000; first day of college

16 1 0
                                    

Acordo mais cedo que o normal, sem mesmo a ajuda da minha irmã mais velha. Aproveitando isso, levanto-me rapidamente, para tentar conseguir tomar o café da manhã com meus pais, em família. Eles estão sempre trabalhando e, por isso, são raras as ocasiões em que consigo vê-los durante a semana. Vou até a cozinha, de pijama mesmo. Por sorte, eles ainda estão por lá, então sento à mesa junto deles.

Mesmo já sabendo que voltaria a estudar em um colégio comum há bastante tempo, fico um pouco nervoso. Acabo o café e me retiro.

Chegando ao meu quarto, percebo que ele já foi arrumado por Abigail, nossa faxineira. A tela do meu celular acende, mostrando em um pop-up uma nova mensagem. É de Freddie. Novamente com suas perguntas bestas pela manhã.

Deito sobre a cama e respondo suas mensagens e depois de longas horas conversando com ele, vejo minha irmã mais velha entrar pela porta sem ao menos bater nela; não sei porque estou falando isso, sendo que não escuto.

— Ainda não se arrumou, cabeça de sapo? — pude ler os lábios dela enquanto ela se sentava sobre meus lençóis azuis.

— Tecnicamente, não. Agora saia do meu quarto.— sorri ironicamente.

— Esqueceu que hoje é segunda-feira, e nós dois temos aula? — nesse instante ela se levantou e pegou da minha mão o meu celular, fazendo com que eu prestasse atenção nela.

— Não, não esqueci. É que eu acho nojento ter que ficar nú na frente da minha irmã. — respondi e ela arremessou o celular em mim, - não com força, porque ela não é louca de fazer isso - e se retirou do meu quarto; batendo a porta.

Minha irmã mais velha prometeu que me acompanharia todos os dias à minha ida para o colégio, portanto; ela só estava esperando-me se arrumar para partirmos para ás seis horas em uma sala apertada e minúscula com exatamente vinte alunos enfiados ali comigo, sem contar com os professores que a cada cinquenta minutos trocavam de sala e nessa troca parecia que eu estava em um apocalipse, sério - acho que não existe um adolescente mais comportado que eu naquela sala de aula.

Depois que terminei minha higiene matinal, organizei meu material e acrescentei na minha mochila meu lanche e alguns utensílios que provavelmente utilizaria no primeiro dia de aula em um colégio comum.

Deixei meu quarto e desci ás escadas, avistei minha irmã escorada sobre a porta enquanto mexia no seu celular, quando ela me viu guardou-o imediatamente e abriu a porta para irmos ao colégio.

Faltavam-se exatamente cento e dezessete minutos para que o primeiro sinal do colégio tocasse, além de eu ser surdo; sou um pouco esquisito, principalmente quando se trata de matemática e biologia.

Não que eu seja um surdo autista, é que... que? Do que eu tô falando, os leitores vão achar que o escritor é um garoto de dezesseis anos que acha autistas retardados. Esqueçam de tudo isso que falei, por favor!

Ao pisar nos corredores do colégio, minha irmã se afastou de mim e cruzei com Freddie que veio em minha direção sorrindo, fui encarado por alguns alunos; e vi outros sussurrando, mas preferi ignorar, não queria acabar na detenção no meu primeiro dia de aula.

— Então, como foi seu dia? — perguntou Freddie com seu jeito afeminado, é eu ainda não os contei que Freddie gosta de meninos e não de meninas - falando a verdade, estou contando agora.

— Melhor agora, Freddie. — respiro fundo.

— Você tá animado para seu primeiro... — antes que Freddie terminasse, um provável aluno do colégio com corpo atlético apareceu na nossa frente impedindo-nos de continuar andando.

— E aí, babacas? — arqueei uma das minhas sobrancelhas, como se eu tivesse com aquela expressão de "fala sério, mano!"

