A luz fraca do sol iluminava a fisionomia da rainha deitada em meio aos lençóis brancos, moveu-se inúmeras vezes irritada, suspirou aliviada quando encontrou a posição para livrar- se desse incômodo, enterrando a face pálida no travesseiro de penas de ganso, por algum tempo adormeceu. As tarefas como governante do reino de Arendelle tomava-lhe a maior parte do tempo, gostaria de estar com Anna, acompanhando-a nos passeios a cavalo, nas caminhadas ao redor dos jardins, nas visitas ao súditos, e até mesmo andar de bicicleta nos salões do castelo, ainda que fosse perigoso. Embora tivesse o desejo nutrido, a obrigação com as responsabilidades vinha em primeiro lugar, odiava deixar a irmã em segundo plano.
Com os pensamentos aglomerados na mente, viu-se cercada pela culpa, respirou profundamente, após o sono ausentar-se, abriu vagarosamente os olhos, radiando a beleza das íris azuis, sentiu-se em choque por um breve instante, ao lado da escrivaninha permanecia aquele que pensou tê-la abandonada para sempre, Jack Frost, qual encarava a fisionomia da soberana de maneira cordial, conquanto a surpresa a fez erguer-se bruscamente, resultado na queda ao chão, levando junto os lençóis.
Atento a cena, o espírito do inverno deu três passos, agachando-se na altura da mulher, de modo ajudá-la; colocou a mão no ombro direito dela, ao mesmo tempo que equilibrava o cajado, a presenciou erguer a mirada a ele segundos antes de sentar-se na beirada da cama, atordoada pôs a palma na testa, seguidamente mirou o semblante até o guardião.
Encararam-se como duas crianças indecisas na véspera de natal, perdidos nas profundezas frias dos olhos, recordando-se com saudade a época em que eles eram confidentes naquele quarto, ele a protegia dos seus demônios interiores, do medo e da angústia, ela lhe presenteava com sua presença, jamais deixando a solidão ser tornar seu amigo, ambos completavam-se como duas forças opostas, se a saudade fosse a razão da dor, nunca seria a do esquecimento.
Apesar do silêncio, a atmosfera do lugar preenchia-se com indecisão, barulhos auditiveis nos próprios pensamentos, causavam vontade da pronúncia, a medida
que nenhum dos dois falavam, um abismo cresceu entre ambos, no entanto, após tempo indeterminado Jack decidiu falar.
— Oi.
De todas as palavras e formas que ele poderia dizer, aquilo souou como uma ofensa para os ouvidos da rainha. Depois de tanto tempo, reencontrando-se onde tudo iniciou-se, em seu quarto, um simples "oi" não resolveria nada entre eles.
Elsa levantou-se, a postura séria trouxe convicçao para si, analisou a face do seu interlocutor por breves segundos, quais Jack ocupa com esperança, com um breve aceno com a cabeça, a rainha desvia-se de seu corpo, indo em direção ao espelho na parede, Ignorando assim a presença dele, qual franziu a testa e girando nos calcanhares avistou a soberana lhe dá as costas.
— Como vê Senhor Frost — começou ela, a voz arrastada em amargura e raiva. — ,eu sobrevivi sem você, e pretendo continuar assim, pois sua companhia não é mais necessária, então vá embora.
A fala dela souou como uma adaga de gelo sendo atravessada em seu peito, estremeceu-se como em uma dor física, prorrompeu, com o remorso, move-se com passos lentos atrás da figura daquela mulher, fechou os olhos buscando as palavras certas.
— Ninguém me vê, ninguém nunca olhou em meus olhos, logo saí. — disse ele, e quis continuar, mas, ao vê-la distrair-se em frente ao espelho, escovando os fios loiros, quase brancos, contraíram seus lábios.
— Vivi por mais de dezessete anos sem ver ninguém, além dos meus pais, enjaulado nesse quarto, como uma prisioneira… — Colocou a escova sobre a mesa de madeira, apertou com força os seus punhos, voltou-se para o guardião, a recriminação em sua face deixou-o assustado e surpreso. — Acredita mesmo que ninguém olhou em seus olhos? Esse ninguém era alguém, eu!
— Elsa, escute.
— O quê?! — interrompeu com o tom de voz alterado. — Vai dizer-me que tipo de desculpas? Quer saber? Me desculpe por acreditar em você, pensar que estaria aqui para sempre.— pausou a voz e continuou irritada:— Me abondonou como se não importasse! Pensei que éramos amigos!
Não soube preparar suas feições para a situação em que se viu, diante da rainha, deu um passo hesitante a frente, permaneceu calado, mirando-a diretamente nas íris frias, fez-se sufocar, algo na aparência dela, como os cabelos caíam sobre omoplatas, a maneira que suas vestes de dormir caíam em seu corpo, ela se tornará uma adulta incrível, como na benevolência da sua personalidade.
— Por que acha que estou aqui? — questionou, apertando o cajado entre as mãos. — Não vou pedir desculpas por algo que não fiz, gostaria de ter feito algo bom, enquanto a via trancada nesse maldito quarto, no entanto, a única razão Elsa, de estar aqui novamente é arrepender-se de não ter feito nada. Presenciar você e Anna se salvarem sozinhas… — um riso sarcástico surgiu em seus lábios. — Nunca precisara de mim, mas eu precisei, você era luz em meio a minha solidão, e depois de finalmente liberta-se, entendi que eu estava pronto para ir.
