relaxar depois de uma noite mal dormida. Agora que tinha mais tempo para pensar, as lembranças dessa noite começaram a dar calafrios em sua espinha.
Passou bastante tempo andando sem rumo, e estava começando a cansar. Depois de procurar direito, acabou encontrando uma barraca de sorvete, e comprou um picolé de morango.
Logo quando pagava pelo picolé, seu celular começou a tocar.
"Me desculpe", disse ele, envergonhado pelo toque alto e estranho.
O sorveteiro limitou-se a rir. Era somente o que poderia fazer.
Após pisar na bituca de cigarro, tirou o picolé do pacote e atendeu a ligação.
"Alô!", disse Allan com o picolé na boca.
"Onde você está?", perguntou uma voz feminina.
Como se houvesse lembrado de um compromisso, Allan parou de andar e tirou o picolé da boca.
"Eu estou... ocupado".
"O combinado era você aparecer por aqui de manhã, não era?". A garota parecia estar decepcionada.
Allan abaixou a cabeça em tom de arrependimento, como se a garota estivesse em sua frente.
"Me desculpe..."
Não houve resposta do outro lado da linha. Somente depois de alguns segundos ela voltou a falar.
"Acreditar em você sempre foi um erro, não é?"
Como se estivesse procurando uma resposta, Allan tentou olhar em direção ao sol ardente, mas não encontrou o que procurava.
"Não".
"Não?". O tom de voz da garota aumentou subitamente.
"Não". A garganta de Allan ficou seca de repente. Chupou o picolé e voltou a andar.
"Isso quer dizer que posso contar com você amanhã?". Dessa vez a garota parecia esperançosa.
Allan demorou a responder.
"Sim".
A garota soltou uma risadinha pela resposta rápida de Allan. Discutir com ele era algo que ela não conseguia fazer, afinal.
"Espero que até lá você tenha aprendido mais palavras além de 'sim' ou 'não', Al".
Dessa vez foi Allan quem deu risada.
"Certo".
"Ei, Al". A garota falou rapidamente antes que Allan desligasse a chamada.
"O que é?".
"Eu te amo".
Allan parou de andar novamente. Era estranho, mas ele não sabia como responder a isso.
"Obrigado", e desligou a chamada.
Acabou passando bons segundos observando no celular o nome da garota que conversou durante esse tempo. Às vezes, tantos nomes embaralhavam-se em sua mente.
Lys.
...
Allan abriu a porta da frente sem nem ao menos bater.
"Cheguei!".
Ninguém veio recebe-lo. Já era algo de se esperar.
Na sala, jogou-se no grande sofá branco e se aconchegou. A enorme televisão presa à parede dava um ar nada modesto ao local.
Procurou o controle por ali, mas não encontrou. Chegou a agachar-se no chão para ter certeza de que aquilo não estava debaixo do sofá.
Quando ele menos esperava, uma mão o apalpou por trás.
"Cada dia mais sua bunda parece maior que a minha, amor. Acho melhor eu começar um regime!".
Allan levantou-se rapidamente daquela posição. Ser pego desprevenido dessa forma era, no mínimo, humilhante.
"Eu... entrei, mas... estava aberto...".
Hellen deu a volta nele, abraçou-o pelas costas e sussurrou em seu ouvido: "Eu já estava esperando por você, bobinho".
As reações de Allan eram sempre demoradas, mas eram letais quando chegavam.
Girou em seu eixo e, após olhar profundamente em seus olhos, beijou-a desprevenida.
"Então não vamos perder mais tempo, afinal não temos muito".
Hellen sorriu.
"Você sabe das coisas", e voltou a beija-lo loucamente.
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Não Mais Amor
RomanceAté quando o amor é realmente amor? Allan é um rapaz que ama e convive com mais de uma garota, e isso acaba lhe trazendo problemas. Será ele capaz de conciliar sua vida a três ou isso será mantido em segredo para sempre? Seria você capaz de amar m...