De olhos vermelhos, de pelo branquinho... De orelhas bem grandes, eu sou o coelhinho!
— Susie, corta essa. — Fritz resmungou, tampando as orelhas com as mãos, de certa forma sentindo uma leve frustração por ouvir aquela música dezenas de vezes, ao caminho da igreja. — Você só sabe cantar essa parte?
— Fritz, para... Quando é Natal, você só sabe cantar "Jingle Bells". — Gabriel argumentou, dando a mão para a pequena menina loira, olhando ambos os lados, antes do trio atravessar a rua.
— Essa é a parte mais fofa da música! Você quem é chato! — Susie comenta, dando pulinhos e com a outra mão livre, fazendo um gesto acima da cabeça imitando uma orelha de coelho, seguido de um riso humorado e infantil. — Eu sou o coelhinho!
A rua estava preenchida com várias crianças e pais, correndo e buscando ovos de páscoa. As grandes árvores se encontravam cheias de ovos embalados e caixas de chocolates, intrigando até mesmo as mais altas das crianças, como é que pegariam aquilo. Mesas nas calçadas com jarra de suco, limonada ou até mesmo aperitivos derivados do cacau, para agradar quem passasse ali. Alguns carros até entraram na "festa": Davam bombons para as criancinhas que estavam aguardando o semáforo despontar a luz vermelha.
Fritz, Susie e Gabriel se encaminhavam para a igreja. Todo o sábado e domingo eram responsáveis por fazerem parte do coral da capela, onde eram os destaques pelas vozes que entravam em sincronia. Apesar de que fosse contra a vontade de Fritz, o garoto mais ruivo, sua mãe prometeu que após o canto, poderia ficar até um pouco mais tarde do horário proposto caçando chocolates com seus amigos. Mesmo que isso significasse que só sobraria o Gabriel depois. Afinal, os pais de Susie eram muito protetores, um minuto depois do horário indicado era motivo de preocupação.
— Espera, o que é aquilo? — Gabriel segurou a mão de Susie, forçando-a parar ao seu lado. Fritz maneou a cabeça em direção que lhe fora indicada, olhando para algo mais longe, enquanto murmurava um "hum...", dando a entender que não estava olhando na direção indicada. — Ali.
Prestou a atenção.
Eram grandes fantasias de coelhos que passavam distribuindo ovos de chocolate para as crianças. Algumas até tiravam fotos com a câmera e outras saíam saltitantes carregando o embrulho de chocolate. Enquanto Fritz parecia incrédulo e meio receoso, Susie glosava intensamente:
— Olha como o coelho amarelo é fofo! Que gracinha!
O moreno olhou para a fantasia de cor indicada. Era um coelho amarelo com uma gravata borboleta magenta pendurada ao redor do pescoço, que estava agachado entregando doce para a pequena criança. E esta saiu feliz, também. Levantou-se, fazendo um gesto como se limpasse os joelhos metálicos que estavam decorados do mesmo tom da gravata.
O espécime de coelho estava em um grande jardim, rodeado por uma cerca marrom e triangular, como era o modelo padrão das cercas das casas vizinhas. A moradia era branca e as janelas estavam escuras, nada se via lá dentro. Logo, a porta fora aberta e dispensou mais duas fantasias gigantes. Uma era um coelho roxo de gravata vermelha e sua companhia era um da mesma espécie, mas com um tom mais azulado e olhos verdes.
— Agora são três coelhos fofos! — Susie exclama, tentando se soltar da mão do amigo, que estava incrédulo com a cena. Aquela deveria ser a nova atração da região, que todo mundo estava falando. — Gabriel, me solta!
Ao escutar a voz da menina, o trio de láparos se alarmou, mirando em direção ao grupo de crianças do outro lado da rua. O de amarelo acenou, como se incitasse para eles se aproximarem. Antes mesmo da menina puder ir, Fritz começou a empurrá-la pelos ombros, fazendo-a seguir em frente, junto deles.
YOU ARE READING
O que trazes para mim?
HorrorEm uma época de Páscoa, o que três coelhos poderiam oferecer a um trio de crianças?