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havia algo de belo na monocromacia de olhar para os traços de sehun às vezes. algo de intenso o suficiente para que sempre me fizesse ficar, tanto boquiaberto com a simplicidade dos nossos momentos felizes, ou as vezes, simplesmente calado. quieto na escada enquanto me contava mais de uma de suas intermináveis aventuras, das quais jurava não ser o protagonista, já que, para si, (fato do qual, eu discordo em gênero número e grau) aventuras só fariam sentido se o estrelismo não existisse.

ele era feito de traços brutalmente simples e da mesma intensidade, complexos como fórmulas químicas intermináveis sem propósito nenhum. ácidos e substâncias tóxicas evaporado sem exatidão de algum lugar no meio no nada. entretanto, único de um jeito que só sehun conseguiria ser; parte de uma obra onde nenhum pingo vermelho de tinta, nem que tentasse inúmeras vezes, poderia corroer a intensidade do branco vívido da sua pele, mesmo que esse vermelho todo, algum dia, viesse a se tornar sangue. e se me cabe contradizer o que gostava de deixar tão explícito, sehun seria o protagonista da obra.

sua pele, dolorosamente intocada sobre a tela. um pincel, tediosamente intacto: longe demais do cavalete para que fizesse alguma diferença no contexto geral, longe de qualquer corpo indevido e mal intencionado à ponto de macular a pele branca desprovida de cor. não que um pouco de tinta sobre uma tela branca consiga capturar a beleza de uma coisa física(!) seria demasiadamente doloroso não poder sentir a sua pele sobre a minha. doloroso demais ao passo que me veria consequentemente caído ao chão chorando de dor.

dor essa, que sehun, hora ou outra disse poder ser tão intensa quanto o amor.

e, com os meus joelhos de encontro ao piso frio de um museu tão catástroficamente sujo, eu concordo em sentir a dor de não poder mais tocar algo. algo que já não é mais físico como costumava ser. gasoso e invisível. infâme ao ponto de não poder tocar, cheirar, morder e beijar.

- incessantemente.

ÓLEO SOBRE TELAOnde histórias criam vida. Descubra agora