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- Merda.- a menina que vestia uma bota de cano alto batia os pés no chão, esperando a amiga na frente da casa.- Jennie!

Já era a quarta que gritava pelo nome de Kim, e sempre ouvia um "espera, Cheng". Jennie é minha amiga de longa data, nos conhecemos no terceiro ano do ensino fundamental, e dês de lá, nunca mais nos desgrudamos. Nós duas crescemos como irmãs, sua casa é praticamente minha, e vice versa. Nossa turma anda recebendo muitas provas ultimamente, os professores parecem nos odiar. E hoje, teria prova de física, e não queria mesmo chegar atrasada na prova, uma matéria que eu vou realmente muito mal. Estava apressada, mesmo que ainda estivéssemos dentro do horário.
Chutava uma das diversas pedrinhas que estavam em minha frente, fazendo um barulho quase mútuo de pedras claras se batendo, se espalhando.

- Eu não te suporto mais.- Ouviu a voz sonolenta de Jennie soar alto de dentro de casa. Abriu a porta, suas olheiras eram notáveis de longe.- Não pode esperar mais um pouquinho, uh?

Kim fechava a porta com o pé, emburrada. Sorri encantada pelo cabelo bagunçado e corri até ela, com um pouco de dificuldade por conta das botas de couro que iam até os joelhos. Segurou os cafés que provavelmente a mãe de Jennie havia feito para nós, já é costume ir para a escola tomando um belo café expresso de Sra. Kim. Ela é dona de um dos melhores "coffe bar" aqui em Seul.

- Está quente, cuidado.- Aquela me alertou quando trancou a porta, e pegou um dos copos descartáveis de minha mão. Jennie tem uma boa quantia desses copos guardados.

- Agradeça a sua mãe por mim, Nini.- Sorri, levando o copo até o nariz, sentindo o aroma forte de cafeína.

- Me agradeça desta vez, fui eu que fiz!- sua voz soou orgulhosa de si, ajeitando sua mochila em sua costa, fiz uma careta.

- Ah! Então esqueça, não vou tomar. Deve estar terrível, você é péssima na cozinha, Jennie!- falei olhando nos olhos dela, a vendo me repreender com aqueles seus olhos escuros.

- Está ótimo, ok?! Se você não gostar pode gastar uns muitos wons em um café que nem sempre está bom. Pode deixar todo o trabalho feito por sua amiga durante a manhã no lixo. Você pode, caso não gostar.- falou de modo dramático, fazendo cara de choro.

- Eu nunca me canso de seus dramas.- disse rindo e ela sorriu bebendo do café, e eu fiz o mesmo. Estava bom, mas eu nunca irei admitir isso. Jennie me olhava esperançosa.- É, eu aguento.- disse soltando um suspiro sofrido, e ouvi uma risada aguda dela.

Andávamos em passos lentos na calçada limpa onde frequentavamos todos os dias, indo e vindo da escola. A casa de Kim era algumas quadras longe da escola, quatro para ser mais exata. Conversávamos sobre todos os assuntos possíveis, rindo de piadas internas que só nós entendemos. Também pude ouvir Jennie reclamando boa parte do tempo por acordar mais cedo que o necessário. Eu estava indo mais cedo por conta da prova, por que gosto de ficar no pátio principal, lendo em um papelzinho o assunto resumido. Mas, também tenho um outro motivo, e o nome dele é: Lalisa Manoban. Ela chega extremamente cedo na escola. Observo Lisa há algumas semanas já, me encanto pelo jeito que a menina dança, mas, principalmente, pelos livros que a menina lê. Sinceramente, sou apaixonada por livros, de preferência antigos. Lisa é realmente uma menina encantadora, mas, é fodidamente tímida perto de pessoas que não sejam: Jisoo, BamBam, e Jinsoul. Eu já percebi isso. Lalisa não é uma pessoa de muitos amigos, pelo menos não na escola. Eu reconheço que tenho uma quedinha pela menina, mas, nunca troquei palavras além de "bom dia", "me perdoe" e "eu amo este livro", e tudo o que eu recebo, é um sorriso envergonhado de volta. Soube que Lisa já esteve em depressão profunda, no início do coma de sua mãe, à quase três meses. Mas, melhorou, porém nunca foi tão sorridente como sua melhor amiga, Kim Jisoo. Soube sobre esse assunto pessoal de Lisa sobre ela, Lisa andava faltando muito, e eu perguntei se estava tudo bem, e Jisoo, como uma garota tagarela que é, me contou tudo sobre o acidente que ocorreu com a mãezinha de Lisa, falou que ela não saia do hospital por nada. E foi aí que comecei a admirar ela, ela não saiu de lá até darem resultados positivos para a família Manoban, que ela iria ficar em coma durante alguns meses, no máximo dos máximos, uns seis meses. Por ai. Não me lembro exatamente. Posso admirar e saber algumas coisas sobre a vida daquela, porém, nunca lhe segui como algumas meninas apaixonadinhas fazem. Isso é doentio, é realmente escroto. Me perdi em meus pensamentos, ignorando totalmente as reclamações de Kim, reclamações que fazia de seus pais, deixava bem claro que eles eram "chatos demais", por mais que eles sejam uns amores.

