Flagellum I (devaneio BDSM) +18

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(Música fundamental para o texto)

A serpe era extensão de seu braço, a continuação do intento. A língua afligia sua dolorosa ponta onde era vulnerável e sensível; não na pele.

O impulso do gemido era arrancado, forçado, mas seu mélico som presenteado àquele que lhe golpeava. O arco se traçava ao ar, a onda projetava-se, e a silhueta dela correspondia oscilando sem poder fugir. Ombros açoitados se comprimiam inutilmente e coxas flageladas se apertavam em vão. Descalços, os pés estavam em suas pontas e seus pulsos cruzados entre as cordas apertadas, presas ao alto — igual a uma peça de carne a ser lacerada e consumida.

Suor, lubrificação e saliva escorriam em afloramento. Como seiva, como néctar, fluidos gélidos para uma pele ardente. Estava completamente despida de formalidades ou máscaras, uma libertina liberta sob os nós do shibari. Contemplavam violência e ritmo, na música e no ato mútuo.

A mordaça, cada vez mais mastigada pela mandíbula que agia em reflexo da penitência erótica, estimulava a salivação que untava mamilos eretos e seios estrangulados, estes, agora carmins pela chibata. Quadril, abdômen e virilha, mais marcas se faziam, a cada golpe, desenhando em vermelho seu caminho de lascívia.

Entregando-se, aceitava e venerava o som da dor. Ele rangia seus dentes em malícia ao lhe chicotear, ao degustar de seus gemidos, ao vê-la se contorcer. Os dedos envolveram-lhe a maçã do rosto enquanto empunhava a arma na outra mão, a encarando com libido latente sob o longo e suado cabelo negro. Nela, rasgara em diversos trechos o tecido de rede; nos mamilos, para sugá-los, e na virilha, para penetrá-la.

Esfregou os dedos nos lábios dela a provocando para a próxima ação. Agarrou seu pescoço exposto e lhe tocou no clitóris, a asfixiando e masturbando ao mesmo tempo. A beijava por cima da mordaça em sadismo e só atingira o ápice do orgasmo quando as lágrimas orvalharam negras pela maquiagem que era lavada.

Exaurida, teve os pulsos e tornozelos soltos, assim como a boca. A pressão de todas as cordas foram aliviadas uma por uma e seu corpo pendeu sem força nos braços dele. Sentia-se infinitamente leve quando fora carregada no colo até a cama, para ser deitada como uma deusa recém-nascida de uma flor.

Em incomparável delicadeza, ele a beijou, provando seus lábios frios, a tratando como uma pétala que se desprendera sob o vento. Encaixada no ombro dele e esticada sobre o peitoral desnudo, ela se aninhava como uma felina carente.

Era sua amante.

Sua escrava.

Sua protegida.

Sua confidente.

Eterna desejada parceira correspondida.  

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