Capítulo Único

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Jimin estava ansioso.

Ele finalmente ia conseguir a sua tão almejada liberdade, após muito, mas muito tempo, escondendo quem realmente era.
Desde que se conhece por gente, Jimin sempre se sentiu diferente de seus familiares.
Nunca foi fino ou elegante como a mãe, que era um exemplo de
“mulher perfeita” para a alta sociedade onde viviam.
Nunca foi sério ou imponente como o pai, que CEO de uma empresa
multinacional e milionária no mercado, era o sonho de consumo
de todas as mulheres para um marido, de todas as “amigas” de
sua mãe.
E nunca, nunquinha mesmo, foi parecido com seu irmão: Loiro, alto, e com um físico que deixaria um lutador de MMA com inveja.
No ensino médio, seu irmão era o cara mais popular, capitão do
time de basquete, pegador da escola, e muitos outros adjetivos, que para a época, eram essenciais para todos os meninos que quisessem ter uma namorada bonita.

Jimin sempre foi a “ovelha negra” da magnífica família Park.

Baixo, com bochechas grandes, curvas “afeminadas” demais para um rapaz de seu porte, com olhos pequenos e óculos enormes que escondiam metade de seu rosto, sempre enfurnado em livros, e muito tímido, por mais que doce, ele sempre foi o
oposto do que seu família julgava como o certo em questão de aparência e personalidade.

E sua família ainda nem conhecia o verdadeiro Jimin.

Por dentro, Jimin, apesar de realmente ser um pouco tímido,
adorava tudo o que sua família repudiava:
Sua paixão era rock n’rool, amava suas roupas rasgadas e pretas, nas festas, sempre era o que mais bebia e fazia merda com os poucos amigos
verdadeiros que tinha, obviamente, adorava seus livros, mas não os romances que as pessoas sempre achavam que ele devorava, e sim os suspenses e terrores que ele gostava, sendo Edgar Allan Poe e Steven King, seus grandes ídolos da literatura.
Porém, por fora, Jimin era apenas o filho gay (o que já era ruim o bastante para os seus pais) e recatado dos Park’s, sendo visto por todos como uma eterna criança inocente.

Coitados.

Jimin já estava conformado com a sua vida dupla, infelizmente.
Sendo o que a sociedade e,
principalmente, sua família queria de dia, e sendo ele mesmo durante a noite.
Afinal, com 21 anos, ele
ainda era dependente da família, estando no segundo ano de Administração na faculdade de Busan (curso o qual odiava, mas
ainda era o menos pior no qual podia ter acesso, segundo seus
pais) e, impedido pelo pai de tentar conseguir qualquer emprego, porque, pelas palavras do patriarca dos Park’s:
“Jimin não necessita trabalhar, ele já tem tudo, e se for trabalhar, que seja
nas empresas Park!”.
Então, Jimin não se via com muitas opções pela frente, se sentia até com sorte por conseguir sempre sair à
noite sem ser pego, ou não ter nenhum tipo de “casamento
arranjado” esperando por ele no futuro.

Jimin se sentia conformado, e sem esperanças para seu futuro,
isso, até conhecer Jeon Jungkook.