- Olha lá as princesas, Jack! bom dia para as Belas Adormecidas!- Cheng lavantou a cabeça assim que reconheceu a voz conhecida, sorrindo.

A menina cutucou Jennie com o cotovelo esquerdo e seguiu em passos rápidos para dentro da escola, correndo em direção aos amigos. Abraçou Sooyoung com todas suas forças, deixando um beijinho na ponta de seu nariz, ouvindo-a sorrir. Percebeu que Jennie andava com lentidão até eles, revirou os olhos.

- Você ainda está dormindo, Nini?- Ouviu a voz de Namjoon vindo de trás da menina, que deu um tapinha na cabeça dela.

- Olhe as olheiras dela...- Jack disse contínuo, com um sorrisinho.- Passou muito tempo tentando arrumar uma namoradinha nos últimos dias, Jendeuk?- O moreno falou, o que fez Kim soltar vários palavrões dirigidos aos meninos, e novamente mais drama.

Park Chaeyoung é rodeada por pessoas, não sabe se é por conta de ser realmente muito amigável, ou, por conta de seus outros muitos amigos. O grupinho de sempre é formado por Jennie, Joy, Jackson e Nam. A Neozelandesa é a única com neurônios funcionando dentre os cinco. Jennie é reclamona e muito dramática, Sooyoung é realmente bem escandalosa, Jackson Wang é um bobo. Namjoon é realmente muito atrapalhado, já quebrou tanta coisa por essa escola, que me canso até mesmo de pensar. A menina se abraçou nas costas de Namjoon ouvindo Sooyoung dizer como a sua viagem para o Canadá foi Ótima. "Os olhos dela estão vermelhos." falou para Nam perto de seu ouvido, "Drogas pesadas." Recebeu um sussurro do garoto e riu dando um tapinha em suas costas. Viu rostos conhecidos perto da cantina que havia no pátio, ali só haviam comidas caras, e nem eram tão boas quanto as das tias da cozinha. Pode reconhecer os cabelos loiros de Jinsoul presos em um rabo de cavalo de longe.

- Eu vou lá e já volto.

- Lá 'aonde?- Perguntou Jennie que estava totalmente atirada no murinho baixo que tinha ali.

- Lá, poxa.- Cheng tocou a própria barriga.

- Gorda.- Ouviu Joy falando baixinho, e eles sorriram.- Vai lá, depois te conto como eu quebrei uma mesa de um restaurante chique!

- Oh, 'que ótimo!- riu, deixando os amigos para trás.

A menina esfregava a mão nas laterais de seu sobretudo fazendo questão de tentar esquentar as mãos com os dedos gelados. O vento se tornou gelado, estava nublado, e a temperatura estava realmente fria. O tempo deu uma recaída de uns dias para cá. Uma semana atrás, eu usava saias e camisas de tecido fino, e hoje, uso botas, jeans escuras, e uma camisa branca de mangas curtas por baixo do sobretudo marrom bem quentinho.
Levou as mãos até perto de sua boca, soprando elas tentando as deixar o menos geladas possível. Com pressa, escondeu suas mãos em seus bolsos e andava em passos lentos e largos, mordendo uma partizinha de seu lábio inferior, provando o gloss de morango infantil que passava nos lábios, para proteger. O gostinho era bom, não podia negar.
Chegou na fila, onde haviam apenas três pessoas, para a surpresa de Cheng, porque a cantina é sempre lotada de gente. Foi pegar o dinheiro em sua mochila quando acidentalmente, acertou o menino em sua frente.

- Me desculpe!- deu um passo para trás, se curvando para o menino.

- Não se desculpe, Cheng.

Reconheceu a voz. Sorriu.

- Aliás, bom dia BamBam!- recebeu um sorriso como resposta.

Observava o menino, que hoje estava com um visual diferente. Ele pegou dois pastéis, e com um pouco de dificuldade, pegou um suco de laranja em uma garrafinha de vidro. Se aquilo caísse, iria dar um ótimo barulho para quem ainda estava com sono nessa hora da manhã, Chaeyoung sorriu. "Tchauzinho", recebeu um murmúrio baixo do Tailandês e sorriu largo. Escorou a cabeça na palma da mão, enquanto folheava o cardápio. Resolveu pegar um espetinho de frango, que já estava pronto.

- Você acordou que horas para fazer isso, 'tia?- perguntou de modo amigável e não obteve resposta.

A mulher estava com a típica "cara de bunda". Suspirou agoniada, pagando a mulher com uma redinha na cabeça, e esperou seu troco. Rodiava os olhos por todo o frango empanado ali, sentindo cada lugarzinho de sua barriga estremecer. Guardou o dinheiro de modo desajeitado no bolso traseiro de sua calça jeans preta, apertada, que de certo modo esmagava as suas coxas. Deu uma mordida, e se deliciou no pedaço bem temperado de frango, ouviu passos desesperados quando ela pegou o salgado vindo até ela. Era Jennie. Com toda certeza.
Ergui o olhar para ver Jennie, e sim, era ela. Mas senti minha pele ficar rosada nas bochechas quando vi quem vinha logo atrás dela, em passos lentos. Cabelos lisos e encantadores. Sentiu seu ar travar.
Lalisa Manoban, acabou de passar pelo portão da escola.

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