O vento balança meus cabelos que já estavam desalinhados assim como o que ainda resta de meu coração ; desde que você se foi não sei mais o que é sobriedade, felicidade ou paz. O cheiro de terra molhada invade meus sentidos, o canto dos pássaros parece lamentoso, carregado de desconsolo.
Levo aos lábios ressecados e rachados meu ultimo cigarro rogando que me perdoe, desde que partiste me entreguei sem pudor algum ao desarranjo na esperança de que me levassem para perto de ti. Carrego a mácula de um sem futuro, desvairado, uma sombra irreparável do que havias começado a lapidar antes de partir precocemente.
Abro o colarinho de minha camisa e dobro as mangas do jeito que você insistia em dizer ser demasiadamente desmazelado não conseguindo evitar a ardência que insiste em nublar minha visão, o mundo não é visto da mesma forma sem tua formosa presença. Me questiono se de onde queres que esteja me julgas por negligente, se ainda me olhas com o mesmo sorriso reprovador ao perceber que por fim o boêmio não teve cura.
Conto para ti amada minha, não há uma mesa de bar nesta pacata cidadela que não tenha ouvido minhas lamurias sobre a perda daquela que alumiava meus dias. Minha gaita nunca mais entoou nenhuma melodia alegre, apenas notas solitárias e tristes que contam as mazelas dessa vida. Minha visão do mundo parece muito mais dura do que queria que fosse mas como poderia ser diferente depois de tê-la perdido para a impiedosa mão da morte?
Recordo-me perfeitamente da maciez de teus cabelos longos espalhados por meu peito todas as vezes em que deitamos juntos embaixo de nossa macieira no topo da colina, escondidos nas sombras projetadas pelas folhas, ausentes de todos os problemas, teus olhos cor de mel que miravam os meus sempre com tanta paixão e fervor, revirando o mais profundo de minhas entranhas. Tua voz melodiosa, ainda posso ouvir ao fechar meus olhos cansados, teu cheiro o vento trás todas as manhãs junto do raiar do sol, vives em mim.
Ressoa em meu peito cada palavra dita por tua voz, cada promessa feita e a certeza de que não fomos trazidos a este mundo apenas para sermos separados de forma tão cruel. Tomam-me por louco ao me ouvirem dizer que nossa história não teve fim, ora, como poderia um homem seguir amando uma mulher que não habita mais nosso mundo? Queria ter tais respostas, queria explicar a certeza que carrego em meu peito de que em breve nos reuniremos novamente.
Olho ao longe o horizonte tomar sinais de que a chuva virá em breve, o ceu acinzentado combina com a cor de minh’alma , as gotas de chuva servem para esconder meu pranto e o barulho dos trovoes calar meus gritos de dor e desespero.
A ausência tua dói-me tanto que sinto minha lucidez esvair a cada novo dia, enquanto meu fatídico fim não chega eu sigo nesta terra de nosso Deus apenas para eternizar em palavras o que tanto demorei para expor a você.Pra sempre teu,
N. Vilella
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Ecos
Short StoryApenas mais um jovem buscando encontrar em mesas de bar o que a morte fez questão de lhe tirar.