Em lugar de ofender-se,justificar-se, ou até ficar triste, de modo completamente involuntário pegou do bolso uma caixinha e estendeu para ela, que após olhar de relance para o objeto aceitou.
— O que é isso? — indagou displicente, girando a caixinha entre os dedos.
Percebeu que a rainha havia ignorado suas palavras, todavia fingiu não entender.
— É para Anna. — passou os dedos nos fios platinados do cabelo. — Hoje é o aniversário dela, sendo assim fiz um presente, não é tão bonito como gostaria que fosse. Está aí dentro, é um pingente de gelo em formato de floco de neve.
— É adorável. — comentou, erguendo-o na frente dos olhos, acrescentando com um curto sorriso. Era a primeira vez que Jack presenciava novamente seu sorriso. — Anna vai amar, ela ama tudo que é relacionado a neve e gelo, contundo é verão, certamente irá derreter.
— Esqueci desse detalhe.
Ambos riram ligeiramente, e após breve minuto de silêncio, a rainha foi interrompida por olhar do espírito de inverno, lembrou-lhe tudo; quando ela era criança e brincava na neve, como amava a sensação de correr livre e sem direção antes da tragédia. Sabia que esse espírito, na fisionomia o mais frio e divertido poderia imaginar, tinha o encanto de deixá-la alegre, diferente de seu temperamento extremamente sérios às vezes.
Baixou a cabeça e seu belo rosto tomou uma expressão melancólica, num relance, els avaliou da cabeça aos pés sua figura, possuía as mesmas roupas, a calça marrom, da mesma cor do colete, a blusa de mangas de cor bege e por fim o poncho preto, com geadas por cima do tecido. Quis dizer algo, mas negou-se, deu as costas para o rapaz e foi para atrás do bioma, trocar-se, voltou depois de alguns instantes trajando um vestido azul claro, o que ela usava sempre, notou como ele a admirou, causando-a desconforto.
— É o único que tem? — perguntou Jack, com sarcasmo carinhoso.
— Um clássico nunca saí de moda. — respondeu Elsa, lançando para o guardião um olhar desafiadore simpático.
— Bem, como é verão, achei que iria vestir-se de acordo com a estação. — Andou distraidamente, balançando o cajado e congelando levemente o chão. — Como vocês dizem, cada ocasião pede um traje adequado.
— Desde quando o senhor é um especialista em moda?
— Eu não sou, mas quem sabe um verde ou um rosa? Sabe para dar um tom de verão.
— Em primeiro lugar, ninguém controla o que vou ou não vestir, isso é pessoal e íntimo, e em segundo lugar, verde não é a cor que mais admiro. Você que deveria mudar esses trapos velhos.
— Trapos velhos? — indagou com um sorriso e diversão. Custou-lhe entender algumas de suas palavras, ela possuía aquele sotaque noroeguês incompreensível às vezes.
Os dois não compreendiam como chegaram ao ponto de serem amigos novamente, a medida que conversavam encontravam o conforto, seguramente Jack estaria pronto para deixá-la, mas Elsa ficaria triste e brava, por essa razão prometeu estar com ela mais tempo, o inverno tormaria seu tempo a retornar.
Pela porta passou de repente Olaf, qual alegrou-se em ver o espírito, e com toda felicidade que poderia ter, o convidou para o aniversário de Anna, a rainha interveio mentalmente, culpado-se pelo atrevimento do boneco de neve, ainda assim, contém a esperança em seu âmago.
— Terá bolo de sorvete! Eu amo bolo de sorvete, você também gosta? — Deu leves pulinhos de exaltação, os dois adultos sorriram com a ação.
Encarou brevemente a face da rainha, buscando discórdia ao pedido de Olaf, como não obteve, repondeu:
— Com certeza.
— Legal! Vou contar a Anna, espera, é uma surpresa, devemos manter em segredo. — sussurou, colocando a mãozinha de graveto no canto da boca. — Irei contar para Kristoff! Vamos Jack Frost!
E antes que Elsa pudesse impedir, Olaf segurou o tecido da calça do guardião, o levando dali. A rainha sorriu ligeiramente, seguidamente guardou o pingente de gelo de Anna na caixinha, transformando a caixa em uma bela peça de gelo.
"É um lindo presente".
De súbito pensou, ao mesmo tempo que lhe desceu sobre o rosto aquele ar de melancolia que nunca a abandonava sempre que, na lembrança de Jack, se pronunciava na sua saudade. Irritou-se profundamente com a partida do espírito a alguns meses, acreditava na amizade vívida, de certo era alegre tê-lo em Arendelle novamente, mas a armagura permanecia no interior da rainha, talvez pudesse reconsiderar, escutara da boca do guardião o arrependimento, ainda assim não seria fácil, decidiu esquecer tais pensamentos, pois era aniversário de sua irmã, um dia especial, nada e ninguém acabaria com essa data, principalmente Frost, permitiu-se então, arrumar o cabelo em uma trança lateral e depois seguiu com os preparativos.
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Coração Aquecido
FanfictionDepois de tanto tempo seu interior voltou a iluminava-se, pois era aniversário de sua irmã, agora os portões estavam abertos, contundo o vazio ainda reinava sobre ela, talvez fosse a falta de alguém, um espírito que atuava como o refúgio de sua dor...