Capítulo Único

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Boa leitura!

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Estava caminhando por uma das praias de Busan. Havia tirado minhas botas e as pendurado em minha bolsa para poder sentir a textura da areia, que há muito não sentia por estar morando há alguns anos em Seoul e, assim, não tendo este tipo de contato direto com a natureza. Não estava tão frio como costumava estar nesta época do ano e o sol brilhava fraco no céu. O formato que os raios solares emitiam, contrastavam com a opacidade das nuvens e com a nebulosidade naquela manhã de inverno, logo após a chegada do Ano Novo. Sentia uma brisa gélida tocar meu corpo e bagunçar meus cabelos, me fazendo automaticamente me encolher um pouco e apertar as mãos que estavam nos bolsos do meu casaco. Havia me esquecido de como aquela sensação sempre me fazia arrepiar e parar de frente para o mar, olhando a imensidão do oceano e o azul que parecia ser infinito, borrado de branco por algumas ondas calmas que chegavam até meus pés. E era exatamente isso que estava fazendo agora, parado em frente ao mar, apreciando aquela bela visão, que me era tão nostálgica, e mexendo meus dedos dos pés ao sentir a água salgada do mar tocá-los.

Hoje era o segundo dia do ano e, há alguns dias atrás, havia vindo passar minhas férias de fim de ano com minha família. Eles sempre reclamavam que eu quase nunca vinha visitá-los, e eu sabia que estavam certos. Eu sempre acabava muito ocupado com o trabalho em Seoul, principalmente nesta época, quando mais recebia trabalho, pois sou fotógrafo e o fim de ano é quando mais recebemos pedidos para cobrir alguma comemoração ou casamentos, já que é quando a maioria das pessoas têm tempo disponível e muitas delas deixavam para se casar nesta época. E, como eu não podia desperdiçar oportunidades de trabalho por ser uma grande experiência para mim, as quais enriqueceriam meu currículo e que me fariam crescer profissionalmente, fora o salário que era fundamental para manter um custo de vida alto na capital, eu não podia recusá-los.

Mas, desta vez, aceitei o máximo possível de trabalhos em novembro e no início de dezembro, para que pudesse tirar férias para visitar minha terra natal e reencontrar minha família. Também sentia falta deles. Quando recebi uma proposta de emprego em Seoul, os primeiros meses foram muito difíceis, mas logo me acostumei com a minha nova rotina e com minha vida nova. E, felizmente, ter tomado essa decisão foi algo muito importante e que me trouxe muitas coisas boas. No entanto, quando voltava a Busan, sentia que reencontrava uma parte de mim que havia ficado no local, e era uma parte importante de quem eu realmente era, minha essência. Seoul era uma cidade muito agitada e modernizada, as pessoas estavam sempre com pressa e apegadas a suas rotinas, como em qualquer outra grande cidade. Todavia, com isso, sentia como se houvesse deixado de dar valor às coisas simples e verdadeiramente belas. Sentia falta do contato que tinha com a natureza em Busan e que, diferente das cidades grandes — onde nosso trabalho se centralizava em estúdios com cenários decorados —, encontrava as mais belas paisagens, com o céu e o mar como meus mais preciosos cenários.

Ouvia o grasnar das gaivotas e, olhando para cima, consegui avistá-las sobrevoando o amplo céu azul em seu processo migratório. Elas se aproveitavam do vento ao seu favor para tomar impulso e tornar seu voo mais fácil, poupando assim a energia que haviam armazenado para o inverno. Abri a bolsa preta que carregava em meus ombros e retirei de lá minha câmera, a ligando e balançando minha cabeça, na tentativa falha de afastar os fios escuros de meus cabelos, que o vento insistia em fazer balançar sobre minha testa e atrapalhar minha visão. Posicionei a câmera e comecei a tirar fotos das aves, com o dourado fraco do sol ao fundo da ampla tela azul, capturando até algumas gaivotas que mergulhavam de encontro ao mar para alcançar suas presas, saindo com peixes entre suas garras. O branco das aves não se destacava tanto no céu devido à nebulosidade típica da estação, diferente de um dia de verão, em que o sol estaria brilhando fortemente, afastando as nuvens do céu e o deixando límpido em um azul intenso.

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