Em St. Rose, uma fria e pequena ilha localizada no oceano Atlântico próxima a Antártica. Um local esquecido pelo resto do mundo, poucos sabiam de sua existência, uma ilha achada por alguns ingleses que ali decidiram morar. Com o tempo, a população da ilha foi crescendo e a ilha virou uma pequena cidade no meio do nada, desconhecida pelo resto do mundo.
Naquele inverno, as mesmas notícias circulavam pelos jornais de St. Rose, notícias de terremotos e tornados. Emma Campbell sempre lia os jornais, diferente dos outros jovens de sua idade que usavam o tempo para ficar nas pequenas maquininhas de bolso usadas para se comunicar com outras pessoas. Ela era diferente. Usava seu tempo livre para ler. Quando não a viam lendo, estava gravando ou tirando fotos com a câmera antiga de seu avô. Ela tentava gravar cada acontecimento importante, pois achava que memórias deveriam ser registradas. Gostava de tirar foto das paisagens e de imaginar o seu avô nelas.
A aconchegante casa de Emma era bem quente, pelo simples fato de haver treze aquecedores pela casa. St. Rose era uma cidade muito fria por ser localizada perto da Antártica, por isso as casas tinham de ter tudo o que é necessário para aquecer. Junto com Emma morava seu irmão, Carl, que cuidava dela como uma filha. Seus pais morreram num acidente junto com sua outra irmã. Josie, sua irmã falecida, nasceu numa viagem de férias, foi um acidente, ela nasceu um mês antes do planejado. Quando voltavam para St. Rose, o avião caiu no oceano, próximo a St. Amelia Land, uma ilha próxima a St. Rose. Por isso, os dois irmãos estavam sozinhos naquela noite na quente e aconchegante casa.
Olhando pela janela, Emma podia ver os flocos brancos caindo sobre seu quintal. Perto, avistou um cão tremendo no frio. Correu para pegá-lo, claro que não iria deixá-lo lá, ela gostava muito dos animais, já teve um gato, Misk, porém, o gato desapareceu depois de alguns anos. Misk era o companheiro de Emma, seu único amigo durante muitos anos, ela não era muito sociável. Emma pegou o cão e o levou para o cômodo mais quente de sua casa, era um escritório com muitas estantes de livros, dois aquecedores e uma janela bem grande com cortinas prateadas. O cão encolheu-se no canto entre as paredes tentando manter distância de Emma, ainda estava inseguro e com frio. Emma deixou um pote de comida e água e ao lado um cobertor para que o cão pudesse deitar. O cão era de porte médio, com pelos dourados, semelhante ao Golden Retriver, mas sua raça era indefinida, tinha o rabo torto e uma mancha branca no meio do nariz.
Na manhã seguinte, uma manhã nublada e fria para variar, Emma acordou com o cãozinho deitado no pé de sua cama, estava enrolado como um caracol. Emma sentou-se próxima ao cão, aproximou sua mão das costas do cão e as tocou levemente, o cão acordou, levantou e deitou-se novamente, dessa vez com a barriga para cima, não se sentia mais inseguro. Emma saiu de seu quarto fechando a porta rapidamente para que o cachorro não saísse, desceu as escadas procurando seu irmão. Carl estava na cozinha fervendo leite e fazendo torradas com queijo e presunto para o café.
- Carl você sabe se nós temos alguma corda?- Perguntou Emma.
- Talvez tenha no porão.-Disse Carl.
- Você precisa de corda para quê?-Perguntou Carl olhando para os pães na panela.
- Levar o cãozinho para andar na rua, ele precisa fazer suas necessidades não é?- Respondeu Emma com um olhar de ironia.
A neve no chão fulgurava naquela manhã. Emma teve lembranças de seu gato sumido, pensando que era necessário imediatamente achar um lar para o cão, não desejava que acontecesse o que aconteceu com o seu gato. Quando seu gato se foi, foi um choque para Emma, seu único amigo durante longos cinco anos. Emma já chegou a ter amigos um dia, porém foi deixada de lado e disse para si mesma que as pessoas só machucam umas as outras e nunca mais se aproximou de ninguém .
