Mr. Midnight

Garoto misterioso

Eu estava levando a vida que sempre sonhei. Assim que fiz 18 anos e entrei para a faculdade de cinema meus pais me deram um apartamento e um carro, por mais que eu fosse morar a apenas duas quadras de onde estudaria pelos próximos 4 anos. Meus dois melhores amigos Jimin e Taehyung também foram para a mesma universidade. Jimin para cursar dança e Taehyung, fotografia. E ainda morávamos perto um dos outros.

Eu não tinha do que reclamar, mas agora já no segundo ano de faculdade me parecia que estava faltando alguma coisa, talvez um pouco de romance e aventura. E eu sempre fui um cara romântico até mesmo um pouco piegas, mas apesar disso eu não fiquei mais do que duas semanas com nenhum garoto desde que entrei para a universidade e não tive nenhum namoro antes disso. Nenhum garoto que conheci me prendeu a atenção o suficiente a ponto de eu me apaixonar.

Jimin e Taehyung sempre me arrastavam para as festas da universidade, mas eu sempre sentia que estava atrapalhando os dois, pois estava mais do que na cara que eles estavam a fim um do outro e queriam aproveitar esses momentos para se pegarem em qualquer canto escuro, e que só me levavam junto para que eu não ficasse sozinho e depressivo em meu apartamento, me entupindo de sorvete de chocolate e assistindo clássicos românticos do cinema, que só me faziam desejar ainda mais viver um grande amor, nem que fosse um bem clichêzinho.

Taehyung dizia que não adiantava de nada eu querer viver um romance sendo que não saía de casa para procurar meu tal príncipe encantado e que o mesmo não iria pular a minha varanda e entrar de repente em minha vida. Ele estava certo no final das contas, e por isso me deixei ser arrastado mais uma vez para uma festa, que eu não estava nem um pouco a fim de participar.

Já passava das onze da noite quando avistei me encarando, do outro lado da sala mal iluminada e cheia de acadêmicos bêbados, um garoto de cabelos tão negros quanto suas roupas, ele aparentava ser pouco mais velho que eu, e era também mais baixo e magro. Mesmo com a pouca iluminação pude notar sua pele leitosa em contraste com sua camiseta preta, e sentindo o efeito da bebida sobre mim, foi inevitável não me imaginar agarrando seu pequeno corpo em um canto qualquer daquela festa.

Senti meu membro fisgar dentro da minha calça por ter esses pensamentos, e minha boca salivar ao me imaginar marcando cada pedacinho daquela pele branquinha, que parecia chamar por mim, coisa que eu faria com todo o prazer, afinal ele era de longe o garoto mais bonito daquele lugar, e mais do que isso, ele parecia ter uma aura de mistério ao seu redor que estava me deixando louco e me puxando para si. Talvez eu já tivesse bebido um pouco demais, mas pude jurar que o garoto sorriu para mim levantando discretamente seu copo de cerveja em minha direção e seus olhos brilharam como os de um felino no escuro.

Eu conhecia a maioria das pessoas que estavam naquele apartamento e já havia até transado com alguns daqueles garotos, como Hoseok, o colega de curso do Jimin e Jin que cursava artes cênicas, mas agora não tínhamos mais nossos encontros, porque ele estava namorando com Namjoon, o aluno número 1 do curso de literatura e o cara mais inteligente da universidade inteira. Tenho que admitir que os dois formam um casal de dar inveja a qualquer um.

Mas o garoto do outro lado da sala eu nunca tinha visto antes, por mais que ele me parecesse familiar, eu teria me lembrado de alguém tão perfeito assim. Iria me aproximar dele na esperança de acabarmos juntos no final da noite, no meu apartamento ou no dele, mas no mesmo instante Taehyung tocou meu ombro me fazendo dar pulinho de susto.

- Eu e Jimin já estamos indo, resolvemos terminar nossa noite de uma maneira mais divertida, em um lugar mais reservado. - Disse com um sorriso sugestivo, enquanto enlaçava a cintura de Jimin o trazendo para mais perto.

- Tudo bem. - Respondi checando a hora no meu celular. - Já é meia noite, vou ficar mais um pouco e depois vou para casa.

- Isso é novidade. - Jimin comentou levemente alterado. - Você sempre sai das festas antes que a gente, e agora quer ficar mais tempo, tem algum motivo especial?

- Talvez... - Comecei encarando meu copo. - Eu acabei de ver um garoto e ele me chamou atenção, como a tempos nenhum chamava, quero ver no que vai dar.

- Um garoto? Quem? Cadê? - Jimin quis saber, já correndo os olhos por todos os que estavam na sala.

- Seja discreto por favor, Jimin. - Pedi já tendo noção do escândalo que Jimin poderia fazer por estar meio bêbado. - Ele está do outro lado da sala, vestido todo de preto, encostado na parede.

- Não estou vendo ninguém assim. - Taehyung respondeu, também procurando pelo meu garoto.

- Droga. - Olhei na direção em que o garoto de olhar felino estava, e também não vi ninguém, então saí quase desesperado à sua procura, sem nem ouvir direito Jimin e Taehyung se despedirem.

Frustração. Foi isso o que senti ao procurar pelo garoto misterioso por todo aquele apartamento, correndo o risco até de interromper pessoas transado em algum dos quartos, quando abri as portas à sua procura. Eu parecia um louco atrás de alguém que mais ninguém naquela festa tinha visto. Imaginei que iria terminar a noite de sexta feira nos braços daquele garoto, mas pelo visto iria dormir e acordar sozinho mais uma vez, e isso me fez ficar mais triste e mal-humorado do que eu deveria.

Cheguei em casa já quase achando que estava vendo coisas, que o garoto que me encarou durante festa era apenas uma invenção do meu subconsciente, desesperado por viver uma aventura romântica. Respirei fundo e após tomar um banho, e sair do banheiro vestindo apenas uma calça de moletom. Fui para a varanda do meu quarto, sentir o ar gelado da noite e pensar um pouco na vida, como fazia todos as noites, antes de dormir. A minha varanda ficava de frente para a varanda do prédio ao lado, se eu esticasse minha perna seria capaz de conseguir entrar no quarto alheio.

Eu sabia que meu vizinho havia se mudado mais ou menos na mesma época que eu me mudei, e que estudamos na mesma universidade, por que seu carro sai e retorna para a garagem no mesmo horário que eu volto para casa, e já havia reparado que fazíamos o mesmo caminho todos os dias. Eu nunca tinha parado para pensar no quão estranho é ser vizinho de varanda de um cara a quase dois anos, e nunca tê-lo visto.

As vezes eu tinha vontade de conhecê-lo, e o convidar para tomar um café na minha cafeteria preferida, ou então o chamar para jogar conversa fora sem sairmos de nossas varandas, quando via sua sombra por entre as cortinas esvoaçantes do seu quarto. Mais uma coisa que tínhamos em comum; gostávamos de dormir sentindo a brisa noturna.

Quem sabe um dia eu fizesse isso, mas no fundo eu tinha um pouco de dificuldade de começar qualquer tipo de relacionamento com novas pessoas, mas com o garoto da festa tudo era diferente, eu me senti tão atraído por ele, e eu precisava saber quem ele era, precisava beijar aqueles lábios tão convidativos. E pensando nisso, quando virei as costas para ir em direção à minha cama pisei em algo no chão, uma pequena folha de papel azulado com uma caligrafia bonita.

"Você estava tão lindo naquela festa, te olhei a noite toda, e confesso que estava morrendo de vontade de te puxar para um canto escuro qualquer e te beijar até nossos lábios ficarem dormentes.

Mr. Midnight"