— Olha, somos novos aqui e só queremos ir pegar nossas chaves na diretoria. — disse Freddie para ele, e logo após dois meninos asiáticos com um corpo diferente do que estava na nossa frente, surgiram atrás do atleta; como se fossem capangas, entende?

— Não antes de nós dizer que são babacas. — sorriu ele, fazendo os asiáticos gargalharem; bem, é o que os capangas fazem quando seu chefe faz alguma piada de mal gosto com outros alunos do colégio.

— Vocês são uns babacas, agora nós deixe passar. — sorri ironicamente e ultrapassei-os, Freddie veio junto comigo e fomos em direção à diretoria como combinado.

Entramos na sala do diretor e avistei-o sentando em sua cadeira preta e macia, bem; pelo menos aparentava ser macia, ele pediu para nos sentarmos - com um sorriso espontâneo no seu rosto. Eu e Freddie nos sentamos e solicitamos nossos materiais e as chaves, que são essenciais; ele nos deu e conversamos por alguns minutos.

— Então quer dizer que você, Lars. É surdo? — consegui ler seus lábios e assenti com a cabeça antes de escutar um ruído alto em meu ouvido, que parecia ser o sinal da primeira aula naqueles salas apertadas e fedorentas.

Me levantei e puxei Freddie, andamos rápido pelo corredor lotado, fomos até nossos armários que ficavam um ao lado do outro; guardei minha mochila dentro do armário azulado e retirei de lá as canetas, os livros, os cadernos e alguns blocos para anotações; bem, em geral - coisas que utilizaria nessa primeira aula num colégio normal.

Freddie acenou para mim e foi para sua aula de inglês que era diferente da minha, já que teria biologia como uma dás primeiras matérias naquele colégio, entrei pela porta e percebi que a aula já havia começado, me sentei numa das mesas desocupadas da frente e organizei meu material sobre ela, enquanto prestava atenção nos lábios da professora de biologia - que tinha cabelos grisalhos e trajava em seu corpo um jaleco vermelho com uma blusa branca e uma calça jeans por baixo.

— Faltam dez minutos para aula acabar, portanto; vamos nos apresentar uns aos outros? — ela sorriu olhando para mim e para mais quatro alunos que provavelmente seriam novos no colégio como eu. — Bom, meu nome é Layla, possuo 36 anos de idade, dou aulas de ciências e biologia á 3 anos e sou pré-graduada somente em biologia. E agora, quem será o próximo?

Ergui minha mão, preferia ser o primeiro do que ser o último a me apresentar, ela pediu que eu prosseguisse e eu comecei a me apresentar.

— Meu nome é Lars Frakes, tenho 16 anos de idade, estudei por 5 anos em um colégio especial por causa da minha deficiência auditiva e agora tive que estudar aqui na universidade de Morgside porque consegui uma bolsa de estudos gratuita, e também porque meus pais não tinham condições financeiras suficientes parar arcar com mais um ano de estudos em um colégio especial. — sorri para todos e voltei meus olhares para a professora de biologia.

Passei algumas aulas sendo encarado pelos alunos daquela sala e faltava somente mais duas para que eu fosse para minha casa respirar em um ar totalmente limpo e que não cheirasse a suor ou a mijo de cachorro, senti algo bater em minha cabeça e cair no chão, olhei e era um papel amaçado, peguei-o e abri ele.

"Consegue ler meus lábios?"

Olhei para o proprietário do bilhete e encontrei ele nos fundos, era o babaca com corpo atletico que eu e Freddie encaramos no corredor; consegui ler seus lábios, e ele só tinha dito que no final da aula eu iria pedir desculpas por ter o chamado de babaca, se não, eu seria humilhado por ele na frente de todos. Eu disse que esse cara era um babaca, e que teria problemas com ele; eu só não queria ir para detenção por ter deixado o olho roxo de um garoto que parece ser o capitão do time de futebol do colégio, mas acho que estou sendo obrigado á fazer isso... Ah, e o bilhete era uma forma dele me zoar, só porque sou surdo. Entende?

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Apr 13, 2019 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Eu só amo vocêWhere stories live. Discover now