Capitulo 2 - Aron

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Para a maioria das pessoas falar é mais fácil que ouvi, isso não serve pra mim. Eu escolhi ser terapeuta pra dar a essas pessoas que vem até mim algo que eu nunca tive, alguém que realmente as escutassem.

Tommy é meu paciente a alguns anos e sei que nossas vidas e histórias são completamente diferentes, mas tem uma coisa que ele é igual a mim, ele usa o humor e a ironia pra esconder o que realmente sente.

-Eu estou bem, cara! Acho que melhor que você que fica ouvindo meus problemas toda semana.

-Não estamos aqui pra falar sobre mim, eu estou bem com meu emprego. Quero saber o que está se passando aí dentro! Sua mãe morreu a um mês e tudo o que você está fazendo é evitar falar sobre isso.

-Falar vai resolver o que? Você pode trazer ela de volta? Aron, o babaca do meu pai só se importa com a empresa ele nem perguntou como o Kevin estava, porra, meu irmão tem 8 anos e acabou de perder a nossa mãe.

-Você perguntou como o Kevin estava?

-Que merda de pergunta é essa?

-Só responde, Tommy!

-Não, eu não perguntei. Eu só fiquei ao lado dele, eu não sou bom em tá falando o que sinto, mas eu estou aqui por ele, cara.

-Então quando você voltar pra casa vai até ele e pergunte como ele está.

-E se ele não falar nada ou se ele dizer como se sente? Eu não tenho a mínima ideia do que dizer! Era o meu pai que deveria fazer isso, merda!

-Mas o seu pai não está lá pra fazer isso! Você quer que seu irmão ache que você também não se importa?

-Isso nunca, Aron!

-Então tá aí a resposta para todas as perguntas que você me fez! Não importa o que seu irmão fale, se você não souber o que responder ele vai saber que mesmo assim você está ali por ele, ele vai saber que você se importa! Seu pai pode não está lá por vocês, mas vocês têm um ao outro, isso é mais do que não ter nada. Sua mãe vai ficar orgulhosa.

Vejo a gratidão nos olhos dele, e quando ele fala sei que está tentando parecer durão mas a voz entrega o quanto ele está magoado com tudo.

-Obrigado, Aron! Você até que vale esse dinheirão que eu gasto.- ele sorrir, mas o sorriso é apenas um escudo. O cara está destruído.

Escutamos alguém bater na porta e depois a Sarah aparece.

-Sr. Everett, creio que vocês não verificaram a hora.

-Obrigada por informar, não tinha olhado o relógio! A próxima paciente está aí?

-Já sim, senhor.

-Tommy, te vejo na próxima consulta, marca com a Sarah, ok?

-Beleza, cara! Até a próxima.

Quando ele passa por ela vejo que da uma piscadela, ela fica vermelha na mesma hora. Eu tento conter um sorriso, mas a Sarah percebe e fica mais vermelha ainda, ela fecha a porta logo em seguida.

***

Nesse momento meu telefone toca mas eu não reconheço o número.

-Aron Everett, pois não?

-Boa noite, senhor everett! Sou a Danielle, secretaria da Helena.

-Certo, e ela está bem?

-Infelizmente ela teve um episódio de estresse e está no hospital local em observação, liguei por que ela quer encontrar o senhor e pediu pra dar uma passada no hospital!

-Posso sim, amanhã estarei lá!

-Certo, obrigada e tenha uma boa noite!

********
Depois de falar com a Danielle vou até a porta e chamo a minha próxima paciente.

-Boa noite, Ava querida! Desculpa a demora!

-Sem problemas, Aron. Não estou esperando a muito tempo.

Depois de uma hora me despeço da Ava e vou direto falar com a Sarah.

-Sarah?

-Sim?

-Pode ir, eu fecho tudo aqui!

-Certo, senhor! Vou só terminar de organizar algumas coisas e já vou!

Eu aceno e volto pra minha sala. Pego algumas anotações para ler quando meu celular toca. Atendo sem olhar quem é.

-Aron Everett, pois não?

-Eu sei que é o meu namorado já que liguei pro número dele!

Quando percebo que é a Jenny quem está ligando me arrependo de não ter olhado!

-Oi Jenny, algum problema ?

-Eu quem pergunto! Não vejo você há dias ! O que tem de errado ? Aconteceu alguma coisa? Por que você tá estranho?

Eu reviro os olhos mesmo sabendo que ela não pode ver. Ela faz tantas perguntas!

-Não há nada de errado, só ando ocupado.

-Ocupado até pra mandar uma mensagem dizendo que está vivo? Qual é o seu problema ?

-Meu problema é..- eu quase falo que o meu problema é não ter a coragem necessária para fazer algo inevitável que é terminar com ela! Mas não posso falar nada pelo telefone.- não é nada!

-Aron! Você pode falar comigo!

Meu celular vibra indicando que tenho uma ligação da Emília.

-Jenny, falo com você depois.- desligo antes dela falar alguma coisa, sei que se a Emília está me ligando algo bom não pode ser.

-Alô? Pode falar!

-Aron! É o seu pai, você precisa vir agora.-escutar a Emília falando isso me causa arrepios.

-Já estou a caminho.

Saio do escritório correndo em direção à rua onde meu carro está estacionado.
A única coisa que consigo pensar é: Por favor, que você não tenha feito besteira. Por favor!

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