Capítulo 1

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Leo

Leo subiu os degraus do ônibus e seguiu o longo corredor sem desviar os olhos de seus pés, provavelmente a coisa que mais odiava era a atmosfera do ônibus, todos o seguiam com o olhar enquanto o garoto andava com a cabeça baixa, encarando seus All-Star brancos cobertos com desenhos de monstros e demônios.

Quando finalmente levantou a caneça, Leo encarou os bancos da parte de trás do ônibus, ainda tentando evitar o olhar dos outros passageiros. Porém seus olhos foram misteriosamente direcionados à uma garota sentada no costumário banco do garoto.

Ele nunca a havia visto antes, e isso não era uma coisa comum em um ônibus que alguém visita todos os dias no mesmo horário. É quase como se ninguém entrasse e ninguém saísse.

Mas aquela garota quebrava todas as regras. Ela parecia morta, com a pele da mesma cor que a neve, um vestido braco como em propagandas de sabão em pó e, principalmente, um cabelo loiro e olhos cinzas. Ela não era normal.

Leo ficou observando a garota por tanto tempo que esqueceu-se que não tinha assento para se sentar. O garoto olhou em volta, esquecendo-se completamente de evitar contatos visuais. Depois de alguns minutos de procura, o menino achou um lugar para sentar-se. Ao lado da garota "fantasma."

Mesmo que tentando não fazê-lo, Leo não conseguia parar de olhar para a menina loira, era como se seus olhos fossem atraídos por ela. Mas a garota não desviava os olhos da janela, sem hesitar ou se mover nem mesmo do modo mais leve possível.

Leo decidiu parar de olhar para aquela garota e tentou arrancar seus olhos dela com um movimento brusco da cabeça. Aquilo era penetrante.

O garoto sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao perceber que todos estavam olhando para ele. Ninguém mexe a cabeça freneticamente no meio de um ônibis movimentado, a não ser que esteja ouvindo Heavy Metal. Mas esse não era o caso do garoto. É, definitivamente o plano de Leo de não fazer contato visual não estava dando certo.

6 anos antes...

"Smack!" Foi o único som audível antes de Lily ver as pombas voando acima das casas e sobrados no Queens.

-Você não pode fazer isso!
Smack!
Você gostaria se alguém fizesse isso com você?!
Smack!
Pelo menos tente se imaginar no lugar dela!!!
Smack!

Foi o último som antes de Leo ver sus mãe correndo em sua direção. - Leo! - Ela deu um suspiro. - Quantas vezes eu já te falei... Olhe suas mãos, Leo...

O garoto direcionou seu olhar as mãos, sujas de sangue, sangue do Max.

-Ele estava maltratando uma pobre lagartixa mamãe, ele... ele pisou nela!

-Leo, há uma coisa que você precisa entender. - Sua mãe disse com uma voz calma. - Nunca há um bom motivo para machucar as pessoas. Eu não te repreendo por seus objetivos, mas esse não é o jeito certo de resolver as coisas! - O jeito como ela pronunciava cada palavra lentamente e sua voz macia como uma almofada tranquilizavam o garoto de uma forma indescritível. A única coisa comparável àquilo era o sono. E ele estava tomando conta de Leo.

O menino acordou com um alto estrondo vindo do quarto de seus pais, seguido por um grito - Lily! - Era a voz de seu pai, dura como rocha e firme como uma tala.

Leo levantou-se da cama e saiu correndo em direção ao barulho. O som ecoava repetidamete plea casa, vindo de todos os cantos possíveis, como uma alucinação.

E talvez fosse uma.

O menino continuou seguindo em frente, em direção ao que corredor que levava ao quarto de seus pais. Mas, pela primeira vez na sua vida, aquele caminho parecia longo, quase interminável, como se cada passo de Leo demorasse um minuto para acontecer e tudo estivesse em câmera lenta.

Ou como se o destino estivesse fugindo dele.

Leo sentia medo, e ouvia seus passos ecoarem pela casa, junto ao som estrondoso som que o acompanhava desde o início de seu caminho, como uma assombração.

O garoto sentiu um flash de esperança percorrer seu corpo, porém sendo logo consumido pela tristeza que pairava no ar. Era quase como se Leo pudesse sentí-la, tentando convencê-lo de que ele nunca iria chegar ao quarto de seus pais. Parecia que a gravidade estivesse mais potente a cada passo que o menino dava, ou era apenas a tristeza puxando-o de volta, impedindo-o de chegar até seu destino.

Porém Leo consegiu ouvir o grito de seu pai e um longo suspiro de sua mãe vindo do quarto. Um suspiro de morte.

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