Abri os olhos de manhã e não vi o David, me sentei no montante de edredons da sessão de cinema improvisada na minha sala e o procurei com o olhar, mas não o vi. Me espreguicei, e fui até o banheiro e quando olhei no espelho vi um recado dele escrito com um batom meu " Desculpa pela sujeira, não pude te esperar acordar, mas te deixei o café da manhã pronto :) Te amo " eu sorri, limpei o espelho e fui tomar banho com um sorrisão no meu rosto, sai do chuveiro enrolada na toalha e coloquei Fleet Foxes pra tocar, aumentei o som e fui pro guarda roupas, inspirada pela manhã um tanto quanto folk coloquei uma blusinha folgadinha branca e muitas pulseiras artesanais no braço, fui até a cozinha e o David tinha deixado suco de uva e alguns lanches de atum pra mim, cortadinhos em cubo, a coisa mais linda. Voltei comendo para a frente do guarda roupas e coloquei um shorts boyfriend floral com cima da camisa branca e um cinto rustico, um cordão com um DreamCatcher no pescoço e fui arrumar o cabelo, defini bem os cachos, armei bem e coloquei uma flor, eu tava meio hippie, mas eu estava me sentindo daquele jeito. Terminei o café, coloquei um coletinho de renda soltinho marrom por cima do look e um sapatinho de pano pra combinar com o look natural, peguei minha camera, meus óculos redondos, meu celular e continuei a playlist que estava ouvindo em casa, nos fones... Peguei uma bolsa de couro de alça única e sai de casa visando fotografar para o meu projeto Tumbleweed. Peguei a bicicleta e quando eu virei a esquina, pra minha surpresa fui supreendida por um mar de fotografos " Olha é ela " eles diziam, quase atropelei um no susto e todos eles tiravam fotos e mais fotos de mim, apertei o ritmo das pedaladas pra escapar logo daquilo e não parei até chegar no meu destino... Finalmente subúrbio, peguei meu celular e mandei uma mensagem pro David " Fui atacada por fotografos. Bom dia. " eu parei na frente de um prédio e algumas crianças brincavam ali, então comecei a preparar meus equipamentos pra começar a fotografar " Bem vinda ao meu mundo, tudo bem? " ele respondeu depois de algum tempo " Tudo sim, estou fotografando e você está fazendo o que? " eu perguntei, guardei o celular na bolsa e comecei a fotografar aquelas crianças, percebi que bem próximo delas havia uma senhora, aparentava na média de 75 anos então eu me aproximei " Bonjour " eu disse pra ela e ela sorriu gentilmente " Lindo dia não? " eu perguntei tentando puxar conversa " Mais um lindo dia, num lindo bairro da periferia pariense " ela respondeu contemplando a paisagem urbana a qual ela estava inserida, parecia perfeitamente o que eu estava procurando, conversei um pouco com ela para distrair e expliquei o meu projeto e ela pareceu feliz em ver que alguém conseguia ver arte onde as pessoas viam pobreza e marginalidade " Qual o seu nome? " eu perguntei pra ela " Adele " ela respondeu " Adele Duboi, e você criança, como se chama? " ela perguntou simpaticamente " Erica Androsa, eu... Posso te fotografar? " eu perguntei pra ela e ela assentiu que sim tirei uma foto que expressou bem o que ela representava pra mim naquele momento, ela estava sorrindo sutilmente com o sol iluminando sua pele, ela parecia feliz, e livre, meu celular tocou e corri pra pegar " Com licença " eu falei pra Senhora Adele " Alo ? " eu perguntei sem ver quem era " Onde você está? Te mandei mensagem a mais de uma hora " o David falou rindo " Bobigny " eu respondi " Bobigny ? Está fazendo o que aí ? " ele perguntou surpreso " Estou tendo uma conversa super agradavel com a Senhora Adele Duboi moradora aqui do bairro e tirando lindas fotos das pessoas que passam por aqui, ela disse que vai me levar em um centro comunitário, estou super animada " eu respondi feliz " Nossa que legal vida, centro comunitário é? E será que eu posso ir? " o David perguntou " Claro, a gente te espera ". Expliquei direitinho onde eu estava e o David disse que em uma hora estaria lá, uma hora pareceu 5 segundos, Adele me contou sua história, me mostrou seus netos que estavam ali brincando com aquelas crianças na rua, me falou sobre seus filhos e o sofrimento de ter perdido um deles e a preocupação que ela tinha por um de seus netos estar nas drogas.
