– Escuridão? As luzes ainda estão acessas do lado de dentro da muralha, mas fora dela não há uma única luz, tudo se tornou escuridão. Meu pai sempre me conta que em algum momento as pessoas viviam livres no mundo. Elas trabalhavam para viver, ter uma boa casa, um carro bacana, sair de férias em um lugar muito bonito com os filhos, comprar coisas gostosas de comer e que a única guerra que havia era entre os governos. Uma coisa chamada primeira e segunda guerra mundial, atentados a alguns edifícios e que a maior parte da população nem era afetada com isso. Nosso planeta era dividido em classe média, alta e baixa. Que as crianças iam para a escola estudar, depois para a faculdade ou universidade e que depois disso tinham suas famílias e ceia de natal com presentes embaixo de uma árvore coberta de bolas coloridas e luzes brilhantes. Porém no ano de 2022 em um dia que o sol não nasceu criaturas de preto saíram pelas ruas por todo o mundo e não houve mais felicidade, só se ouviam gritos..
– Como elas são? – Anita olhou para mim e disse mais do que confiante. Sua franja desceu cobrindo um dos seus olhos ela gentilmente levou uma das mãos ao rosto colocando a franja para o lado, mas por nenhum segundo se querer desviou os olhos de mim esperando pela minha resposta, não podia decepciona-la.
– Alguns dizem que as criaturas são como monstros, olhos vermelhos e grandes, garras afiadas, grandes como touros, seus dentes são imensos e dilaceradores, eles primeiro sugam a nossa alma com suas narinas e depois...
– Elleonor já chega dessa história. – Hector entrou na sala da casa maior acendendo a luz.
– Mais elas gostam. – eu apaguei a lanterna.
– Vão pro pátio crianças. – ele sorriu e mais do que de pressa as crianças se curvaram em respeito e cada uma saiu em ordem e sem barulho da sala, fiquei sentada no sofá observando.
Hector é filho de Arthur o Rei da nossa monarquia absoluta. Não tentem entender. Na verdade eu mesma nunca pensei em outra forma de governo que não fosse por monarquia. O que meu pai conta é que o único governo que sobreviveu as criaturas foi da Inglaterra, por isso, hoje todas as muralhas têm reis e rainhas, mas antes a monarquia era parlamentarista e hoje é absoluta. A família do Hector está na segunda geração e ele é o nosso próximo Rei.
– Majestade – fiz reverencia a ele que no mesmo momento fechou a cara para mim.
– Para Elleonor. Sabe que não acho a mínima graça nisso. - se jogou no sofá deixando todo o peso desmoronar se espalhando. Hector só podia ter os olhos de um Rei, claros como o azul do céu durante as manhãs, se comporta na frente de todos como um membro real deve se comportar, mas na minha frente ele costuma bagunçar o cabelo castanho liso e sentar da pior forma possível. Braços estendidos pelo encosto do sofá, cabeça jogada para trás e nenhuma formalidade como postura ereta e pernas e braços alinhados ao corpo.
– Mas, você tem que aceitar, querendo ou não. – deitei no colo dele cruzando minhas pernas sobre o sofá. Hector nunca entendeu o porquê de ser Rei, e mesmo não querendo ele aceita a posição que foi dada a ele, já o seu irmão Josh, esse sim queria poder governar, mas ainda tem dez anos e é o segundo na linha do trono. Já O Hector gostava de ser um Hunter e aproveita isso o quanto pode até chegar o dia em que o seu pai irá lhe passar a coroa o que vai demorar um bom tempo.
Como nós vivemos? Dentro da muralha que nos protege das criaturas. Ela foi construída muito antes do meu pai nascer, e cada um tem uma função que deve ser seguida dia após dia, é assim que sobrevivemos. Nosso Rei que por mera coincidência é Arthur, nos governa juntamente com o ministério que é composto pelo líder de cada grupo ou clã (como os desgarrados ou sem clã gostam de chamar). Quando completamos o décimo oitavo ano de vida passamos por duas provas que define o que seremos e o que faremos dentro do nosso povoado.