Acordei do meu delicioso sono com o barulho produzido pelo meu despertador, marcava sete horas, o qual tinha formato de maçã e possuía o som de uma abelha, um barulho super estranho, admito, mas tinha ganhado do meu pai, que sempre me chamou de abelhinha. Vesti calça jeans preta, moletom vermelho e tênis all star azul, vi um tutorial sobre tranças no YouTube, consegui fazer uma embutida, tal façanha deixou-me contente, pela primeira vez meus cabelos estavam comportados, decidi colocar um pouco de pó compacto, nada muito exagerado, nunca tive o hábito de usar maquiagem, mas minha mãe sempre fez questão de comprá-las, então quis experimentar.
Por mais que fosse um dia terrível, afinal de contas em instantes estaria na casa de Arthur mendigando sua assinatura na certidão de nascimento do meu filho, quis parecer diferente, percebi que minha aparência remetia a fragilidade, porém, naquele momento queria parecer forte, mais mulher. Desci para o café da manhã, mamãe estava sentada à mesa sozinha, bebia algo em uma xícara verde, sua expressão foi de felicidade ao me ver, principalmente por eu estar "arrumadinha".
_Não acredito que isso no seu rosto é maquiagem?_ Indagou fazendo um "0" com a boca.
_É só pó compacto._ Tentei ser indiferente.
_Querida, você está muito bonita! Nunca a vi assim, é por causa do Arthur?_ Perguntou arqueando as sobrancelhas.
_Não, quer dizer sim, mas não é para agradá-lo, quero parecer forte diante dele._ Respondi em defesa, eu jamais mudaria algo no meu jeito de ser por causa de um cara, essa não era a Aurora, sabe foda-se o que os outros pensam, pois, roupas e acessórios não passavam de alienação temporária, afinal de contas os gregos eram lindos enrolados em lençóis, ou pelo menos foram considerados pelas pessoas da sua época, as vezes ficava imaginando duas garotas gregas populares zoando uma estranha, "Nossa miga, o lençol dela é bege kkkkk".
_Você ainda o ama?_ Continuou o interrogatório enquanto colocava um sanduíche diante de mim.
_Olha, é meio complicado ter essa conversa com mãe. _ falei sorrindo, realmente era muito constrangedor falar sobre esses assuntos com minha mãe.
_Aurora, sou sua mãe, sua melhor amiga._Ela segurou minhas mãos.
_É difícil esquecer alguém que foi tão importante, principalmente quando você carrega uma parte dele consigo, mas ele foi muito canalha, além da exposição que me submeteu ainda rejeitou o nosso filho._Tentei conter as lágrimas. Mordi meu sanduíche, pedindo as forças da natureza que o bebê não me fizesse vomitar tudo aquilo.
_Realmente, foi terrível o que você passou, mas ele é jovem, provavelmente está assustado._Apazigou._Você não precisa ter algo com ele, nem sugiro que tenha, a vida ainda vai mostrar tanto a você, mas nesse momento precisa ser madura e pensar no neném, ele vai gostar de ter um pai._Finalizou.
Realmente fazia sentido as palavras dela, eu não precisava de Arthur, estava fazendo tal sacrifício pelo bebê, mas nós não precisávamos ser um casal, além disso, eu não era uma coitada por estar grávida, o neném sairia do meu corpo em algum momento, então, iria trabalhar e cuidar dele, não era necessário ter um homem comigo.
Ter aquela conversa com minha mãe alimentou uma força dentro do meu ser antes desconhecida, senti como se pudesse tudo, uma mulher forte, que conquistaria tudo que quisesse, e meu filho não seria um empecilho, embora soubesse que não seria nada fácil conciliar tantas funções, eu tentaria, além disso quando o neném nascesse eu já teria dezoito anos, então poderia correr atrás de um emprego.