*
Saindo de casa a caminho da escola, Emma conseguia ouvir o latido do cão, um latido triste,como se não quisesse que saísse. Caminhava com suas botas sobre a neve, esperando que algo acontecesse para que pudesse voltar para casa. A escola era perto da casa de Emma, uns cinco minutos a pé. Chegando lá, pegou seus livros e sentou em uma mesa, aguardando o sinal. Foi quando um rapáz alto e loiro andava em sua direção.
- Olá Emma, foi você quem resgatou aquele cão? Está pensando em ficar com ele?-Perguntou o garoto loiro.
- Não. - Respondeu Emma com um tom baixo, se perguntando como o garoto sabia seu nome.
-Bem gostaria de saber se eu poderia ficar com ele. - Perguntou o garoto.
-Sim. - Disse Emma - Venha comigo até a minha casa depois da aula e te entrego o cão.
No final da aula o garoto esperava Emma no portão com um guarda-chuva.
- Esqueci o meu. - Disse Emma, olhando para o céu com inúmeras núvens pretas.
- Se não se importar pode vir comigo. - Disse o garoto, dando um passo para o lado.
Emma se encaixou ao lado do garoto, e os dois saíram andando em direção a casa de Emma. O clima estava ficando cada vez mais frio e o garoto cada vez mais próximo, isso incomodava Emma.
- Emma, você nem sabe o meu nome não é? – Disse o garoto olhando para o rosto de Emma. – Meu nome é Jamey Cooper
- Cooper. - Disse Emma olhando para os olhos de Jamey. – Cooper é um sobrenome legal.
- E comum. – Disse Jamey com um suspiro.
- Todos somos comuns até fazermos algo inovador e ousado. - Disse Emma.
- Discordo, acho que todos somos incomuns, ninguém pensa igual, e claro, todos temos algo diferente mesmo que seja bem lá no fundo. -Disse Jamey. – E acho que pra ser incomum, não tem que ser ousado, apenas diferente.
- Acho que sim. – Disse Emma acenando com a cabeça.
Os dois continuaram andando pela calçada coberta de neve. Podiam ouvir o barulho dos pássaros cantando mesmo nesse frio. Logo ali estava a casa de Emma. Uma casa de madeira pintada de azul com detalhes brancos, uma varanda na frente, uma porta bem grande, e um jardim em frente a casa.
- Você quer entrar? – Perguntou Emma.
-Pode ser. – Disse o garoto.
Os dois entraram na casa, retiraram seus sapatos e os colocaram na prateleira de sapatos ao lado da porta.
- Cheguei Carl. – Disse Emma num tom tão alto que soou como um grito.
- Emma fiz torradas com geléia e... – Carl viu o garoto. – Quem é esse?
- Este é o Jamey, ele veio buscar o cão. – Disse Emma.
- Ah certo, vocês são amigos? - Perguntou Carl.
Emma negou e Jamey afirmou ao mesmo tempo.
- Tudo bem então, antes de ir fique para um café Jamey. – Sugeriu Carl.
- Claro. – Disse Jamey.
Os três sentaram-se no balcão da cozinha.
- Vocês se conhecem faz quanto tempo?- Perguntou Carl.
- Nos conhecemos hoje.- Respondeu Emma.
-Na verdade conheço a Emma desde o primário.-Disse Jamey.- Mas parece que Emma não se lembra.
O clima ficou estranho depois desse diálogo, Emma buscou o cão em seu quarto, entregou-o para Jamey, e o acompanhou até a calçada.
-Desculpe, costumo não prestar atenção nas pessoas.- Disse Emma não olhando diretamente para seus olhos.
-Tudo bem.- Disse Jamey.- Você com certeza não é muito sociável.
-Não preciso de ninguém- Disse Emma.
-Não precisa ser tão dura com as pessoas.- Disse Jamey, pegando o cachorro e indo embora.
Quando Jamey saiu andando, Emma ficou parada observando-o andar sobre a neve com o cão se rebatendo e tentando voltar. Foi quando o chão começou a tremer muito forte, muitos galhos caiam sobre o chão, e o vento estava tão forte que não conseguiam nem ficar em pé. Emma caiu no chão e, imediatamente, Jamey voltou para ajudá-la, porém, enquanto corria em sua direção, o cachorro se soltou e correu em direção a Emma, mas antes que chegasse perto da garota, uma árvore caiu sobre ele o esmagando e fazendo com que seu sangue se espalhasse por toda a calçada.
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