Capítulo 1 - Parte 4

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Seguiram com dificuldade por vários metros, com neve subindo até quase a altura dos joelhos. Ele teve de reconhecer que o irmão possuía um faro apurado para atrair coisas desconhecidas, coisas da qual o tomavam, em particular, de surpresa. Ao ver o sorriso do irmão em resposta, apressou-se em adicionar, como prudência, sobre algumas palavras que ouvira dos monges.

- O desconhecido é a resposta para muita coisa. Porém, as respostas podem não ser aquelas que esperamos.

Ficaram em silêncio. Zac seguia na dianteira, rastreando o caminho como um lobo. Refletia, no entanto, nas palavras do irmão mais novo. Compreendia o destino ao qual ele abraçou, afinal, com tão poucas oportunidades era o melhor a se fazer: aceitar o destino com agrado e simpatia. Doía menos. Ele, em oposto, não possuía essa tendência. O arco do destino estava porcamente retesado, pois não enxergava para onde lançar-se. Entretanto sentia algo contorcer-se em seu interior e isto bastava para enchê-lo de inquietude, fizesse sol ou chuva.

O esforço daquela empreitada os aqueciam e aos poucos Eric contagiou-se pelas ideias do irmão. Gostava da arte que via nas paredes e aquilo poderia ser uma oportunidade para exploração. Explorar grandes coisas das quais não sabemos.

Embora as reuniões dos monges, no pátio do templo, trouxessem um hábito de explorar o desconhecido interior individual, vislumbrar um mundo novo poderia, também, assim como o irmão acreditava, realizar um profundo descobrimento em seu íntimo. No fundo, possuía grande curiosidade sobre aquela cidade envolta de estonteantes muros e torres altas. Nunca estivera tão perto dela, mas a sentiu incrivelmente acolhedora.

Olhou para o irmão. O machado de madeira, decorando-lhe as costas. O elmo, reluzindo a pouca luz que chegava. A espada, submersa em uma bainha forrada de pelos de urso negro. Aquilo sempre chamava a atenção por onde passava. Alguns admiravam. Outros caçoavam. Mas ele não se deixava levar por nenhum dos dois lados e aquilo causava a admiração de Eric.

Eric sempre via a perda do pai ainda ecoava no íntimo do irmão. Zac carregava o elmo do pai e a espada, ambos os únicos bens deixados por ele. De fato, foram os únicos que restaram dele. Na grande guerra, quando todos os sobreviventes marchavam pela cidade, com seus mortos e feridos, só isso retornara. Enterrado na neve ou carbonizado pelos dragões, nunca se saberá acerca do seu destino. Mas o fato era que Zac mantinha tais itens como medalhões, sempre próximos ao seu corpo. Ele exalava um agitado desejo de usá-las, de fazê-las vibrarem, num desesperado desejo de reviver alma do pai. Mas desde então nunca houve oportunidade.

Enquanto andavam, Eric estudou os símbolos nas pedras. Várias cores ardentes, incluindo até tons desconhecidos, atraíam seu olhar. Em busca de tecer um sentido ele tentava interpretá-los a sua maneira, mas caía numa mescla de confusão e fantasia. Contudo, aquilo não o impedia de continuar, pois de todo modo aquilo era belo e formoso, o que lhe causava um agrado visual inexplicável. Brotou um lampejo de interesse em seu interior e compreendeu, por um instante, seu irmão.

Foi acordado de seus pensamentos pela voz do seu irmão, alertando-o para tal entrada.

- Parece ter sido feita por mãos humanas - falou, indicando que o rombo possuía a altura exata para um homem passar

- Quem se atreveria a chegar até aqui e com que propósito? Estamos no que muitos chamam de fim do mundo, e sem exageros.

- Boa pergunta. Viu como as coisas ficam mais interessantes?

- Não era isso que queria dizer. - replicou, sem jeito. - As possibilidades são muitas, mas nenhuma me parece agradável.

- Não está com medo, não é? - gritou Zac, em desafio a qualquer coisa ao redor.

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⏰ Última atualização: May 11, 2019 ⏰

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