Malena.

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"ei, ta tudo bem, eu to contigo"
bem que eu queria simplesmente aceitar que está tudo bem, mas mesmo assim me sinto confortável o suficiente no colo de Darc para dizer que estou bem, dou-lhe um leve sorriso e retiro sua mão de minha cabeça.
- Já é hora de irmos?- pergunto a Darc, me referindo ao toque de retirada estratégica que antes combinamos
- Bem, não diria que não é a hora, é que preciso conversar contigo sobre algo- com essa frase eu já estava sentada ao seu lado e fico um pouco tensa em relação ao jeito que ela dirigiu a palavra
- Faz tempo que você não fica tão séria assim, o que houve?
- Bem, não é exatamente o que houve, e sim o que haverá.
- Como assim o que haverá?- sinto um leve calafrio, preocupações acabam mexendo comigo antes mesmo de eu saber do que se trata
- Nada com o que você não possa lidar, se acalme, só preciso te alertar que..
Antes de terminar sua frase, Darc se vira bruscamente para trás e logo em seguida levanta de forma que eu quase não consigo assimilar o que está acontecendo, ela puxa meu braço direito e fala que precisamos ir, não consigo entender direito e estamos andando de forma rápida para o Leste, nesse meio percurso acabo tentando me pendurar para observar o que está havendo atrás de nós, porém sempre que acabo olhando para trás, algo me impede e sou obrigada a seguir em frente sem nem discutir.
-Darc, isso vai demorar muito?- me sinto incomodada com o tanto de incógnitas fora de lugar e começo a suar
-Logo chegaremos, não olhe para trás.mesmo se eu tentasse não conseguiria, assim continuamos andando por mais ou menos uma hora até que em frente há uma espécie de cabana no meio daquelas ruínas de construções, é uma cabana grande e de madeira, quando entramos uma familiar sensação percorre meu corpo, me sinto aconchegada aquele lugar
- O que é isso, Darc?
- Isso é nossa casa- Darc parece mais leve por algum motivo porém algo ainda me incomoda.
- Mas..
- Não se incomode , Malena, Aqui nada pode nos atingir.
-Mas eu..
antes de terminar minha frase , Darc me abraça e sinto um calor incomparável preencher meu peito
- Agora está tudo bem, está tudo bem.essa sensação é tão confortável que eu me sinto como uma criança que é constantemente protegida por sua mãe, está tudo bem eu me sentir assim? por enquanto ignoro as dúvidas e preocupações, pois o momento pede atenção.
Após um curto tempo, ela me solta delicadamente e senta-se na poltrona que está poucos metros a frente , fazendo um gesto para eu acompanhar ela e sentar-me em seu colo, Darc está me tratando de uma maneira perturbadoramente gentil nesse momento, passando sua mão em meus cabelos e assobiando devagar e suavemente até eu pegar no sono.
- D..
antes que eu possa completar minha frase, novamente fui interrompida, quando abro os olhos Darc não está mais ali , a cabana está em pedaços e o calor das brasas chega ao meu rosto, é uma situação desesperadora, antes que eu possa infligir quaisquer tipos de gritos me deparo com uma sombra colossal sobre o local, quando olho para cima há olhos, muitos olhos, a Lua está tampada e tudo está escuro, sem qualquer reação falada, meu corpo treme e eu novamente estou sozinha, como naquele dia.
Neste momento, fecho os olhos e começo a mentalizar os gritos e desespero do dia em que fui separada bruscamente de qualquer vida normal que eu poderia ter, ir pra escola, me divertir e viver complicações normais, tudo isso fora interrompido por uma catástrofe sem precedentes e sem explicação alguma, lá está a cabana, meus pais (ou o resto deles) e meu quarto, completamente destruído e em chamas, quando grito ninguém me socorre, até que os escombros caem em cima de mim e eu desmaio.
Abrindo os olhos vejo ela, minha heroína, me pegando no colo e me retirando daquele lugar infernal.
Porém tudo foi a água abaixo, Darc desapareceu, o que eu posso fazer sem ela?isso tudo é culpa minha, tudo isso.. eu merecia mesmo ter algum tipo de conforto em alguma ocasião?o mundo em volta de mim começa a devastar-se cada vez mais, porém as ruínas que eu vejo não são nada comparados com a perca de mim mesma. para mim não faz mais diferença, digo isso fechando os olhos lentamente enquanto sinto as últimas lágrimas escorrendo.
Quando fecho os olhos, escuto o assobio de Darc, no começo é um barulho baixo e quase nulo, mas com o passar das notas vai ficando mais claro e mais alto, me sinto confortável novamente, posso abrir os olhos agora?quando estou quase abrindo os olhos, digo suavemente

- Onde você est..

abro os olhos e o barulho continua, porém o ambiente é outro, estou sob quatro paredes brancas, mortas, sem nenhuma vida, parecidas com aqueles escombros de antes, porém mais perturbadores, nelas, olhando com mais foco, há desenhos e palavras escritas, por todo canto, no começo nada se encaixa, mas reparando nos desenhos, há ilustrações de Darc, ilustrações daquelas ruínas onde eu me encontrava, chamas, caos, minha nossa o que está havendo?
sinto um incômodo crescente no braço direito, quando olho tem uma espécie de.. agulha? esse é o nome?
estou vestida com um avental branco e numa cama pequena, pequena e pouco confortável.

- D-Darc, onde você está?- grito mas nenhuma resposta chega, até que depois de longos segundos algumas cabeças aparecem sobre o feixe de grades da porta metálica, conversam algo e logo eu acabo caindo no sono novamente

"ei, tá tudo bem, eu to contigo"

FimWhere stories live. Discover now