Auto Imagem

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Rascunhou a própria imagem numa folha de papel

e achou-se mais parecido consigo mesmo ali

Do que na imagem impregnada no espelho

Ou na velha fotografia que registrara um tempo não vivido

Ele agora era aquele rascunho

Com traços imperfeitos, imprecisos, rabiscados

Essa parecia ser sua real fisionomia

Esse desenho parecia mais com seu cenho

Enfim, havia encontrado seu auto-retrato

Se fez a esmo, com pressa de logo vê-lo terminado

Por suas próprias mãos, com seu próprio conceito se si mesmo

O papel branco e as linhas pretas, as únicas cores

que todo bom desenhista sabe não serem realmente cores

São apenas presença e ausência de luz

Ele se sabe incolor, pois sabe que nunca amou

Ele se sabe disforme, se sabe sem nome

Ele se sabe dor

Ele se sabe de cor

Sua auto-imagem não deveria ser retocada

Nada de correção ou arte-final

Ele era daquele mesmo feitio ali registrado

Era luz e sombra, era o nada cheio de cercas

Ele era aquilo e não poderia melhorá-lo

Tampouco seria capaz de póstuma reprodução

que lhe seria mais fiel e verdadeira

E imediatamente terminado o esboço –

pois mesmo sendo-o inteiro, aquilo nada mais era

do que um mísero esboço –

Ele rasgou a folha e desfolhou-se

Soube como era e regozijou em silêncio

Tinha íntima certeza de que depois de saber como realmente era

Poderia, a partir dali, ser qualquer outra coisa que quisesse

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⏰ Last updated: Apr 29, 2019 ⏰

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Auto ImagemWhere stories live. Discover now