Quando você acha que virou um idiota? – Aqueles olhos verdes e profundos me questionavam. Pontuei, então. "Acho que foi aqui". Não sei bem como escrever sobre isso. É como se eu me escorresse sobre a mesa, como se tudo fosse tão forte, tão sólido, tão duro, e eu pura energia vacilante, como fogo queimando na ponta do cigarro. Os olhos daquela moça, verdes também, ainda mais profundos, ainda parecem estar no quarto. Como se eu fosse espírito, voltasse àqueles dias. Ela acordando entre as cobertas, os seios de pele morena, o cabelo pintado, o piercing na boca que eu beijava. Pensava em como ela era perfeita. A mulher dos meus sonhos, e agora eu sonho. Com nossas noites de transa, meus dedos pressionando sua pele, ela gritando de prazer. Do nosso cachorro, dela me chamando de cachorro, cretino, dizendo que me amava. Desse corredor onde ela me agarrava, onde eu a agarrava quando ela não conseguia se agarrar – onde quando eu não conseguia me manter, não deixei que me tocasse.
Então somos cretinos, então? Somos canalhas? Esse amor é mesmo tão bandido quanto eu, tão inocente, brincava? Cê nunca me deu tapa na cara, mas dói tanto quanto. Nós que éramos dois e um – agora eu um e zero. Esses rostos na parede ainda me sussurram mantras, e cê sabe, eu não quero ouvir. Minha síndrome de herói me fez querer te salvar – e tentando, me perdi. Sinto que deixei meus pedaços em algum lugar. Mas cê sabe como é. Passarinho que come pedra sabe o cu que tem. Aguento o peso dos meus atos.