Com os olhos fechados, o som da maré há alguns metros, ele deixava com que a brisa lhe chegasse ao seu rosto. Sua mão sustentava o queixo enquanto apoiado no parapeito de madeira, e seus dedos livres tentavam arrancar a tinta branca da pintura.Um suspiro escapou de meus lábios, junto com o ar que soprou para esfriar a caneca de chocolate quente. Meu ombro doía por estar apoiado no batente da varanda, mas eu não iria deixá-lo sozinho.
Acabei por fechar os olhos, tentando sentir a tamanha calmaria que ele também sentia. O som do vento passou a encontrar as folhas dos coqueiros, soando como uma chuva de outono.
Eram nossas férias programadas, por que tudo parecia tão melancólico? Tão desconstruído?
Poderíamos estar no mar, brincando entre as ondas, apenas esperando a real chuva que estava para chegar, mas não. Ele parecia indisposto.
Com uma única expiração, meus olhos voltaram a se abrir, e os céus se encontravam mais nublados naquele litoral deserto. Percebi que ele olhava para mim, e eu evitei por alguns segundos antes de retribuir.
Quando percebi que ele não diria nada, apenas bebi meu chocolate quente. Sua atenção permaneceu em mim, e eu não soube dizer por quanto tempo, apenas que minha bebida havia acabado.
Umedeci os lábios, sabendo que aquele momento não seria nosso, e me pus a entrar na casa de praia.
—Hoseok.— Meus pés travaram no chão, e meus olhos se fixaram no fundo da caneca. – Ei... – Sua voz, tão angustiada quanto o bolo em minha garganta. – Hoseok? – Engoli em seco, só então olhando para si.
Ele estava de pé, apertando a madeira entre os dedos, voltado para mim.
Com a cabeça, ele me chamou de volta, e, cansado, eu deixei a caneca vazia em cima de uma das cômodas, voltando a me apoiar no batente da porta francesa.
Meu olhar, sem distração nenhuma, veio até o chão, sendo atraído pela paisagem assim que a chuva começou a cair, aos poucos.
E ele se aproximou.
Covarde, fechei os olhos para não sentir mais daquele peso ardente em minhas têmporas. A água apenas veio, assim como o seu abraço.
Ao mesmo tempo que a vontade de chorar crescia com a de, simplesmente, esquecer, eu encontrei o sol a nascer no horizonte do mar.
O sol a nascer.
—Me desculpe por ser tão calado.— Ele disse, me dando a breve oportunidade de sentir seus lábios gelados contra a pele do meu pescoço. – Sinto muito por dizer tanto faz tantas vezes. – Eu apenas assenti, cedendo ao pedido de retribuir o abraço. – Você é mais importante para mim do que um tanto faz, sabe disso, não é?
—Eu deveria saber?— Seus dedos apertaram minhas roupas numa repreensão, e eu apenas abaixei o rosto, me escondendo em si. – Diga.
—Você é a maior importância da minha vida.— E então eu me permiti sorrir, puxando-o para dentro com pequenos passos, calmos e cambaleantes.
Passos balançantes que, aos poucos, entraram numa dança, ao ritmo da chuva, ao ritmo da nossa música.
O acorde de seus dedos tocando minha pele, as notas dos murmúrios que saíam de sua garganta. Era tão suave, tão nosso, que nem ao menos sabíamos quem guiava a dança.
Seus dedos estavam entrelaçados aos meus, e seus olhos brilhavam naquela direção, vez ou outra mudando o rumo dos passos, sem motivos aparentes.
Ele dançava na ponta dos pés, tão leve, tão belo... Características simples de mais para definir sua tamanha complexidade.
Seu sorriso se abriu assim que nos separei, girando-o para capturá-lo em meus braços. O riso em seu rosto, suas costas coladas ao meu peito, nossas mãos unidas e os olhares perdidos na chuva do lado de fora.
—Olha para mim, Hoseok.— Sussurrou, e eu então encarei a lateral de seu rosto, logo seguindo a mesma direção de seus olhos.
Não fixos na paisagem, sorriam para o espelho, observando a nós dois.
—Promete algo para mim?— Perguntei, sorrindo com seu reflexo mais que perfeito. – Promete que não vai nos desfazer? Promete para mim que-...
—Prometo.— Respondeu de imediato, sem pressa. – Prometo fazer você feliz, mesmo que ao meu lado pareça impossível. – Olhei diretamente para sua pele, sorrindo assim que percebi o espaço que ele me deu ao inclinar o rosto.
Com o encosto de meus lábios em seu pescoço, o abracei como se fosse minha posse, algo que eu quisesse proteger. Seria a pior das minhas perdas não tê-lo ao meu lado.
Seria a pior das minhas perdas não poder escutar a música sair de sua garganta, não sentir o balançar de nossos corpos como um só.
Felizmente, naquele amanhecer, pude aproveitar de todos os instantes consigo. Desde o olhar perdido, aos beijos mais certos.
A guerra que acontecia em meu peito agora tinha encontrado a paz. O desespero de esperar pelo pior já não fazia parte de mim.
Apenas Taehyung.
Taehyung fazia parte de mim, e não importava quantas vezes o mundo girasse, quantas vezes outras guerras surgissem em mim, ele seria capaz de me trazer à luz.
Me traria conforto, me traria amor.
Com tantas coisas a contar um ao outro, esquecíamos de apenas amar.
Tanto fazia os problemas, tanto fazia os amargos, tanto fazia os desconfortos, tanto fazia relevar o tempo que nos faltava.
Tanto faz, tanto desfaz.
Esquecer já não era suficiente, precisávamos compartilhar. Sabíamos que guardar e engolir o tanto faz traria o desastre. O nosso desastre.
E da mesma forma que era o nosso desastre, era nossa música, era o nosso motivo para saber que estar junto é o certo. Estar junto era a nossa cura.
Tanto faz os pés descalços e areia entre os dedos, estar junto era a nossa cura.
Tanto faz o vento salgado do mar, o seu sorriso era capaz de recompor minhas energias e trazer de volta para mim a felicidade.
Mesmo que nossos pés molhassem, nossos tornozelos, nossos joelhos, não ficaríamos longe. Mesmo que a maré tentasse nos puxar, por mais fraca ou forte, seus lábios não de afastariam nos meus.
Nunca.
—Hoseok?— Me chamou, abraçado aos meus ombros, com alguns fios molhados, além das roupas encharcadas pelo mar, assim como eu. – É para sempre? – Perguntou, sem ao menos desviar o olhar, e eu franzi o cenho, visto que não tinha entendido. – Somos para sempre? Seremos?
—Para sempre...— Ele assentiu, me fazendo repetir o gesto. – Seremos para sempre, tanto faz quanto tempo dure o para sempre, que seja apenas...
—Sempre.
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tanto faz • taeseok
Fanfiction...e nesse jogo de tanto faz, foi que a gente se desfez, por quê?