Capítulo: 9 - Deixe ir

417 23 4
                                    

Por Sam ...

"Desde caminhar até em casa, e falar um monte. Até assistir à shows com roupas formais com você. Desde toques nervosos e se embebedar. Até passar a noite em claro e acordar com você." É engraçado como coisas que nos pareciam desimportantes, agora fazem falta. Os momentos que você não deu valor. O sorriso dela enquanto se penteava na primeira manhã que acordei e a vi em meus braços. E agora ela nem permite que eu a abrace. "Desde jogar roupas pelo chão. A cerrar os dentes, levantar o punho, bater porta na sua cara. Eu costumava me reconhecer. É engraçado como os reflexos mudam, quando estamos nos tornando outra coisa." O olhar dela naquela noite me assombrou por anos. Talvez eu não estivesse pronto para dar o que ela precisava, talvez eu não quisesse estar preparado. Talvez eu tenha ficado deslumbrado com as inúmeras oportunidades que eu tinha. Ou talvez eu tenha, apenas, sido um babaca. São uma infinidade de possibilidades. Mas todas elas terminam com o choro dela ecoando em meus piores pesadelos. Mesmo que eu não a amasse, eu devia ter agido melhor. E hoje, por mais que eu tente muito, não há como fazer o tempo voltar atrás. Quisera saber a anos atrás o que sei hoje. Quisera ser naquela época o que sou hoje. Mas o tempo não volta. "Tentando encaixar sua mão dentro da minha, quando sabemos que ela já não pertence aqui. Tentando empurrar este problema pela colina acima. Mas é pesado demais para segurar. Tudo o que está quebrado, deixe que o vento carregue." Seu corpo longe do meu, seus lábios que, agora, me dizem palavras com as quais não sei lidar. Suas mãos que jamais voltaram a me acariciar. Seus olhos que, hoje, fogem dos meus. Essas são as consequências. De atitudes que  você pensou que não dariam em nada. Porque tudo o que te faz falta, você não deu valor antes? Estava ali. Esperando para ser amada de volta, para estar entregue. E agora só há o vazio de palavras não ditas. 

Na manhã seguinte Cait levantou da cama e caminhou até a sala sem olhar para o quarto de sua filha. Sam estava dormindo no sofá. A respiração leve e contínua, a boca semi aberta. Por um momento, quase um segundo, era como se nada houvesse mudado. Era tudo como antes. Ela queria que as coisas voltassem a ser como antes, mas como poderia se permitir tal coisa? A confiança fora partida de maneira irreparável. Talvez, um dia, ela fosse capaz de perdoar mas, ainda assim, não existia mais chances para que algo florescesse para eles. Ela limpou as lágrimas que teimaram em rolar e o chamou. Mesmo que não houvessem notícias de sua pequena, ela não precisava que ele estivesse ali. 

Cait: Você pode ir embora. (disse lhe entregando o casaco)

Sam: Já falou com a Sophie? 

Cait: Isso é uma piada? (atônita)

Sam: (a olhou sem entender muito bem) Não! Claro que não. Eu a coloquei na cama essa madrugada. Não quis te acordar porque ... (as lágrimas da moça voltaram e um belo sorriso se instalou em seu rosto. Ela correu pro quarto de sua menina e a viu, dormindo. Segura.)

Cait: (ainda com Sophie dormindo ela a abraçou. As horas que passara esperando por notícias foram angustiantes e agora ela estava ali. Voltou para a sala onde Sam a esperava) Obrigada. (se sentou no sofá e se aproximou dele) Muito obrigada. (o abraçou)

Será essa a chance de um perdão? No passado ele havia partido seu coração e agora, no presente, lutara para que ele retornasse a seu peito. Talvez se tudo tivesse terminado diferente ...
As coisas são como são e temos que aprender a melhor maneira de lidar com isso. Seja doloroso ou não. É algo que não temos o poder de mudar. E é, provavelmente por isso que teimamos tanto em fazê-lo. Queremos mudar o passado, nessa dolorosa ilusão de que podemos. Pra no fim, descobrirmos aos encontrões que somente o presente pode ser mudado. É no presente que vamos lutar pra que os mesmos erros não sejam cometidos, para que velhas feridas possam, enfim, encontrar a cura.

Sam: Talvez eu deva realmente voltar pra casa. Logo, logo Sophie vai acordar e aposto que ela deva ter inúmeras histórias pra contar. (se levantou com seu casaco na mão)

Cait: Espera! Acho que podemos colocar os pingos nos is de uma vez por todas. O seu gesto me mostrou que você ...

Sam: Caitriona, eu ... (apoiou-se na porta) Eu sei que o que eu fiz não tem perdão.

Cait: Sim, tem. (o pega de surpresa) Eu vivi anos tentando encontrar maneiras de te odiar e muitas vezes eu consegui. (desviou o olhar para o corredor que dava para o quarto de sua pequena filha) Mas, depois de hoje você ganha, ao menos, o benefício da dúvida. (ele sorriu) Talvez não seja o que você gostaria mas é o que posso te oferecer agora. No passado você partiu apenas o meu coração. (voltou a olhar pra ele) Hoje, há mais uma pessoa que devo cuidar. E eu jamais me perdoaria se me abrisse a alguém que a magoasse.

Sam: Eu entendo.

Cait: Que bom. Talvez a gente consiga ser amigos.

Sam: Talvez. Eu mudei. (sentou-se no sofá e segurou sua mão) Eu mudei na noite que te ouvi chorar através da porta. O seu choro me assombrou por anos, como fantasma do Natal passado. (ela o ouvia atenta. Essa era, de fato, a primeira vez que conversavam sobre o que tinha acontecido) Foi ali que eu, realmente, compreendi o que tinha feito. É como se eu estivesse dormente. Eu sei que um simples gesto não muda o que aconteceu mas eu ... Te ver tão triste pelo sumiço da Sophie foi como se enfiassem facas afiadas em meu peito.

Cait: (o abraçou novamente) Obrigada, Sam, por trazer de volta o meu coração. 

"Eu posso ser o que você precisa se me deixar tentar ..."

---------------------------❤️----------------------------

Oi, gente, tudo bem? Espero que gostem do capítulo. E já explico que a partir dele as coisas tomarão um novo rumo. Conversei com várias pessoas sobre traição, quebra de confiança e perdão. Essa fic é um pouco do resultado de tudo o que escutei e li. Boa leitura e até a próxima.

O trailer do meu suposto amorWhere stories live. Discover now