Jimin conheceu Jungkook em uma festa numa boate conhecida
da cidade.
Estava encostado no balcão do bar, olhando ao redor, avistando Taehyung e Hoseok, seus melhores amigos, numa situação que o fez rir: Os dois estavam quase se comendo no meio da pista, enquanto dançavam tão colados que era difícil distinguir quem era quem.
“Porque não assumem logo que se
amam?” pensou Jimin, soltando uma risada anasalada, tomando
o seu shot de tequila que finalmente havia chego.
Foi quando se sentiu observado. Olhou mais uma vez ao redor, e
avistou quem estava o olhando com tanto afinco, e o que viu o
fez perder o ar por uns segundos.
Um homem, moreno, alto, com olhos negros como a noite, de
físico forte, tanto que dava para ver seus braços trabalhados por
baixo da jaqueta de couro que ele usava, com tatuagens no
pescoço, que aparentemente continuavam em suas costas,
estava encostado na parede, a poucos metros de si, o olhando
como se pudesse ler a sua alma.
O desconhecido se desencostou da parede, andando lentamente
até Jimin, como se só existissem os dois naquela festa,
chegando mais perto passo a passo, até que parou próximo o
suficiente para Jimin sentir a sua respiração; Enquanto que Jimin
olhava para cima, encarando profundamente seus olhos.
- Quer dançar, princesa? - O desconhecido falou, com um
sorriso enigmático no rosto, enquanto levava uma mão pequena e gordinha de Jimin até os lábios bonitos, deixando um leve selar ali.
- Não danço com desconhecidos, príncipe - Disse Jimin, com
um sorriso cafajeste no rosto, decidindo entrar no jogo do
homem, que mais parecia um deus grego.
- Não seja por isso - O desconhecido se afastou um pouco,
enquanto abaixava o tronco levemente, numa reverência.
- Jeon Jungkook, ao seu dispor - Disse, com uma voz rouca e profunda, fazendo os poucos pêlos de Jimin se arrepiarem.
- Park Jimin, meu senhor - Disse Jimin, com uma expressão sugestiva para Jungkook, que o devolveu um sorriso safado.
- Vai cuidar de mim se eu for dançar com o senhor? O meu pai ficaria muito bravo se algo acontecesse comigo... - Falou pausadamente Jimin, claramente com segundas intenções
na voz, enquanto se encostava levemente a ele, levando
suas mãos aos ombros largos de Jungkook.
- Com a minha vida, princesa - Disse por último Jungkook, enquanto pegava a mão de Jimin, e o conduzia a pista de dança.
Os dois dançaram por horas, sempre colados, um provocando ao
outro, até que no fim da noite, não aguentaram mais, e se beijaram fervorosamente, transando no primeiro quarto daquela boate que acharam disponível.
Jimin nunca esqueceria aquela noite, os beijos, toques, carícias que trocaram naquele ato tão carnal, mas que parecia especial para os dois.
E nunca esqueceria Jungkook, até porque não teria como, afinal, depois daquela noite, eles nunca mais se
separaram.
Jimin descobriu, com o tempo, que Jungkook fora muito parecido com ele: Hoje com seus 24 anos, Jungkook já havia a muito fugido de casa, com seu pai alcoólico e irmão mergulhado no tráfico de drogas, Jungkook não queria aquela vida para ele.
Então, com 18 anos, fugiu com a sua moto Harley Davidson 883, que ele mesmo havia encontrado no ferro velho e consertado, para nunca mais voltar.
Jimin se apaixonou por Jungkook, pelo seu jeito cafajeste, porém
atencioso ao mesmo tempo. Por suas ações humanitárias, mesmo que ele não tivesse muito para ajudar. Por sua coragem e determinação, que com só 18 anos, fez o que Jimin queria a
muito tempo, mas nunca teve coragem o suficiente para tal.
Porém, toda a sua relação com Jungkook, que agora era seu
namorado, fazendo pouco mais de um ano que o conheceu, o levou ao presente momento: Jimin estava fugindo de casa com Jungkook.
Já era de madrugada, seus pais e irmãos estavam dormindo, e enquanto Jimin colocava umas mudas de roupa na sua mochila, estranhamente não se sentia mal ou com algum arrependimento, sempre foi deslocado naquela família, e tinha cansado de viver na aparente “família perfeita”, que de perfeita só tinha a máscara, que já estava se quebrando, lentamente.
Afinal, com seu pai traindo sua mãe toda a noite, sua mãe encontrando consolo nas bebidas, e seu irmão fingindo que sempre estava tudo bem, "Perfeito" é um adjetivo que não cabe aquela família.
Jimin fechou a sua mochila, colocou um casaco grosso, e abriu
sua janela, olhando para a pequena queda que teria de enfrentar para chegar a rua. Jungkook estaria o esperando na esquina da sua rua, com sua moto e um capacete a mais, para poder ir por aí, viajando junto com Jimin para onde ele quisesse.
Era o que os dois mais queriam.
Jimin então pulou da janela, caindo de joelhos no chão de grama, ralando um pouco os joelhos, por causa da calça rasgada que vestia. Mas o que é um joelho ralado perto que uma vida inteira com quem se ama?
Jimin saiu andando calmamente até a calçada de sua casa, para só depois sair correndo, como se sua vida dependesse disso. E sua vida, pelo menos a felicidade dela, de certa forma, dependia.
Virando a esquina, encontrou Jungkook, sentado em cima de sua
moto, com a sua fiel jaqueta de couro, aparentemente perdido em
pensamentos.
Jimin tinha um sorriso de orelha a orelha, fazendo o eye-smile
que Jungkook tanto amava, quando se jogou em cima dele, rindo
a toa de felicidade.
Jungkook se assustou de início, mas quando viu que era Jimin, o
acolheu com seus braços fortes, o colocando sentado em seu colo.
Ficaram se encarando por um tempo, sempre faziam isso quando se encontravam, para guardarem bem as expressões um do outro, como se estivessem analisando uma obra de arte.
- Você tem certeza que quer isso, princesa? - Jimin sorriu, Jungkook o chamava carinhosamente de “princesa” desde que se conheceram naquela boate.
- Você sabe que eu faria tudo que você quisesse, mas me sentiria culpado se arrependesse depois, afinal, não tenho nada para te oferecer, além de mim mesmo. - Disse Jungkook, o olhando
profundamente, enquanto acariciava a bochecha de Jimin, tão levemente, como se Jimin fosse de cristal.
- Nunca quis tanto uma coisa na vida como quero isso, Kookie - Disse Jimin, com um sorriso gigante nos lábios,
chamando Jungkook pelo apelido carinhoso que ele mesmo dera.
- Eu te amo, e isso é o suficiente para mim, o resto vamos construir e viver juntos.
- Eu também te amo, meu amor. Tanto que morreria se te perdesse. - Disse por fim Jungkook, capturando os lábios de Jimin em um beijo lento, sensual e carinhoso ao mesmo
tempo, demonstrando todo o amor que um sentia pelo outro.
- Vamos? - Disse Jimin, ofegante, quando o ar fez falta, e tiveram que separar os lábios, encostando a sua testa com a de Jungkook.
- Vamos. - Respondeu Jungkook, dando um selinho nos lábios
de Jimin, descendo ele de seu colo, o alcançando um capacete.
- Pronto para viver sua vida, princesa? - Disse Jungkook, com um sorriso feliz no lábios.
- Nunca estive tão pronto como agora! - Respondeu Jimin,
rindo de felicidade, pegando o capacete, e subindo na
garupa da moto com Jungkook.
E logo a moto estava saindo, em direção a rodovia, indo para onde o destino levasse aqueles dois jovens apaixonados.
E Jimin, finalmente, iria viver aquilo que almejou a sua vida inteira, e ainda com a pessoa que mais amava no mundo:
A sua famosa Liberdade.

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