Capítulo 41

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M A R I A   E L I S A 🌻

Estava vendo o homem, meu pai no caso, me encarar sentando em um cadeira de braços cruzados, como estava deitado no colchão virei ficando de frente pra parede.

— Eu vou resolver umas coisas e já volto — ele disse e logo em seguida ouvi a porta se abrindo, e depois se fechando —.

Depois de uns minutos ele voltou com uma sacola, e me entregou sentando novamente na cadeira, só que percebi que estava com um livro infantil.

— Gosta de ler? — perguntei abrindo uma sacola vendo uma marmita —.

— Leio pra minha menorzinha de noite, antes dela dormir — ele disse e concordei —.

Comi em silêncio, enquanto ele ficava focado no livro, fazia caras e bocas lendo o mesmo, era até engraçado de se ver.

— Aonde tu vai? — perguntei quando vi que ele tinha se levantado —.

— Pra minha goma, já deu meu horário — falou já na porta — alguém vai vir trazer cobertor pra tu, tchau.

Assim que ouvi a porta ser trancada do outro lado revirei meu olhos e me levantei, fique andando de um lado pro outro, sem paciência eu tava, pra falar a verdade eu não tenho paciência, isso tá me dando nos nervos, odeio, fico agoniada quando fico muito em um lugar só, sem nada pra fazer.

Comecei a bater na porta, dando chutes e socos na porta, eu estava me machucando? Sim, mais também tava esmurrando ela.

Alguém abriu a porta com tudo e era o menino de antes, provável ser meu irmão, isso não vem ao caso agora.

— Tá louca mina? — ele perguntou com sua arma em mãos —.

— Me deixa sair daqui? Só por uns segundos, não tô conseguindo mais respirar direito aqui — falei me apoiando na porta —.

Ele se afastou e pegou seu radinho, depois de ter conversado com sei lá quem ele voltou e parou em minha frente.

— Vamos, tu vai andar um pouco e depois volta — falou abrindo outra porta que tinha por ali —.

Saímos, e pude ver vários homens armados, pode-se dizer que já me acostumei com isso.

Fomos caminhando, estava de noite e seguimos direto pro parquinho, tinha crianças brincando, e perto tinha uma quadra de futebol onde tinha meninos jogando, uma parte mais afastada tinha uns traficantes onde bebiam e fumavam perto de mulheres.

— Quer alguma coisa? — ele perguntou se sentando em um banco —.

— Ir pra casa talvez? — perguntei dando de ombros e me sentei também —.

— Sem paciência — ele falou pegando seu cigarro de maconha —.

— Por favor, não perto de mim — eu falei e ele guardou —.

Ficamos vendo os meninos jogar, e a felicidade deles de marcar um gol.

— Bora, já deu meia hora — ele falou e se levantou —.

— Não, por favor — disse juntando minhas mãos e ele negou —.

Voltamos pra onde estávamos e assim que cheguei no quartinho fui direto pro colchão.

Não sei porque, mais comecei a chorar, chorar de soluçar, acho que por eu estar nessa cituação, pela morte da minha mãe e dos meus avôs, por achar que estou sentindo algo pelo Vinicius.

Acordei no dia seguinte com alguém batendo na porta, abri meus olhos e vi o meu suposto pai batendo na mesma e ele já dentro do quarto.

— Já são 11:00, o resultado esta aqui — falou me dando alguns papéis — vê o resultado aí.

Fui folheando cada papel e parei em uma parte "POSITIVO".

— Deu positivo — falei limpando uma lágrima que caiu — agora posso ir?

— Vou mandar te deixarem na frente do teu morro — falou se levantando da cadeira e seguiu pra porta — Vamos.

Me levantei e segui ele, cada passo apertava mais o papel em minhas mãos, ele me pediu e dei, ele suspirou e me entregou de volta.

— Pede pro Neguim levar ela no morro Chapadão — ele disse para um cara que foi chamando o outro pelo radinho —.

Fiquei esperando ele ao lado do TH, vulgo papai, fui ver de novo isso e realmente não tinha lido errado, porque estou chocada?

— Fica tranquilo, não vou exigir nada de tu — falei revirando os olhos balançando minhas pernas —.

Ele não disse nada, o carinha chegou, dobrei bem dobrado os papéis e coloquei em meu sutiã, subi na moto colocando o capacete e segurei na parte de trás.

Vivendo em dois mundosOnde histórias criam vida. Descubra agora