" E aí? É pra hoje? " o David falou abrindo o vidro do carro, segurei a mão de Adele e a ajudei a levantar e fomos até o carro, abri a porta da frene pra que ela pudesse se sentar e fui pro banco de trás " Uh la la, muito mais confortável do que o meu sofá " ela disse dando uma gargalhada gostosa " Senhora Adele, esse é o David Luiz" eu falei apresentando os dois " É um prazer criança, um prazer te conhecer " ela disse sorrindo enquanto David a beijava o rosto " O prazer é todo meu " o David disse contente e partimos para o Centro. Era um lugar enorme, um tanto quanto mal tratado, um quadra esportiva vazia, com cestas de basquete quebradas e a pintura bem desgastada, alguns buracos nos vidros da janela e to telhado, mas todo abandono que se via do lado de fora não era pário para a vida que estava dentro daquelas paredes, o David parecia que tinha encontrado a mina de ouro quando entramos e ele viu aquelas crianças " É o David Luiz " uma das crianças gritou vindo correndo na direção dele o David se abaixou sorrindo de orelha a orelha e pegou o menino no colo " E aí amigão, tudo bem? " ele perguntou e o menino assentiu que sim os dois pareciam muito confortáveis um com o outro e eu obviamente fotografei cada momento. Depois de um tempo ali conversando e conhecendo um pouco das pessoas que estavam ali David foi até o carro com mais dois voluntários e tirou três caixas do porta malas, uma com brinquedos, outra com livros e outra com roupas infantis, ele entregou para os responsáveis pelo projeto e eles distribuiram enquanto eu fotografava tudo, Adele parecia que ia explodir de felicidade, nem acreditava no que estavamos fazendo. No final do dia a levamos para casa e ela não sabia mais como agradecer, um rapaz saiu pela porta e ela sinalizou que era seu neto " Esse é o Leroy " ela disse " E o que tem ele vó ? " o David perguntou super intimo " Drogas " ela respondeu, o David saiu do carro com o capuz da blusa escondendo o rosto e abordou o menino que parecia incomodado, gingando e falando na gíria tentou intimidar o David e quando ele tirou o capuz Leroy não pode acreditar no que via, os dois conversaram um pouco e eu ajudei Adele a sair do carro, os rapazes se aproximaram e David falou " Foi um prazer conhecer a Senhora e você também cara... Espero te ver nos campos, você é muito jovem pra cair nessa de drogas... Quando eu tinha a sua idade sai de casa pra jogar bola. Não desiste do teu sonho, vou vir aqui pra jogar com você um dia, pegou meu telefone? É só marcar. " David abraçou o garoto que estava atônito de felicidade " Sua avó tem meu número também, e se eu ficar sabendo de alguma pisada de bola nosso trato ta anulado... Ela te ama muito, então cuida dela " o David falou " Pode deixar Seu David " Leroy resondeu " Essa sua namorada vale ouro meu filho... Ouro " Adele disse abraçando o David " Ouro não vó, diamante " ele falou beijando a testa dela, nos despedimos, eu coloquei minha bicicleta na parte de trás do carro de David e fomos embora " Que trato foi esse ? " eu perguntei " Eu vou investir na carreira dele, se ele andar na linha e me provar que é bom de bola " ele falou sorrindo. Eu morria de orgulho daquele grandão.