Saía daí | 1954

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quatro de setembro de mil novecentos e cinquenta e quatro.

"Número 307 é um número que sempre amedrontou os moradores da rua. E naquele dia não foi diferente quando encontraram o corpo de um jovem na casa."

"— Ajusshi, não faça isso!"

"— Você sabe que não temos escolhas, é nosso castigo garoto. Até a garota que irá nos libertar desse pesadelo... Todos que entrarem aqui irão morrer."

"— Você é doente. Tudo isso é culpa sua e você insiste em falar que eu tenho culpa."

"— Se você não tivesse seduzido a minha filha nada disso estaria acontecendo."

"— Nós nos amávamos, Ajusshi, e você estragou tudo."

"— Cala-se. Cala-se que você não sabe o que diz moleque imundo. Vá e faça o que tem que fazer, não adianta em nada relembrar o que deve ficar no passado."

ANTÔNIO ANDAVA SILENCIOSAMENTE pela sala da casa esquecida pelo tempo, o rapaz de vinte anos estava encantado pela beleza interior da residência nada assustadora, vale ressaltar. A pouco havia invadido a casa 307, pelas histórias que sempre escutou desde pequeno, achava elas divertidas e eram as suas histórias prediletas. Olhou para todos os lados e encontrou uma poltrona elegante, sorriu e caminhou até ela logo se sentando nela, imaginando como seria se fosse o dono daquela casa.

JungKook observava o rapaz com pesar no coração. Sabia o que iria acontecer com o rapaz por não ser parente do Ajusshi e por estar invadindo uma casa, ainda mais sendo aquela casa. Estava triste que aquela felicidade e as brincadeiras do rapaz iria acabar em instantes. O senhor ao seu lado continha um sorriso melancólico em sua face e um tanto divertido, franziu o cenho querendo impedir o ataque eminente que logo iria acontecer.

— Ande logo, Jeon JungKook.

— Não precisa ficar me lembrando do que eu tenho que fazer — rosnou baixinho — de mais um tempo para ele.

— Não a tempo, moleque, dando ou não esse maldito tempo ele irá morrer. Então para que prolongar mais o seu sofrimento?

O asiático suspirou infeliz, virou seu calcanhar e caminhou para o outro lado da sala, atravessando lugares do cômodo que Antônio não podia o ver. Se posicionou ao lado do paraibano e o observou, esperando o momento que o homem fosse notar que estava sendo observado. O homem estava distraído e dificilmente iria notar Jeon ali.

— Suma — disse baixinho, mas o suficiente para que o outro o ouvisse.

Antônio se arrepiou com a voz arrastada e melancólica que acabara de escutar, apertou os dedos no estofado da poltrona e deixou seus olhos atento a qualquer coisa no cômodo, olhou tudo atentamente até encontrar um vulto ao seu lado, fechou seus olhos e abriu novamente não encontrando nada. Levantou-se desnorteado e deu passou para trás atordoado, sua respiração estava desregulada e suas mãos suavam.

— Saia antes que seja tarde demais — escutou novamente, mas não sabia de onde vinha aquela voz, já que todo o ambiente da residência ecoava a voz assombrosa — ele vai te pegar, saia, saia, saia. Ele vai, ele vai, oh, cuidado.

Conforme as palavras iam se repetindo Antônio se afastava e tentava se proteger como podia, o ambiente estava gélido e sua respiração estava esbranquiçada. O que estava acontecendo? Essas histórias não existem! É coisa tudo da minha cabeça, sim, é minha imaginação brincando comigo.

Correu desnorteado, tentou abrir a porta para sair da casa, mas a mesma estava trancada. Desesperou e olhou tudo, andando de um lado para outro, de um cômodo para o outro. Parou na cozinha quando pode ver uma sombra de um homem na sombra, esticou o corpo todo e forçou a vista tentando enxergar melhor. A sombra se mexeu e um homem com um furo no meio da testa apareceu. Uma cena horripilante, o sangue estava seco ou parado. Não sabia determinar, as roupas sujas e o sorriso que tinha na face do homem o assustava.

— Não, saia daí — escutou, mas não do homem. Ele não tinha movido sequer um músculo, somente o olhava.

— Deveria ter escutado o moleque — o homem disse, com a voz esganiçada.

Antônio deu um passo para trás e procurou com sua mão algo para se proteger, infelizmente não encontrando. O monstro, segundo Antônio, soltou uma risada estridente e levou sua canhota para frente revelando uma faca em mãos, deu um passo para frente, se aproximando do paraibano que tremia com medo. Atrás do monstro um jovem apareceu com a pele extremamente branca.

O jovem olhava tudo calado e com um olhar caído, Antônio sussurrava pedidos de socorro para o jovem, mas nada ele fazia enquanto o outro se aproximava dele, mas logo parou, erguendo a canhota jogando a faca em si, acertando em seu abdômen tirando seu ar no mesmo instante.

— Histórias muitas das vezes são verdadeiras — sussurrou o jovem que até então estava calado e logo desapareceu, junto com o monstro, deixando Antônio falecer aos poucos, sem chance de pedir por socorro. Morrendo por uma "burrice" cometida.

307 ━━ jeon jungkookOnde histórias criam vida. Descubra agora