angels and devils

193 33 22
                                    

vejo no espelho a postura selvagem de garoto roubado de um século passado. quando lhe perguntei seu nome, ele me ofereceu o mundo em troca de um suspiro e dois susurros. aceitei nada menos que o cheiro do cigarro barato vindo de longe preso nos lábios com uma lábia nem tão boa assim, o único problema é que eu não posso mentir que não gostava; porque eu amava. era louco, insano e bonito como um astro despencando do céu diretamente para dentro do meu coração fazendo tudo de mim queimar por horas, horas e horas. demônios em você e o inferno em mim: efêmero, belo e inconstante. ele susurra em meu ouvido palavras que me fazem questionar o que sou e onde eu sou?

cuidado.

você dá ao amor um nome ruim.

ele pegou da minha mão o fio do telefone da sala de estar e pediu para que prestasse atenção somente em si: olhe para mim garota!  pra mim, só pra mim. pode me ver, mas me enxergar você consegue? maléfico como vermelho vindo de rosas mastigadas e eu aceitei como quem não quer ter nada além de uma preocupação a mais, hahaha! só mais uma não é tanto assim.

o garoto contudo, não parou. dançou no meio da sala e deu meia dúzia de rodopios bêbados no meu coração enquanto afogafa no meu peito a maledicência do álcool na ponta da língua. ardido e selvagem, de novo e de novo.

descabelada então, sentei-me ao sofá desconfortável da sala: sem magia, sem fôlego e com mais uma pilha de preocupações dentro dos bolsos, (e olha que eu estava de saia!). o garoto enviado dos anjos se pôs sentado na minha frente, rasgou minha saia e me pediu de novo para que dançasse consigo. quem liga para a saia cara, não é mesmo? o nome ruim do amor e um suspiro despretencioso no meio da sala, demônios em meus ombros e o anjo bem na minha frente. constante, inconstante e intangível, garoto.

mil e uma coisas miseráveis como lástimas de uma felicidade rara como a paz.

dançamos de novo, até que os meus suspiros se esgotassem. juramos misericórdia no pé de uma das nossas promessas na porta do céu, mas o garoto precisou ir. distante, constante e ainda cativante, mas nem tão belo assim.

consigo sentir seu cheiro na minha pele caminhando por dentro de mim e imergindo tudo que resta numa sátira ensaiada. a feiúra conheceu a magia e ele criou asas, voando pra longe

por fora da janela pintada da igreja, vidraças...? promessas e mais promessas, sendo observadas por deus.

conseguiria sobreviver mais uma eternidade ao lado de um anjo ou se renderia ao maligno da beleza momentânea?

não respondi. sabia ser fruto de uma mentira desde o começo, cor de cereja e gosto de nicotina. gostoso demais para ser real, afinal, uma fruta nunca cai longe do pé e a sua beleza não é real. é feiúra, garoto. dá pra sentir na ponta dos dedos ao escorrer veneno da sua pele.

feio, portanto, inconstante.

fogo.

queimou tudo para que não pudesse distinguir.

genial, garoto.

THE UGLINESS MEETS BEAUTYOnde histórias criam vida. Descubra agora