Dez minutos depois meu pai estava na cozinha com a chave do carro em mãos, nos apressando, ficamos em silêncio durante todo trajeto, a tensão pairava no ar. Algum tempo depois estávamos estacionados em frente a residência de Arthur, mamãe havia ligado na noite anterior para o pai adotivo dele informando que precisavam conversar sobre um assunto de extrema seriedade e que a presença de seu filho era indispensável. Minhas mãos ficaram geladas ao descer do carro, sempre fui muito tímida e ser o centro das atenções, ainda de forma tão densa deixava em pânico. Como sempre fomos recepcionados pela empregada que ninguém sabia o nome, ela nos dirigiu até a sala espaçosa e orientou que sentassemos no belíssimo sofá branco de couro com três lugares, pois, em instantes o "tio rico do cara mais filho da puta do mundo " estaria ali. Não pude evitar as péssimas lembranças ao olhar para escada, aquela maldita escada, onde Arthur tinha entregado sua farsa e destruído a minha vida. encolhi-me.
_Bom dia, minha corretora favorita._Berrou o tio de Arthur com uma voz estridente.
_Bom dia, senhor Sartori._Disse mamãe levantando-se do sofá.
Arthur surgiu por trás do tio, meu sangue congelou ao vê-lo, ele parecia surpreso e apavorado ao me ver, provavelmente já passou pela sua cabeça de que se tratava o assunto. Os dois sentaram no sofá que ficava em frente ao nosso, mamãe sentou-se também. Ficamos todos nos olhando por alguns minutos até que papai quebrou o gelo.
_Bom, senhor Sartori, sei o quanto é ocupado, e em função disso agradeço sua presença._Disse papai com a voz trêmula, provavelmente estava nervoso.
_Não há de que! Além de termos negócios somos amigos, fico muito contente por estarem aqui. Mas confesso que fiquei curioso, o que os trouxe aqui tão cedo?_ Ele gesticulou apontando para o relógio enquanto falava.
_É muito complexo, mas vou ser direto, parece que nossos filhos tiveram um envolvimento._Falou papai didaticamente tentando encontrar meios para começar aquela difícil conversa.
_Mas isso é ótimo, agora seremos família, não precisavam ter vindo até aqui por isso, faço muito gosto nesse relacionamento._ Disse o tio de Arthur demonstrando grande satisfação.
Enquanto isso, meu coração parecia que iria sair pela boca, meu ex ficou o tempo inteiro me fuzilando com seu olhar de fúria, ele com toda certeza estava pensando que todo aquele circo era obra minha para prendê-lo, como se eu precisasse disso.
_Eu também fazia, mas o caso é que minha filha está grávida e seu filho se nega assumir._ Despejou meu pai, livrando-se do peso.
_O que? Como assim grávida? Como assim não vai assumir?_Ele ficou de pé, caminhava de um lado para o outro enquanto indagava._Isso é verdade Arthur? Você rejeitou seu próprio filho? Logo você?_ Sua atenção voltou-se para Arthur, com toda certeza ele queria matar o sobrinho.
_Tio, eu não tenho certeza se é meu?_ Defendeu-se Arthur.
_Como é que é? Vai se foder seu filho da puta! Você sabe que eu nunca tive outro._ Não consegui me conter, ele estava me acusando do quê afinal? De um golpe da barriga? Ele conviveu tempo o suficiente comigo para saber que eu jamais seria capaz de algo do tipo. Todos ficaram em silêncio com minhas palavras escrotas, principalmente meus pais.
_ Aurora fica acalma, por favor._ Tranquilizou mamãe me abraçando.
Sem dúvidas esse foi o pior dia da minha vida, não bastava eu ser humilhada com a porra dos vídeos, o filho da puta ainda deixou um filho dentro da minha barriga, e para piorar tudo ainda tinha que implorar para ele fazer algo totalmente natural, afinal de contas os pais registram seus filhos, por que ele se negava tanto? Logo ele que também foi rejeitado. As pessoas continuaram falando, comecei a ficar enjoada, tonta, minhas pernas não respondiam, meu coração estava acelerado, a última coisa de que me lembro é de ouvir meu pai falando "Faremos um exame de DNA", então desmaiei.
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361° As Faces De Aurora
RomanceVocê já olhou para o céu e percebeu a sua insignificância hoje? Eu sim. É estranhamente inquietante saber que sou apenas um ponto em vasto e desconhecido universo. E se eu for apenas uma bactéria, o universo um corpo e a terra não passar de uma...