Sentado no topo do prédio mais alto e acabado de meu bairro, abri meus olhos. Mais um dia de merda no pior lugar do mundo. Levantei-me sem muitos rodeios, moradores de Dowtown não podem se dar ao luxo de ficar tristes ou pra baixo, o que é tão irônico quanto revoltante. Corri até a beirada do prédio e saltei, segurando-me numa barra de metal logo em seguida e deslizando para dentro de um dos apartamentos vazios, afinal ninguém é idiota o suficiente para morar em um lugar deplorável destes, tendo poderes é claro, o que não é meu caso. Fiz minhas necessidades, tal como escovar os dentes e tomar um banho na água gelada, que por alguma razão continuava a correr pelos canos desse prédio, e logo após sai correndo para saltar novamente do prédio, puxando minha mochila que deixava pendurada num compartimento secreto no para-peito da construção, e logo estava no chão, ou melhor, num dos colchões que sempre deixo posicionados para não morrer terrivelmente em um dos meus pulos. No caminho, um policial com poderes estranhos de lobo corria atrás de um bandido com foguetes nas pernas, eu podia impedi-lo, mas simplesmente abri caminho para ele, dando um sorriso e acenando.
-- Bom dia, brother. - disse para ele, que acenou de volta.
-- Por que não parou ele, você é idiota?! - o policial exclamou, visivelmente irritado.
-- Mas esse é seu trabalho. Você não pode sair culpando os outros por sua incompetência. - respondi com as palavras na ponta da língua.
-- Você sabe que se isso chegar aos ouvidos do Grande Ancião você estará em apuros, não sabe, moleque? - colocou sua mão em meu ombro, que logo encarei.
-- Seria trágico se chegasse aos ouvidos dele que um de seus guardas está culpando um adolescente indo para escola de algo que ocorreu por sua causa, não acha, Oficial Bubbles? - segurei sua mão e a lancei para fora de meu ombro.
-- É Bibbles, e vá logo pra escola, não tenho tempo pra mais ladainhas. - saiu correndo, nas quatro patas, mas era tão lento e desajeitado que até mesmo uma idosa com poderes de gelo o ultrapassou.
Segui meu caminho até a escola, mas ouvi um grito vindo de trás de mim. Instintivamente me virei, afinal, mesmo que eu não ligasse para o bem estar de ninguém além de mim, aquilo poderia me atrasar ainda mais. Quando me virei, vi o bandido que não consegui impedir, ou melhor, não quis impedir, roubando mais um pessoa, e dessa vez ele estava indo longe demais, pois suas intenções iam muito além de um simples roubo.
-- Escute, eu odeio ter que dar moral pra bandido de meia-tigela, mas recomendo que solte a moça e siga seu caminho, eu não sou do tipo que fala duas vezes. - caminhando em passos lentos até o bandido, segurei um pedaço de ferro em mãos.
-- Some daqui, e cuide da sua vida, pivete imundo que sequer tem poderes. Vou fazer com ela o que eu quiser, e você não vai poder me impedir, porque vou fazer o mesmo com você depois dela. - com um sorriso malévolo, vomitou tais palavras em mim, que causaram repúdio imediato.
-- Posso não ter poderes, posso não ter senso heroico, mas eu odeio injustiças. - corri em direção ao bandido dos foguetes, que soltou a garota e partiu a todo vapor em minha direção.
Surpreso ao ver a ingenuidade do homem, apenas abaixei a barra de metal na altura de suas canelas, e me desviei, fazendo com que toda a velocidade dele o levasse para o chão, e seus foguetes o mandassem de cara para uma parede, se morreu eu não sei, mas nesse estado vai ter que ser caixão fechado. Limpei minhas roupas, e fui até a garota desacordada, evitei tocá-la, apenas fiquei olhando até que ela abriu os olhos.
-- Pra uma garota de Toptown vir pra Downtown algo muito grave deve ter ocorrido, ou você é só burra mesmo? - frio, perguntei a menina, que se encolheu.
-- Como... Como sabe que sou de Toptown? E porque toda esse frieza?! - aflita, perguntou para mim.
-- Seu jeito de burguesa entrega qualquer um, moça. Agora levante-se, não tenho tempo pra ficar protegendo damas indefesas, não sou o Mario, muito menos herói clichê de Midtown. - segui meu caminho, sem olhar para trás, mas a garota loira continuava a me seguir, então parei.
-- Pode me dizer seu nome? - perguntou, caminhando ao meu lado.
-- Sou J-Kill, mas pode me chamar de J-K. Eu perguntaria o seu, mas não dou a mínima, agora vê se para de me seguir e toma seu rumo.
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O Poder do Amor - Uma releitura dos clássicos de super-heróis
RomanceO ano é 2019, todos seres humanos possuem ao menos um poder, mesmo bebês. A humanidade se tornou autoritária, e o mais poderoso humano subiu ao poder, ditando regras que todos foram imediatamente obrigados a seguir, mas há aqueles que ignoraram tal...