Prólogo

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ANTOINE BEAUMONT olhou seu reflexo no vidro da janela do edifício onde funcionava sua empresa, a Beaumont Holdings. A companhia que estava na sua família há gerações, criada ainda pelo seu avô, cresceu e era rentável. Tanto, que Antoine ficara muito rico e sua irmã também desfrutava da fortuna, embora não lhe apetecia tanto trabalhar como o irmão.

No seu reflexo no vidro, ele via o olhar pálido e perdido, o mesmo de quando havia perdido o pai, Clémentine, anos atrás. A notícia que havia recebido há poucas horas, ainda no final da tarde, o abalara por completo. Ele havia sido completamente apunhalado pelas costas pelas pessoas que mais confiava.

Apenas de lembrar, ele apertou o copo com whisky escocês na mão com raiva, ódio e pelo sentimento de traição. Tomou um gole da bebida e sentiu a garganta queimar, da mesma maneira que seu sangue fervia pelas emoções negativas. Antoine havia sido enganado descaradamente, pelo seu melhor amigo e diretor financeiro, Augustin Boliveau e pela sua irmã, Gabrielle Beaumont.

Ele não suspeitava que os dois vinham tendo um caso, pelo menos, os dois não demonstravam isso na presença dele. Naquele momento, ele entendia a dor da decepção e traição, causada pelas pessoas que mais confiava. A dor do peito era intensa, como se tivessem perfurado seu corpo e a dor se espalhasse pelo restante.

Nunca mais confiaria em ninguém, a não ser em Christophe e seu círculo a quem era mais próximo. Até mesmo seu advogado havia errado feio há seis meses com a noiva, mas nada se comparava ao que Augustin e Gabrielle haviam feito. Observando a noite, ele notou as águas escuras do rio Sena serpenteando Paris, as luzes azuis e douradas emanadas das ruas e da Avenue des Champs-Élysées, a principal da cidade.

Desde quando recebera a notícia do gerente de um dos bancos a qual a empresa tinha conta-corrente, Antoine se sentia frustrado e pensando no que fazer, enquanto desfrutava da bebida alcóolica, que lhe fora dada pelo avô, François, quando ele se graduara em Administração por uma das melhores universidades da França.

Tomou mais um gole e ouviu a porta abrir. Sabia que estava sozinho no prédio, mas apenas por ouvir os passos, sabia que era o seu amigo e consultor jurídico, Christophe Dujardins. No edifício, estavam os seguranças, ele e agora, seu amigo, que tinha passe livre para entrar.

- Vim assim que pude. - Anunciou Christophe. - Estava em uma audiência de uma empresa que estava falindo.

Ouvindo a voz do advogado, Antoine virou-se na direção dele.

-  O que acha de tudo isso? - Questionou Antoine, com ironia.

Christophe sentou no sofá de couro preto e olhou preocupado para o amigo.

- Sinceramente, eu sinto muito. Estou aqui para ajudar, no que precisar.

- Obrigado. - Ele tomou mais pouco do whisky. - Jamais pensei em ser enganado dessa forma. Isso tudo parece um pesadelo.

- Eu sei. Eulalia teve essa sensação quando não contei a ela sobre o pai. Bem, você se lembra.

- Claro que me lembro. Agora entendo a dor dela. Ser enganado pela minha própria irmã. Eu sempre fiz tudo que Gabrielle quis, bancando seu estilo de vida festivo, compras caras, viagens pelo mundo a toda semana. Sem falar de Augustin, a quem conheço desde adolescente. - Antoine cuspia as palavras.

- Sim. Mas, esqueça isso por um momento. A polícia se encarregará disso e eu também. Esqueceu-se que eu também sou criminalista?

- Não, não esqueci. Use sua influência para colocá-los atrás das grades. Tem meu aval para isso.

- Tudo bem. Tem minha palavra e o farei. Mas a questão não é essa. O ponto aqui é o fato de que muitos empregos estão em risco, além da imagem da Beaumont Holdings estar afetada.

- Eu sei, sei disso, Christophe. Alguma ideia do que se pode fazer?

- Tenho alguns palpites, mas não sei se concordará comigo.

- Vá em frente.

- Se a situação está tão feia e se a empresa deve muito, você pode entrar judicialmente com uma ação de recuperação judicial.

- Não. A empresa está bem. Está com as contas em dia. A minha grande preocupação é o futuro financeiro dessa companhia. Se eu não tomar uma decisão logo, no futuro, tudo irá afundar como um barco velho. - Antoine falou de maneira afiada. - Qual a sua outra ideia?

- Peça um empréstimo aos bancos.

- Isso não tem cabimento, Christophe. - Antoine estava indignado e nervoso. - Com que cara eu irei aos bancos pedir dinheiro?

- Com coragem e engolindo seu orgulho.

- Não farei isso. Não posso. - O whisky havia acabado.

- Então só resta uma alternativa.

Com a sobrancelha erguida, Antoine encarou Christophe.

- Qual?

- Você deve contratá-la. - Christophe falou sem rodeios.

Sentindo o coração falhar. Os olhos arregalaram.

- Está falando cada vez mais coisas sem sentido, Christophe. Você não é pago para isso.

- Não estou aqui como seu prestador de serviço, Antoine. Estou como seu amigo, assim como aquela vez que me auxiliou com Eulalia. E não adianta ser grosseiro. Isso não me afeta. - O advogado rebateu.

- Desculpe-me. Eu estou nervoso com isso tudo. Nunca imaginei algo assim. Eu não posso contratar Célestine Berger para trabalhar aqui dentro!

- Sim, você pode. Tem dinheiro suficiente para pagá-la. Se está com medo de tirar recursos da Beaumont Holdings, use sua fortuna pessoal. Dinheiro não te falta. Sabe que ela pode solucionar isso. - Christophe o alertou.

Antoine riu de maneira amarga. Aquilo só podia ser brincadeira, pensou.

- Você sabe o que fiz a ela. Acha que ela vai aceitar trabalhar aqui, comigo? - Perguntou, ironicamente.

- Sim, eu acho. Ela é milionária e está preocupada com os negócios dela. - Assegurou o advogado. - Eu estou trabalhando com ela na audiência em que comentei antes. Chegamos à conclusão de que a falência não é mais realidade. O seu plano de consultoria empresarial está reerguendo a companhia em que estamos prestando serviço.

Antoine começou a andar de um lado para o outro, até que parou na direção do amigo.

- Eu te contei o que fiz a ela. - Advertiu. - Eu duvido que aceite.

- Eu sei o que fez e sobre a gravidade dos fatos. Pois eu acho que não. Como eu disse, Célestine visa o lucro, assim como você.

- Tem certeza disso?

- Sim. Se quiser, posso intervir.

- Não, não. Eu mesmo cuido disso. Cuide de Augustin e Gabrielle. Com Célestine, falo eu.

- Vai enfrentá-la após dez anos?

- Se for pelo bem dessa empresa, que é tão importante para mim, sim.

Christophe sorriu da maneira típica de quando tinha razão. Ele ficaria cara a cara com aquela mulher. Que Deus o ajudasse.

Amor Adormecido - Spin-off da Série Apaixonados e Poderosos (COMPLETO)Onde histórias criam vida. Descubra agora